04 dez de 2020
Brasil – Agricultura – Eficiência de fungicidas para o controle da ferrugem-asiática da soja, Phakopsora pachyrhizi, na safra 2018/19: resultados sumarizados dos ensaios cooperativos

A ferrugem-asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é uma das doenças mais severas que incide na cultura da soja, com danos variando de 10% a 90% nas diversas regiões geográficas onde foi relatada (Yorinori et al., 2005; Hartman et al., 2015).

Os sintomas iniciais da doença são pequenas lesões foliares, de coloração castanha a marrom-escura. Na face inferior da folha, pode-se observar urédias que se rompem e liberam os uredósporos. Plantas severamente infectadas apresentam desfolha precoce, que compromete a formação, o enchimento de vagens e o peso final do grão.

As estratégias de manejo recomendadas no Brasil para essa doença incluem: a ausência da semeadura de soja e a eliminação de plantas voluntárias de soja na entressafra por meio do vazio sanitário para redução do inóculo do fungo, a utilização de cultivares de ciclo precoce e semeaduras no início da época recomendada como estratégia de escape da doença, a semeadura de cultivares com genes de resistência, o monitoramento da lavoura desde o início de desenvolvimento das lavouras, a utilização de fungicidas preventivamente ou no aparecimento dos sintomas e a redução do período de semeadura para reduzir o número de aplicações de fungicidas ao longo da safra e com isso tentar atrasar a seleção de populações do fungo resistentes/menos sensíveis aos fungicidas (Tecnologias…, 2013).

A resistência/menor sensibilidade do fungo P. pachyrhizi a fungicidas do grupo dos inibidores da desmetilação (IDM), inibidores da quinona externa (IQe) e inibidores da succinato desidrogenase (ISDH) já foi relatada no Brasil (Schmitz et al., 2014; Klosowski et al., 2016; Simões et al., 2018), sendo esses os três principais grupos sítio-específicos que
compõem todos os fungicidas registrados em uso para o controle da doença.

Desde a safra 2003/04, experimentos coorporativos em rede vêm sendo realizados para a comparação da eficiência de fungicidas registrados e em fase de registro. Nos experimentos cooperativos os fungicidas são avaliados individualmente, em aplicações sequenciais, para determinar a eficiência de controle. Essas informações devem ser utilizadas na determinação de programas de controle, priorizando sempre a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação e adequando os programas à época de semeadura.

Aplicações sequenciais e de forma curativa devem ser evitadas para diminuir a pressão de seleção de resistência do fungo aos fungicidas. O objetivo desta publicação é apresentar os resultados sumarizados dos ensaios cooperativos, realizados na safra 2018/19, para o controle da ferrugem-asiática da soja.

Material e Métodos

Com o objetivo de avaliar a eficiência dos fungicidas registrados para o controle da ferrugem-asiática da soja e das novas misturas que estão em fase final de avaliação para registro, foram realizados dois experimentos nas principais regiões produtoras, na safra 2018/19, por 21 instituições (Tabela 1).

No primeiro experimento foram analisados os fungicidas registrados (Tabela 2) e no segundo, fungicidas em fase de registro, comparado a três fungicidas registrados (Tabela 3). O delineamento experimental e as avaliações foram definidos com protocolo único, para a realização da sumarização conjunta dos resultados dos experimentos.

Os protocolos foram elaborados de forma que permitissem a comparação dos produtos, numa mesma situação. Não foram avaliados o efeito do momento da aplicação e o residual dos diferentes produtos.

Os experimentos para ferrugem-asiática são realizados em semeaduras tardias, novembro e dezembro, para evitar o escape da doença que ocorre nas semeaduras iniciais. O delineamento experimental foi blocos ao acaso com quatro ou cinco repetições. Cada repetição foi constituída de parcelas com, no mínimo, seis linhas de cinco metros.

As aplicações iniciaram-se 45-50 dias após a emergência, no pré-fechamento das linhas de semeadura. A calendarização das aplicações não é uma recomendação de controle. Ela é realizada nos experimentos em rede para reduzir as causas de variação.

Os fungicidas avaliados pertencem aos grupos: metil benzimidazol carbamato (carbendazim), inibidores da desmetilação (IDM – tebuconazol, ciproconazol, protioconazol, epoxiconazol, difenoconazol e tetraconazol); inibidores da quinona externa (IQe – azoxistrobina, trifloxistrobina, picoxistrobina, metominostrobina, piraclostrobina e cresoxim-metílico), inibidores da succinato desidrogenase (ISDH – fluxapiroxade, bixafen, benzovindiflupir, fluindapir e impirfluxam), ditiocarbamato (mancozebe), cloronitrila (clorotalonil) e inorgânico (oxicloreto de cobre).

Para os fungicidas registrados (Tabela 2), foram avaliadas misturas de IDM e cloronitrila (T2), IQe e IDM (T3 a T7 e T9), mistura de IQe, IDM e MBC (T8), mistura de IQe e ISDH (T10), misturas de IDM, IQe e ISDH (T11 e T13) e mistura de IQe, IDM e ditiocarbamato (T12 e T14).

Os novos fungicidas em fase de registro (Tabela 3) são formados por misturas de IQe e cloronitrila (T5), IDM e ISDH (T6, T7, T9, T10, T11, T12 e T13), ISDH e inorgânico (T8) e IQe + IDM (T14). No experimento com fungicidas registrados (Tabela 2), dos 31 experimentos realizados, em 24 foram realizadas quatro aplicações e em sete, três.

O intervalo entre a semeadura e a primeira aplicação foi de 50 dias (± 5,5 dias), entre a primeira e a segunda aplicação foi de 15 dias (± 1,2 dias), entre a segunda e a terceira aplicação foi de 15 dias (± 1 dia) e entre a terceira e a quarta aplicação foi de 14 dias (± 2,4 dias).

No experimento com fungicidas em fase de registro (Tabela 3) não foram realizados experimentos nos locais 22, 24, 27, 28, 29 e 31 (Tabela 1), sendo realizado um total de 25
experimentos nas diferentes regiões. Em 19 dos 25 experimentos foram realizadas quatro aplicações de fungicidas e em seis, três. O intervalo entre a semeadura e a primeira aplicação foi de 51 dias (± 6 dias), entre a primeira e a segunda aplicação foi de 15 dias.

(± 1 dia), entre a segunda e a terceira aplicação foi de 14 dias (± 1 dia) e entre a terceira e a quarta aplicação foi de 15 dias (± 3 dias). Para a aplicação dos produtos foi utilizado pulverizador costal pressurizado com CO2 e volume de aplicação mínimo de 120 L ha-1.

Foram realizadas avaliações da severidade e/ou incidência da ferrugem no momento da aplicação dos produtos; da severidade da ferrugem, periodicamente, após a última aplicação; da severidade de outras doenças; da desfolha quando a testemunha apresentou ao redor de 80% de desfolha; da produtividade em área mínima de 5 m2 centrais de cada parcela.

Para a análise conjunta, foram utilizadas as avaliações da severidade da ferrugem, realizadas entre os estádios fenológicos R5 (início de enchimento de grãos) e R6 (vagens com 100% de granação) e da produtividade.

Foram realizadas análises de variância exploratória para cada local. Além das análises exploratórias individuais, a severidade final, a correlação entre a severidade da ferrugem próximo ao estádio R6, a produtividade e a diferenciação entre os tratamentos nas análises
individuais foram utilizadas na seleção dos ensaios que compuseram as análises conjuntas.

As análises conjuntas de severidade e de produtividade foram realizadas utilizando-se técnicas de modelos lineares generalizados mistos, os quais permitem a adoção de distribuições não-normais e a acomodação dos efeitos das interações entre locais e tratamentos por meio de alterações na estrutura da matriz de variâncias e covariâncias.

Para identificar todos os tratamentos com prováveis efeitos semelhantes, foi utilizado o teste de comparações múltiplas de Tukey (p ≤ 0,05). Todos os modelos investigados foram obtidos usando-se o procedimento glimmix, em rotinas implementadas no sistema SAS/STAT® software, Versão 9.4.Copyright© 2016 SAS Institute Inc.

Resultados e Discussão

Fungicidas Registrados

No momento da primeira aplicação dos produtos,dentre os 31 experimentos, não havia sintomas de ferrugem em 27. Os experimentos dos locais 4, 5, 6, 7, 9, 10, 16, 17, 19, 24, 26 e 31 (Tabela 1) foram eliminados da análise conjunta em razão da baixa severidade ou da realização da primeira aplicação com sintomas de ferrugem-asiática ou da ausência de algum tratamento ou por apresentarem resultados discordantes da maioria dos experimentos.

Todos os tratamentos apresentaram severidade estatisticamente inferior à testemunha sem
fungicida (T1) (Tabela 4). A porcentagem de controle dos fungicidas registrados variou de
50% a 79%. As menores severidades e maiores porcentagens de controle foram observadas para os tratamentos com Cronnos (T14 – 79%) seguido de Fox Xpro (T13 – 76%).

As menores eficiências de controle foram observadas para os tratamentos com Locker (T8 – 50%), Aproach Prima (T3 – 51%) e Nativo (T5 – 52%). As maiores produtividades foram observadas para os tratamentos com Cronnos (T14 – 3471 kg ha1 ) e Fox Xpro (T13 – 3485 kg ha1), seguido de Fox (T9 – 3204 kg ha1), Triziman (T12 – 3233 kg ha1 ), Vessarya (T10 – 3220 kg ha1) e Ativum (T11 – 3246 kg ha1 ) (Tabela 4). A produtividade dos tratamentos com Fusão (T6 – 2934 kg ha1), Sphere Max (T4 – 2872 kg ha1 ), Nativo (T5 – 2874 kg ha1), Aproach Prima (T3 – 2861 kg ha1 ) e Locker (T8 – 2873 kg ha1 ) foram semelhantes e superiores a testemunha sem fungicida. A redução de produtividade do tratamento sem fungicida (T1 – 2115 kg ha1 ) em relação ao tratamento com a maior produtividade (T13)
foi de 39%. A correlação entre as variáveis severidade e produtividade foi de r=-0,97.

Fungicidas em fase de registro No momento da primeira aplicação dos produtos, os 25 experimentos, não havia sintomas de ferrugem em 22. Os experimentos dos locais 6, 9, 10, 16, 17, 19 e 26 (Tabela 1) foram eliminados da análise conjunta em razão da baixa severidade ou da realização da primeira aplicação com sintomas de ferrugem-asiática ou da ausência de algum tratamento ou por apresentarem resultados discordantes da maioria dos experimentos.

Todos os tratamentos apresentaram severidade estatisticamente inferior à testemunha sem
fungicida (T1) (Tabela 5). A porcentagem de controle dos produtos em fase de registro variou de 50% a 80%. As menores severidades e maiores porcentagens de controle foram
observadas para os tratamentos com impirfluxam + tebuconazol (T7 – 80%) e protioconazol + impirfluxam (T6 – 79%) seguido do tratamento benzovindiflupir + ciproconazol + difenoconazol (T10 – 76%). A menor eficiência de controle foi observada para o tratamento com azoxistrobina + clorotalonil (T5 – 50%).

As maiores produtividades foram observadas para os tratamentos com impirfluxam + tebuconazol (T7 – 3679 kg ha1), protioconazol +impirfluxam (T6 – 3597 kg ha1) e benzovindiflupir + ciproconazol + difenoconazol (T10 – 3534 kg ha1).

A menor produtividade foi observada para o tratamento com azoxistrobina + clorotalonil (T5 – 2980 kg ha1 ), sendo superior a testemunha sem fungicida. A redução de produtividade do tratamento sem fungicida (T1 – 2270 kg ha1 ) em relação ao tratamento com a maior produtividade (T7) foi de 38%.

A correlação entre as variáveis severidade e produtividade foi de r=-0,98. O protocolo dos experimentos cooperativos determina aplicações sequenciais para comparação dos fungicidas, não sendo uma recomendação de controle. Para o manejo da doença devem ser seguidas as estratégias antirresistência que incluem não utilizar mais que duas aplicações sequenciais do mesmo produto e no máximo duas aplicações de produtos contendo carboxamida por cultivo.

A maioria dos experimentos foi instalada em soja semeada a partir de novembro para maior probabilidade do aparecimento da doença em razão da multiplicação do fungo nas primeiras semeaduras.

Semear no início da época recomendada é uma das estratégias de manejo da ferrugem para escapar do período de maior quantidade de inóculo do fungo no ambiente. Os fungicidas representam uma das ferramentas de manejo, devendo também ser adotadas as
demais estratégias para o controle eficiente da ferrugem-asiática.

Referências
HARTMAN, G.L.; SIKORA, E.J.; RUPE, J.C. Rust. In: HARTMAN, G.L.; RUPE, J.C.; SIKORA, E.J.; DOMIER, L.L.; DAVIS, J.A.; STEFFEY, K.L. (Ed.). Compendium of soybean diseases and pests. 5. ed. Saint Paul: APS Press, 2015. p. 56-59.

KLOSOWSKI, A.C.; MAY DE MIO, L.L.; MIESSNER, S.; RODRIGUES, R.; STAMMLER, G. Detection of the F129L mutation in the cytochrome b gene in Phakopsora pachyrhizi. Pest Management Science, v. 72, p. 1211–1215, 2016.

SCHMITZ, H.K.; MEDEIROS, A.C.; CRAIG, I.R.; STAMMLER, G. Sensitivity of Phakopsora pachyrhizi towards quinone-outside-inhibitors and demethylationinhibitors, and corresponding resistance mechanisms. Pest Management Science, v. 7, p. 378-88, 2014.

SIMÕES, K.; HAWLIK, A.; REHFUS, A.; GAVA, F.; STAMMLER, G. First detection of a SDH variant with reduced SDHI sensitivity in Phakopsora pachyrhizi. Journal of Plant Diseases and Protection, v. 125, p. 21-26, 2018.

TECNOLOGIAS de produção de soja – Região Central do Brasil 2014. Londrina: Embrapa Soja, 2013. 265 p. (Embrapa Soja. Sistemas de Produção, 16).

YORINORI, J.T.; PAIVA, W.M.; FREDERICK, R.D.; COSTAMILAN, L.M.; BERTAGNOLLI, P.F.; HARTMAN, G.L.; GODOY, C.V.; NUNES JUNIOR, J. Epidemics of soybean rust (Phakopsora pachyrhizi) in Brazil and Paraguay. Plant Disease, v. 89, p. 675-677, 2005.

Fonte: Embrapa, CIRCULAR TÉCNICA 148, Londrina, PR – Julho, 2019.

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