28 jun de 2018
Brasil – Agricultura – Estratégias de manejo do nitrogênio na cultura do milho em sucessão a plantas de cobertura

O objetivo do trabalho foi avaliar a resposta em produtividade da cultura do milho cultivado em sucessão à plantas de cobertura e com uso de cama de aves como fonte orgânica de nitrogênio frente à adubação mineral

Autores: Anderson Werner(1); Jardel Pellegrin(2); Antonio David Bortoluzzi Silva(3); Claudir José Basso(4); Eduardo Pelegrini Bellé(5); Lucas Gaviraghi(6)

Trabalho publicado nos Anais do evento e divulgado com a autorização dos autores.

INTRODUÇÃO

Na região Norte do RS é muito comum que produtores deixem as áreas de produção em pousio durante as entressafras, sendo que em certos casos, todo período invernal se encontra dessa maneira. Segundo Andrioli et al. (2008), tais atitudes resultam em consequências graves para o solo e todo sistema produtivo, pois sem a presença de plantas, o solo se encontra muito desprotegido e frágil, estando suscetível aos processos erosivos, que ao agir causam grande degradação e perda de nutrientes.

 

Para atenuar os efeitos dos processos erosivos, é crucial o uso de plantas de cobertura durante as entressafras, pois além de protegerem o solo, de acordo com Cunha et al. (2011), elas proporcionam benefícios como maior capacidade de troca de cátions, menor acidez, aumento do fósforo disponível pela ação combinada de micorrizas e exsudatos das raízes, complexação orgânica do alumínio e manganês tóxicos no solo, ciclagem de nutrientes e disponibilização de micronutrientes, promovendo aumento e estabilidade da produção ao longo dos anos.

Como meio de potencializar os benefícios proporcionados pelas plantas de cobertura, existe a possibilidade do uso de adubação orgânica, que além de ser fonte de nutrientes, contribui para maior aporte de matéria orgânica ao solo. De acordo com Oliveira et al. (2015) e Bonela et al. (2017), a adubação orgânica contribui para o aumento da CTC (capacidade de troca de cátions) do solo, regula a temperatura, além de estimular a atividade microbiana.

 

Diante dessa preocupação com a preservação do solo e da busca por novos patamares produtivos, o objetivo desse trabalho foi avaliar a resposta em produtividade da cultura do milho cultivado em sucessão à plantas de cobertura e com uso de cama de aves como fonte orgânica de nitrogênio frente à adubação mineral.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em uma área experimental da Universidade Federal de Santa
Maria Campus Frederico Westphalen, município de Frederico Westphalen. A área está localizada aproximadamente entre 27°23’51” de Latitude Sul e 53°35’19” de Longitude Oeste, com altitude de 484 metros, pluviosidade média anual de 1881 milímetros e temperatura média de 19,2 °C, com variações entre a média do mês de maior e de menor temperatura de 9,4 °C. O clima da região, segundo classificação de Köppen e Geiger, é subtropical úmido de verão quente, do tipo fundamental Cfa, predominante no Sul do Brasil. O solo do local experimental é classificado como Latossolo Vermelho Distroférrico.

 

A área experimental não vinha sendo utilizada regularmente sob plantio direto, encontrando-se abandonada no ano anterior ao experimento. Antes da implantação, foi realizada uma análise química do solo de 0 a 10 cm e 10 a 20 cm, conforme apresentado na Tabela 1. Devido aos teores de fósforo no solo estarem muito baixo, foi corrigido a área de forma homogenia com superfosfato triplo no momento da implantação.

Tabela 1. Análise do solo da área experimental, profundidades de 0 a 10 cm e 10 a 20 cm.

O delineamento experimental adotado foi de parcelas subdivididas, com 4 parcelas, 4 subparcelas e 3 repetições. Nas parcelas, foram alocadas plantas de cobertura outono/inverno (aveia preta, nabo forrageiro, consórcio aveia preta + nabo forrageiro e pousio) e nas subparcelas manejos de Nitrogênio (N) no cultivo do milho (100% via cama de aves (CA), 100% adubação mineral (AM), 50% cama de aves + 50% adubação mineral e a testemunha). A fonte de N mineral usada foi ureia com concentração de 45% N. O consórcio de aveia preta + nabo forrageiro foi nas proporções de 40% e 60%, respectivamente, tomando como base agricultores da região. As dimensões da parcela principal foram de 20 m de comprimento por 3 m de largura, totalizando 60 m² e das subparcelas de 5 m por 3 m, o equivalente a 15 m².

 

Na fase inicial do experimento, no dia 05 de maio de 2016, foram implantadas as plantas de coberturas. No período de florescimento, foram coletadas 4 amostras de 1 m² de cada espécie de cobertura para determinação de massa seca e estimativa de produção de fitomassa por hectare. Posteriormente, em 23 de agosto de 2016, as mesmas foram dessecadas para semeadura subsequente do cultivo de milho, em 16 de setembro de 2016.

 

Logo após a semeadura do milho procedeu-se a aplicação dos tratamentos, sendo a CA aplicada em ua totalidade na base e nas parcelas que continham adubação mineral, 30 kg foram aplicados na base e o restante em cobertura no estágio V5. Para determinação de doses de CA, ureia e demais fertilizantes, seguiu-se a necessidade da cultura conforme recomendação do manual de adubação e de calagem para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (CQFS, 2004), com expectativa de produtividade de 180 sacas ha-1, ou seja, 10800kg ha-1.

Assim, a quantidade de N aplicada foi de 162 kg ha-1, o que correspondeu a 5510 kg ha-1 de CA e 360 kg ha-1 de adubação mineral.

Avaliações na cultura do milho

Foram avaliados: massa seca (5 plantas, no florescimento); altura de planta (base até inserção da folha bandeira); diâmetro de colmo (menor diâmetro); peso de mil sementes (PMS) e produtividade (3 metros das 2 fileiras centrais).

Análise estatística

Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e quando significativa para as variáveis analisadas, as médias foram comparadas pelo teste de “Tukey (P<0,05) ” pelo programa Assistat7.7 beta.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não houve interação entre os fatores planta de cobertura e fontes de N para nenhuma das
variáveis, sendo assim, os resultados dos fatores de variação são apresentados divididos entre a Tabela 2 e Tabela 3 respectivamente.

Tabela 2. Produtividade, peso de mil sementes (PMS), massa seca, altura e diâmetro do colmo da cultura do milho safra 2016/2017 em sucessão à diferentes plantas de cobertura e pousio.

Tabela 3. Produtividade, peso de mil sementes (PMS), massa seca, altura e diâmetro do colmo da cultura do milho safra 2016/2017 após aplicação de diferentes fontes de Nitrogênio – Adubação mineral (AM), cama de aves (CA), AM + CA – e testemunha.

Os resultados demonstram que apenas um ano de cultivo não é o suficiente para as plantas de coberturas expressarem seu grande potencial de favorecer as culturas em sucessão pelas melhorias nas condições do solo. Como mostra na Tabela 2, a parcela que ficou em pousio teve superior produtividade da cultura do milho, mas sem diferir estatisticamente das parcelas com cultivo solteiro de nabo e cultivo consorciado de nabo com aveia preta.

 

A planta de cobertura que resultou em pior desempenho produtivo para a cultura do milho foi a aveia preta, porém, apenas diferindo do pousio. Isso se deve por sua alta relação C/N, o que acarreta imobilização inicial do nitrogênio do solo pelos microrganismos do solo para a decomposição de sua palhada (VARGAS et al., 2005). Um fator que pode ter favorecido o pousio em relação às coberturas é a maior temperatura do solo quando descoberto, que pode chegar a 8ºC mais elevada na média do dia do que num solo sob palha de aveia DERPSCH et al., 1985), contribuindo para uma germinação mais uniforme da cultura, que exige temperaturas elevadas do solo, entre 25 e 30º, para ótima germinação (EMBRAPA, 2006).

 

O fato de a área nos últimos anos não estar sendo regularmente cultivada sob plantio direto pode ter influenciado nos resultados.

Não houve diferença entre as plantas de cobertura e pousio para as variáveis PMS, massa seca, altura de planta e diâmetro de colmo.

Conforme a Tabela 3, todas as fontes de nitrogênio foram superiores à testemunha. Isso demostra que o uso de cama de aves, associada ou não à adubação mineral é tão eficiente em suprir as necessidades de nitrogênio para a cultura do milho quanto a adubação mineral. Os resultados vão ao encontro com a pesquisa de Goulart et al. (2015), que ao comparar adubação mineral com o uso de cama de peru na adubação da cultura do milho, não obteve diferenças.

Para as variáveis altura de planta e massa seca, as fontes de N não diferiram da testemunha. Já para o PMS, a AM, junto com AM + CA, obtiveram os melhores resultados. O uso de CA foi superior à testemunha e inferior à AM, mas sem diferir da AM + CA. Para o diâmetro do colmo, importante determinador do rendimento do milho, todas as fontes de nitrogênio foram superiores à testemunha.

 

De acordo com Adeniyan & Ojeniyi (2003), a  cama de aves gera um efeito residual no solo de aumento de matéria orgânica, N, P, K, Ca, Mg e micronutrientes. Sendo assim, sua aplicação por sucessivos anos pode produzir resultados ainda mais favoráveis para as culturas comerciais do que os encontrados nesse experimento.

CONCLUSÕES

As plantas de cobertura não afetam positivamente a produtividade do milho em apenas
um ano de cultivo.

A cama de aves é uma alternativa ao fornecimento de nitrogênio via adubação orgânica, sem comprometer a produtividade.

REFERÊNCIAS

Andrioli I, Beutler NA, Centurion JF, Andrioli FF, Coutinho ELM. Produção de milho em plantio direto com adubação nitrogenada e cobertura do solo na pré-safra. R. Bras. Ci. Solo, 32:1691-1698, 2008.

Adeniyan ON, Ojeniyi SO. Comparative effectiveness of different levels of poultry manure with NPK fertilizer on residual soil fertility, nutrient uptake and yield of maize. Moor Journal of Agricultural Research Vol.4(2) 2003: 191-197.

Bonela GD, Santos WP, Sobrinho EA, Gomes EJC. Produtividade e qualidade de raízes de rabanete cultivadas sob diferentes fontes residuais de matéria orgânica. Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável (RBAS), v.7, n.2, p.66-74, Junho, 2017.

Comissão de Química e Fertilidade do Solo (CQFS) – RS/SC. Manual de adubação e calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 10.ed. Porto Alegre, SBCS – Núcleo Regional Sul/UFRGS, 2004. 400p.

Cunha EQ, Stone LF, Didonet AD, Ferreira EPB, Moreira JAA, Leandro WM . Atributos químicos de solo sob produção orgânica influenciados pelo preparo e por plantas de cobertura. Rev. bras. eng. agríc. ambient. vol.15 no.10 Campina Grande Oct. 2011

Derpsch R, Sidiras N, Heinzmann FX. Manejo do solo com coberturas verdes de inverno. Pesq. agropec. bras., Brasilia, 20(7):761-773,jul. 1985.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA. Relações com o clima, dezembro/2006. [Acessado em: 13 de fev. 2018]. Disponível em: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/.

Goulart EC, Ribeiro MC, Lima LM, Rodrigues BMA. Uso de cama de aves na adubação da cultura do milho. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer – Goiânia, v.11 n.22; p.
2015.

Oliveira AK, Lima JSS, Bezerra AMA, Rodrigues, JSO, Medeiros, MLS. Produção de rabanete sob o efeito residual da adubação verde no consórcio de beterraba e rúcula. Revista Verde, Pombal, v.10, n.5, p.98-102, 2015.

Vargas LK, Selbach PA, Sá ELS. Imobilização de nitrogênio em solo cultivado com milho em sucessão à aveia preta nos sistemas plantio direto e convencional. Ciência Rural, Santa Maria, v.35, n.1, p.76-83, jan-fev, 2005.

Informações dos autores:  

(1)Graduando em Agronomia; Universidade Federal de Santa Maria Campus Frederico Westphalen (UFSM-FW);

(2)Graduando em Agronomia; UFSM-FW;

(3)Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Agricultura e Ambiente (PPGAAA); UFSM-FW;

(4) Professor e Pesquisador do Departamento de Ciências Agronômicas e Ambientais; UFSM-FW;

(5) Graduando em Agronomia; UFSM-FW;

(6)Graduando em agronomia; UFSM-FW.

Disponível em: Anais da XII Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo. Xanxerê – SC, Brasil.

 

Fonte: Mais Soja

 

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