02 abr de 2018
Brasil – Agricultura – Afunilamento do Oligopólio

Quando o mercado é dominado por poucos concorrentes denominamos o fenômeno de mercado oligopolizado. E quando esse referido oligopólio fica mais forte, restringindo ainda mais o espaço para os demais concorrentes, como devemos chamar?

Pois é justamente o que está ocorrendo com o mercado brasileiro de Defensivos Agrícolas, por sinal, um dos maiores do mundo. Sozinho, o mercado brasileiro representa 15% do mercado global desses produtos.

 

De 2015 a 2017 esse mercado girou em torno de US$ 9 bilhões/ano no Brasil. Nestes três anos nove empresas abocanharam 70% das vendas deste tipo de insumo para a agricultura brasileira, já grande e com possibilidades de crescer significativamente.

E se eu disser ao leitor, que essas 9 empresas serão apenas 5 em 2019? É isso mesmo, houve fusão entre DOW e DUPONT e agora a BAYER comprou a MONSANTO. A SYNGENTA e ADAMA, embora com estruturas separadas, representam uma só – a CHEMCHINA. Um pouco antes a FMC havia capturado a CHEMINOVA e mais recentemente adquiriu o quinhão definido pelo governo no processo Dow-DuPont. Portanto as empresas proprietárias de 70% do mercado brasileiro de produtos fitossanitários serão apenas BAYER, SYNGENTA/ADAMA, CORTEVA (DOW/DUPONT), BASF e FMC.

 

Digo proprietárias, não por deslize de linguagem, mas porque o domínio é realmente avassalador, tanto que os espaços para outras empresas devem ser chamados de frestas.

O capitalismo se apresenta como sistema da liberdade, oposto ao socialismo definido como autocrático. Porém, na prática é a liberdade de quem pode mais, de quem tem investimentos em bancos para emprestar benefícios aos clientes, de quem pode transacionar produtos agrícolas (e até comprá-los antecipadamente) em troca de seus insumos, de quem pode impor exclusividade (surdas, sem contratos) com distribuidores de uma região, de quem organiza viagens internacionais de intercâmbio técnico para seus principais clientes, de quem tem uma legião de vendedores e técnicos de campo à disposição das propriedades rurais.

 

Tudo dentro da maior legalidade. Estou apenas desenhando a realidade do nosso tempo. Uma sociedade desigual e sem qualquer expectativa de mudança nos rumos de organização mais humanitária.

Mas, deixando a filosofia de lado, voltemos à realidade massacrante do capitalismo. O poderio dessas empresas é tão extraordinário que conseguiram reverter a prevalência das vendas dos produtos genéricos e reanimaram os produtos chamados de especialidades (ainda sob patentes ou sem concorrência por outros motivos). Veja a tabela evolutiva, com dados levantados pelo SINDIVEG.

                                         ESPECIALIDADES X GENÉRICOS

Quantidade evalor de venda 2013 2014 2015 2016
Gener Espec Gener Espec Gener Espec Gener Espec
Ing. ativo(1.000 ton) 318,3889% 49,3911% 298,8685% 53,4515% 304,8577% 90,7923% 283,0575% 94,1225%
Receita(US$ bilhões) 6,32 5,13 5,96 6,28 3,69 5,91 3,86 5,70

Em valor por tonelada de produto as Especialidades sempre tiveram números bem superiores, justamente em virtude da falta de concorrência nesse segmento e a oportunidade de venda a preços bem mais altos e com margens mais compensadoras do ponto de vista negocial.

Mas em termos de quantidade vendida por ano os genéricos tinham alcançado um pico em 2013, em decorrência da ampliação de produtos genéricos como fruto do registro por equivalência adotado pelo governo na 1ª década do século atual, após um enorme esforço da instituição AENDA.

 

Aos poucos, entretanto os genéricos foram incorporados aos cardápios das grandes empresas, de tal forma que deram “um chega prá lá” nos concorrentes menores e passaram a ter a maior fatia disparada deste segmento também. Feito isso, passaram a administrar as vendas dos dois segmentos, capitalisticamente (agora já vale o deslize de linguagem).

Você, leitor, pode discordar e dizer que foi apenas obra do acaso, um acontecimento da natureza, neste caso o surgimento de pragas resistentes que obriga a um declínio do uso de determinados genéricos e um aceleramento da aplicação de produtos novos. E, como tal fato (ferrugem asiática da soja) se deu na maior cultura agrícola brasileira, os efeitos mercadológicos foram de grande monta. Ou que o contrabando é o vilão da história, retirando das estatísticas muitas toneladas de genéricos.

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Todavia, você não pode negar que o Comandante Supremo na história moderna dos humanos é o Deus-Dinheiro, e Ele está acima das casualidades. Não é maldade é concepção. Os lobos do Ocidente e os lobos do Oriente ficam exacerbados e na disputa querem mais. A concepção se transfigura em determinação, o que leva os cordeiros a passarem por mais dificuldades.

Não vamos esquecer, entretanto, a outra face da moeda. São as grandes empresas que mantêm centros de pesquisas para desenvolver novas moléculas, novas tecnologias (vide os organismos geneticamente modificados), inovações em manejo de pragas e difusão de tudo isso no meio rural, capacitando os agricultores para melhorarem suas produtividades, tirando mais produção do mesmo pedaço de terra.

Ou será que o Sistema Cooperativo pode criar um novo modelo, mais adequado socialmente?

Por ora, só podemos reclamar da longa fila de pedidos de produtos genéricos que o governo teima em dizer que não tem pessoal suficiente para examinar. Será? Um dossiê tão simples, precisa de tanta gente assim? Torçamos para que os lobos não estejam metidos nessa estória.

Autor: Eng. Agr. Tulio Teixeira de Oliveira – Diretor Executivo da AENDAwww.aenda.org.br / aenda@aenda.org.br

 

Fonte: Mais Soja

 

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