Retirante às avessas,
Vinícius saiu do Sudeste
pro sol que arde o Nordeste.
Aos oitenta e tantos anos,
quanto mais vinho tinto
mais arte à matéria escrita,
digital ou mesma à tinta,
ao toque da tecla ou a caneta,
dos fatos que geram noticia,
aos crimes não perfeitos,
que alardeiam pela aldeia.
Saiu dos pampas
pra pisar campinas;
desceu serras gaúchas
pra rampa do cais das barrancas,
vendo o nível das águas
e dar notícia dos cílios depilados do rio Grande;
no balaio sem tampa da sina
ninguém sabe se amanhã se levanta
(o piá pegou o pingo sem saber do destino)
Será vício o próprio ofício
da notícia seca, sem verso?
ou a obra em prosa, não fictícia,
traz oculta um poema pelo avesso?
O mate, a cidreira,
o chá-das-quatro, de cadeiras,
da academia de letras de Barreiras.
Como a ceifeira pôde
rondar sua cabeceira,
depois que ele se tornou imortal?
Como pode seu silêncio agora
ao ruído de um dobrar de jornal?
As coxas agora sem bombacha;
sem chimarrão suas bochechas;
Quem nordestino lhe acha
na brecha que ele não deixa?
Deixou em suspense a própria manchete;
suspensório fora do dono
pendurado noutro ombro ou cabide
onde cabem camisas e ternos
que lembram a roupa do dono
ou cabem apenas vazios e abandonos.
Em suspense a própria notícia
do jornal que anuncia sua partida
Como pôde a ceifeira
ceifar a vida no Oeste quente
como a geada que queima
folhas de alface
na Jaguari de Azzolin Lena?
Sua face agora fria como alface
na geada do Hospital do Oeste;
fria, agora, a página do jornal
que ele nos nordestes.
Foi assim que Azzolin bateu asas:
como um passarim azulão
migrando dos pampas
pras campinas e rampas,
do Rio Grande do Sul para o cais
do rio Grande do Nordeste.
ZDA