22 ago de 2017
Brasil – Agricultura – Adoção de braquiária no Sistema Plantio Direto avança no país

Agricultura brasileira desafia transferência de tecnologia disponível no mercado

Mesmo sem números precisos sobre a adoção de braquiária como planta de cobertura no Sistema Plantio Direto, o ajuste tecnológico promovido pela pesquisa nacional vem consolidando a prática em diversas regiões do Brasil. Experimentos da Embrapa referendam a espécie como alternativa para garantir a rotação de culturas, em consórcio com milho e soja, aumentando a produtividade das lavouras. Com grande volume de raízes, a planta forrageira proporciona maior retenção de água, teor de carbono e quantidade de matéria orgânica no solo.

Pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Emerson Borghi relaciona o avanço dos estudos na área, principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste, à necessidade de melhorar o desempenho econômico e ambiental em cerca de 32 milhões de hectares cultivados em Plantio Direto no país.

“A inserção da braquiária no PD viabiliza a rotação de culturas, que é a base do SPD, e envolve o não revolvimento do solo, cobertura permanente e a rotação de culturas, essa sim uma grande dificuldade que se vê em muitas regiões do bioma Cerrado. Isso se deve a vários motivos, o primeiro é que muitas vezes, em virtude de balanço econômico, preço de milho safrinha, por exemplo, o produtor faz sucessão soja e milho safrinha.

 

Outra coisa é a baixa disponibilidade e o alto preço de sementes no mercado; o ano passado foi muito restritivo na produção de sementes devido à seca. Obtivemos relatos aqui na Embrapa de que sementes de braquiária ruzizienses chegaram a 30 reais o quilo. Porém, nos últimos cinco anos, tem se intensificado pesquisas com a forrageira, principalmente em Goiás, Mato Grosso e Oeste da Bahia. E a gente tem resultados que demonstram que num período de seis anos, o incremento de matéria orgânica chega a ser uma vez e meia maior com o uso da braquiária, do que numa área de sucessão soja-milheto, que ainda predomina nas lavouras.”, explica.

 

Ainda sobre os benefícios do uso da braquiária em relação à parte física do solo, além de aumentar a infiltração de água, Borghi salienta que o processo de decomposição do profundo sistema radicular da braquiária favorece a agregação de partículas do solo.

 

“Temos aqui um experimento que já se encontra no oitavo ano agrícola, que mostra que mesmo numa área onde há compactação advinda de um pé de grade, as raízes da braquiária são capazes de romper essa camada compactada e chegar a dois metros de profundidades. Consequentemente ao avaliar essas raízes mesmo no período mais seco do ano que é o mês de setembro essas raízes ainda se encontram vivas, o que implica dizer que mesmo sem chuva, como no Cerrado brasileiro, a braquiária tem um potencial de acumular massa com alta relação carbono nitrogênio e que vai se degradar ao longo do cultivo da soja do ano seguinte.”, revela.

 

Borghi também aborda outras performances comprovadas e muito promissoras das pesquisas conduzidas em outras regiões.

“Nos solos arenosos da região do arenito, no Norte do Paraná e Oeste de São Paulo, o incremento da braquiária aumenta a infiltração de água no solo e diminui a evaporação de água no ambiente. Isso é extremamente favorável para a soja que com maior conteúdo de água armazenada, resiste aos períodos longos de veranico. No Estado de São Paulo, resultados demonstraram que num sistema onde a braquiária é inserida após a colheita da soja há uma melhoria da fertilidade, principalmente, na saturação por bases, no teor de potássio, fósforo e de matéria orgânica, aumentando a produtividade com o mesmo aporte de nutrientes quando comparado a soja semeada sobre palha de milheto ou na ausência de palhada. Em Patos de Minas, substituímos um talhão de soja com baixa produtividade pelo cultivo de milho verão consorciado com braquiária ruzizienses. A braquiária cresceu a uma taxa de 40 quilos de matéria seca por hectare entre os meses de maio a novembro, então antes da dessecação pra soja essa área tinha aproximadamente 12 toneladas de matéria seca por hectare e a velocidade de decomposição dela ao longo do cultivo da soja ainda proporcionou um balanço positivo de palha de cinco toneladas de matéria seca por hectare após a colheita. Mesmo após a colheita da soja ainda havia palha proveniente da braquiária do ano anterior. Além da velocidade de decomposição mais lenta, a produtividade foi de 8 sacos por hectare superior à área onde não tinha palha de braquiária”, relata.

 

No entanto, de acordo com Emerson, ainda existem muitos desafios pela frente, para a incorporação da forrageira em larga escala. E mesmo com efetividade comprovada serão necessários investimentos em ajustes de manejo, regulagem de máquinas e mudança de paradigmas dos produtores, que em boa parte ainda consideram a braquiária apenas como pastagem.

 

“Um dos grandes desafios da pesquisa e da transferência de tecnologia é justamente a adaptação da braquiária para o sistema produtivo adotado nas regiões e disponibilizar essas informações, de tal maneira, que o produtor possa utilizá-la nas condições em que se encontra a tecnologia disponível. A dessecação que é o principal limitante e deve ser feita com antecedência de no mínimo 25 a 30 dias antes do cultivo da próxima safra. Isso porque justamente por ser uma planta forrageira com alta produção de matéria seca, o produto precisa ter um tempo para translocação na planta e promover a dessecação. Havia uma ideia de que a braquiária tinha problemas dom dessecação em virtude do seu porte que causava problemas no plantio como embuchamento de máquinas. Hoje o melhoramento forrageiro aliado a espécies que tenham hábito de crescimento diferentes daquelas destinadas a pastejo tem demonstrado que é possível utilizar a braquiária sem prejuízo na produtividade da cultura que vier na sequência. É preciso um ajuste do maquinário pra que o disco de corte promova o efetivo corte da palha e os mecanismos de distribuição de sementes e de fertilizantes que vierem na sequência possam depositar os insumos na profundidade indicada para a cultura. Essas estratégias de manejo são importantes, o produtor tem que ajustar isso, mas é plenamente possível de ser realizado”, finaliza.

 

Fonte: FEBRAPDP

 

 

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