02 jan de 2018
Brasil – Agricultura – Efeito do glifosato no desempenho e nodulação da soja transgênica

O objetivo do presente trabalho obteve-se na avaliação do efeito do glifosato no desempenho e nodulação da soja RR sob uso de inoculantes liquido e turfoso

Autores: Devanei da Silva Nascimento(1); Naendra Silva Soares(1); Cintia Nayara Nascimento dos Santos Santiago(1); Luan Coelho Silva(1); Dariele Ribeiro dos Santos Cândido(1); Flávia Fernandes Ribeiro de Miranda(2)

Trabalho publicado nos Anais do evento e divulgado com a autorização dos autores.

RESUMO

No Brasil, a soja chegou à Bahia em 1882 e foi levada para São Paulo em 1892, logo em seguida na década de 1980 introduzida na região dos Cerrados expandindo seu território tornando a cultura de maior área cultivada no país. Cultura essa bastante exigente em nitrogênio.

 

Rhizobium spp. e o Bradyrhizobium spp., coletivamente conhecidos como rizóbios, são bactérias gram-negativas, fixadoras de azoto, que ao infestarem as raízes das plantas hospedeiras (sempre leguminosas) formam nódulos conhecidos também como tumefações. O objetivo do presente trabalho obteve-se na avaliação do efeito do glifosato no desempenho e nodulação da soja RR sob uso de inoculantes liquido e turfoso. O experimento foi conduzido na casa de vegetação da Católica do Tocantins, Campus de Ciências Agrárias e Ambientais em Palmas – TO.

O delineamento experimental utilizado foi em blocos inteiramente casualizados do tipo fatorial, sendo 5 doses de glifosato 0; 2,5; 5; 7,5 e 10 ml /L-1 e dois inoculantes um de aspecto líquido e outro turfoso. As aplicações das dosagens de glifosato foram realizadas nos estádios V2, V4 e V5 da cultura. Para todas as doses de glifosato a nodulação apresentou medias superiores utilizando o inoculante turfoso. No peso fresco de raiz o produto de mesmo aspecto apresentou melhores médias nas maiores doses de glifosato.

 

Termos de indexação: RhizobiumBradyrhizobiumnódulos.

 

INTRODUÇÃO

 

A soja (Glycine max (L.) Merrill) tem como centro de origem a costa leste da Ásia, principalmente a China, ao longo do rio Yang-Tsé (Neves, 2011). No Brasil, chegou à Bahia em 1882 e levada para São Paulo em 1892, logo em seguida na década de 1980 foi introduzida na região dos Cerrados expandindo seu território tornando a cultura de maior área cultivada no país (Costa, 1996). Essa cultura é bastante exigente em nitrogênio e potássio, seguindo-se o fósforo, enxofre, cálcio e magnésio.

 

Rhizobium spp.e o Bradyrhizobium spp., coletivamente conhecidos como rizóbios, são bactérias gram-negativas, com estrutura regular e oval, fixadoras de azoto, que ao infestam as raízes das plantas hospedeiras formam nódulos conhecidos também como tumefações. Estas bactérias mantêm relações simbióticas com plantas leguminosas (Miliarium, 2004 & Denardin, 2007). As bactérias do gênero Rhizobium exercem importante função no ciclo do nitrogênio convertendo o nitrogênio presente na atmosfera diretamente em nitratos, forma absorvida pela planta.

 

A primeira cultivar de soja transgênica foi registrada pela multinacional Monsanto®, nos Estados Unidos, durante a década de 80 e foi também primeiro comercializada neste país em 1996 (Antoniou et al., 2010). A linhagem GTS 40-30-2, mais conhecida como RoundupReady®, ou soja RR, foi desenvolvida pela empresa para ser tolerante ao herbicida Roundup®, visando permitir seu uso no controle de plantas daninhas na produção de soja. A mesma é a primeira planta transgênica a ser aprovada para alimentação humana e animal para ser cultivado no Brasil. Ela é um Organismo Geneticamente Modificado – OGM, na qual foi inserido um gene da bactéria Agrobacterium sp., que torna tolerante ao glifosato.

 

Pesquisas realizadas visando a elucidar o efeito do cultivo da soja GMRR e do controle de plantas daninhas com aplicação de glifosato sobre a microbiota de solos têm gerado informações variáveis em função do tipo de solo e das condições de manejo. Assim, por exemplo, verificou-se que a aplicação desse herbicida pode estimular (Haney et al., 2000) ou inibir (Busse et al., 2001) o processo de mineralização de compostos orgânicos no solo. No segundo caso, os efeitos tóxicos do glifosato sobre microrganismos do solo provavelmente se devem à ação dessa molécula sobre a enzima EPSPS de microrganismos (Busse et al., 2001). Há relatos de efeitos inibitórios sobre microrganismos em meio de cultura havendo também casos de estímulo ao crescimento microbiano heterotrófico (Roslycky, 1982). Para bactérias fixadoras de nitrogênio em vida livre, os efeitos do glifosato variam muito em função das espécies estudadas (Haahtela et al., 1988; Santos & Flores, 1995).

 

Diante do exposto o presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de doses do glifosato no desempenho e nodulação da soja transgênica sob uso de inoculantes líquido e turfoso.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

O experimento foi conduzido na casa de vegetação da Católica do Tocantins, Campus de Ciências Agrárias e Ambientais em Palmas – TO, localizando-se na Rodovia TO 050, Loteamento Coqueirinho, Lote 7. Com coordenadas geográficas “48º16’34” W e 10º32’45” S em altitude de 230 m.

O delineamento experimental utilizado foi em blocos inteiramente casualizados do tipo fatorial, sendo 5 doses de glifosato 0 ; 2,5; 5; 7,5 e 10 ml /L-1 , 2 inoculantes comerciais do tipo liquido e turfoso com 5 repetições. As estirpes contidas em ambos os inoculantes foi a SEMIA 5079 e SEMIA 5080. A cultivar plantada foi a 98Y30 da Pionner® cultivar precoce, com ciclo vegetativo em media de 100 a 110 dias e crescimento determinado. O plantio foi feito em vasos de capacidade para oito litros, utilizando uma mistura de 1:1 (solo + substrato comercial) e a adubação realizada de acordo com as recomendações para cultura soja.

 

O inoculante líquido e turfoso todos Bradyrzobium japonicum, foram preparados de acordo com as recomendações descritas na embalagem do produto, 100 ml para 50 kg de sementes para o liquido e 300g do turfoso para cada 250 kg de sementes respectivamente.

As aplicações das dosagens de glifosato (RoundupReady®) foram realizadas nos estádios V2, V4 e V5 da cultura, com o auxilio de um borrifador manual. A avaliação foi realizada no estádio R1, onde: a medição da altura da planta deu se através de uma fita métrica, a clorofila com o auxilio de um clorofilômetro marca falker, referencia CFL-1030 sempre no trifólio da planta, o número de nódulos contados individualmente por planta e o peso fresco da parte área e da raiz dado através de uma balança de precisão.

 

Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste F, e as médias comparadas pelo teste Tukey a 1% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados das análises de variância para nodulação, peso fresco da raiz e peso fresco da parte aérea, estão dispostos na tabela 1.

Tabela 1. Resumo da análise de variância para nodulação (NOD), peso fresco da raiz (PFR) e peso fresco da parte aérea (PFPA) obtidos sob doses de glifosato e diferentes inoculantes.

De acordo com a análise de variância, disposta na tabela 1, observou que os inoculantes, as doses do glifosato e a interação entre eles foi significativo à 1% de probabilidade. Com relação ao peso fresco da raiz, observou que os inoculantes, as doses de glifosato e a interação entres eles foram significativo à 1% e a 5% de probabilidade respectivamente de acordo com a analise de variância. Já o peso fresco da parte aérea, segundo a analise, os diferentes inoculantes, as doses do glifosato e a interação entre os fatores foi significativo à 1% de probabilidade.

As médias obtidas a partir da nodulação da soja sob doses de glifosato e diferentes tipos de inoculantes estão expressas na tabela 2.

Tabela 2 – Resultados médios obtidos a partir da avaliação da nodulação da cultura da soja sob doses de glifosato e diferentes inoculantes.

De acordo com os resultados (tabela 2), em todas as doses de glifosato o inoculante turfoso apresentou melhores médias em relação ao liquido. O número de nódulos apresentou redução linear à medida que aumentou as doses de glifosato. A redução da massa dos nódulos pode ter sido causada, de forma indireta, pelo efeito fitotóxico do herbicida, acarretando menor produção e menor quantidade de fotoassimilados translocados e alocados aos nódulos, pois o fornecimento de fotoassimilados é essencial à formação e à manutenção da atividade da enzima nitrogenase presente nos nódulos (Arruda et al., 2001) e, de forma direta, por esses microrganismos (Bradyrhizobium sp.) sofrerem a influência do glifosato, devido à falta de EPSPS resistentes, reduzindo o número de nódulos por planta e, consequentemente, a massa seca desses nódulos (King et al., 2001).

 

Segundo Moorman et al. (1992), apud De Maria et al. (2006), as bactérias B. japonicum possuem uma síntese de EPSPS sensível ao glifosato e podem acumular ácidos chiquímico, hidroxibenzóico e protocatecuico (PCA). Após a exposição ao glifosato, pode inibir o crescimento e induzir a morte das bactérias em concentrações elevadas. Já Reddy e Zablotowicz (2003) falam que o glifosato também pode ser translocada para importantes vias metabólicas, incluindo os nódulos radiculares o que pode inibir o desenvolvimento dos nódulos. O inoculante turfoso apresentou se estatisticamente superior ao liquido para todas as doses de glifosato. Resultados divergentes foram encontrados por Albareda et al. (2008) onde observou que os líquidos podem prover nodulação e produtividade semelhantes aos proporcionados pelos inoculantes turfosos sob uso de glifosato.

 

As médias da tabela 3 expressam que o inoculante turfoso, obteve melhores resultados para as maiores doses de glifosato, já o liquido apresentou médias superiores apenas nas doses 0 e 2,5 ml/L -1, no entanto não se diferiu estatisticamente do turfoso, quando se compara o peso fresco da raiz.

Tabela 3 – Resultados médios obtidos a partir da avaliação do peso fresco da raiz da cultura da soja sob diferentes doses de glifosato.

O peso fresco das raízes apresentou redução linear à medida que aumentou as doses de glifosato. Estudos feitos por Zablotowicz e Reddy (2007) observaram redução da biomassa de raízes de soja RR com aplicação de dose de glifosato entre 20-25% quando comparadas ao controle. Outros autores também obtiveram resultados negativos, com diferentes doses de glifosato (Reddy et al., 2000; King et al., 2001), promovendo reduções na massa seca de raízes. Zobiole et al. (2010), trabalhando com aplicação de glifosato em diferentes estádios de desenvolvimento em soja RR, observaram que a aplicação antecipada (V2), foi mais afetada do que aplicações tardias (V4 e V6), havendo diminuição da massa seca de raiz.

 

Em relação ao peso fresco das raízes das plantas de soja, comparando os dois inoculantes utilizados, foi observado que as doses 0 e 2,5 ml/L-1 em ambos os tratamentos foram iguais estatisticamente, diferenciando se a partir da dose 5ml/L-1 onde o inoculante turfoso proporcionou média superior ao liquido.

Na tabela 4, as médias expressam que o inoculante liquido apresentou melhores médias nas dosagens 0 e 2,5 ml/L-1, a partir destas o inoculante turfoso foi superior em relação ao peso fresco da parte área da planta.

Tabela 4 – Resultados médios obtidos a partir da avaliação do peso fresco da parte aérea da cultura da soja sob diferentes doses de glifosato.

Para Reddy et al. (2004), o sintoma “yellow flashing” indesejável na soja RR é atribuído ao acúmulo de AMPA (ácido aminometilfosfônico), primeiro metabólito fitotóxico do glyphosate, o qual é um dos responsáveis pela diminuição da biomassa seca da parte aérea e raiz e do teor de clorofila (Reddy et al., 2000; King et al., 2001; Zablotowicz & Reddy, 2004). Em trabalhos anteriores (Zobiole et al., 2010) ficou demonstrado que cultivares precoces foram mais suscetíveis à aplicação do glyphosate, com significativa redução no teor de clorofila, taxa fotossintética, concentração de nutrientes e biomassa seca da parte aérea e da raiz.

 

Em relação ao peso fresco da parte aérea das plantas de soja, comparando os dois inoculantes utilizados, observou que as doses 0 e 2,5 ml/L-1 foi estatisticamente melhor no liquido, as doses 5 e 7,5 ml/L-1 foram iguais em ambos os tratamentos, já a dose 10 ml/L foi significativo para o inoculante turfoso.

CONCLUSÕES

Para todas as doses de glifosato o inoculante turfoso apresentou melhores médias em relação ao liquido no quesito nodulação. O inoculante turfoso obteve melhores resultados nas maiores doses de glifosato.

REFERÊNCIAS

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Informações dos autores:      

(1) Discentes do Curso de Agronomia da Católica do Tocantins. Palmas, Tocantins;

(2) Docente do Curso de Agronomia da Católica do Tocantins. Palmas, Tocantins.

Disponível em: Anais do XXX CONGRESSO BRASILEIRO DE AGRONOMIA, Fortaleza – CE, Brasil,2017.

 

Fonte: Mais Soja

 

 

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