11 nov de 2017
Brasil – Agricultura – Levantamento de fungos associados às sementes de soja e trigo nas safras agrícolas 2015, 2016 e 2017 no Rio Grande do Sul

Amostras recebidas no Laboratório de Fitopatologia da CCGL Tecnologia, em Cruz Alta, RS.

Caroline Wesp Guterres1, Gilmar Seidel2, Daiana Gubiani3, Jayne Moreira4, Pedro Felipe Brum de Bastos4

Dentre as características desejáveis para uma semente de qualidade estão o alto poder germinativo, o alto vigor e a boa sanidade. Várias doenças de importância econômica que ocorrem em soja e trigo são causadas por patógenos que podem ser transmitidos via semente. Neste caso, a semente serve de abrigo, sendo um dos principais meios de disseminação da doença. Quanto maior é a incidência de patógenos nas sementes, maior será a porcentagem de focos no campo e mais cedo terão inicio as epidemias de doenças (MENTEN, 1995).

 

Neste sentido, a identificação dos fungos associados às sementes e o tratamento destas com fungicidas, são práticas de fundamental importância, a fim de reduzir a transmissão de fungos das sementes para a parte aérea ou raízes das plantas e evitar a contaminação por fungos presentes no solo. Portanto, no momento da decisão de qual tratamento de sementes utilizar, os testes de patologia de sementes, que identificam quais patógenos estão associados às sementes, são ferramentas úteis para direcionar a escolha correta dos fungicidas para o tratamento das mesmas. Além disso, os testes de sanidade de sementes também podem esclarecer as causas da baixa germinação, comum em amostras com elevados índices de infecção por fungos.

 

Em soja, os principais fungos associados às sementes são: Phomopsis spp., agente causal da seca da haste, mas que pode afetar a germinação, causando deterioração de sementes. Sua ocorrência é mais frequente quando as fases de maturação e/ou colheita coincidem com períodos de elevada precipitação; Fusarium spp., que também causa problemas de germinação e deterioração de sementes. Esse fungo geralmente é associado às sementes que sofreram atrasos na colheita ou passaram por excesso de umidade no campo; Cercospora kikuchii, causador da mancha púrpura da semente, que embora não afete a germinação, é agente causal de importante doença de final de ciclo; Macrophomina phaseolina, causador da podridão negra das raízes, doença bastante frequente em condições de clima seco e Colletotrichum truncatum, agente causal da antracnose e que também pode causar deterioração de sementes. Podem ser citados ainda os fungos de armazenamento, Aspergillus spp., responsável por podridão de sementes no solo e redução no poder germinativo de sementes, principalmente quando a semeadura é feita em solos com baixa disponibilidade de água e sem tratamento de sementes com fungicidas, e Penicillium sp., menos frequente do que Aspergillus spp., mas que ocorre geralmente em lotes de sementes armazenados com umidade elevada. O fungo Alternaria spp.  também é encontrado com certa frequência em associação com sementes de soja, mas é considerado um parasita fraco ou saprófita, não interferindo na qualidade das sementes (GOULART, 2005; HENNING, 2005 e 2015).

 

Em trigo, os fungos mais importantes associados às sementes são os causadores das manchas foliares: Bipolaris sorokiniana, agente causal de helmintosporiose e de podridão nas raízes e Drechslera tritici-repentis, causador da mancha amarela, uma das principais doenças de trigo no sul do Brasil. Outro patógeno importante é Fusarium graminearum, que causa a podridão comum de raízes e ocorre com maior frequência em regiões com excesso de chuva e temperaturas amenas, durante os períodos de floração e maturação de grãos (REIS & CASA, 2013; DEL PONTE et al., 2004). Alternaria spp., fungo comumente encontrado em trigo, pode causar o sintoma de ponta preta nas sementes. Os fungos de armazenamento Aspergillus spp. e Penicillium sp. também podem ser isolados de sementes de trigo.

 

O objetivo desse trabalho foi o de realizar um levantamento dos fungos presentes nas amostras de sementes de soja e trigo, recebidas no Laboratório de Fitopatologia da CCGL Tecnologia nos anos de 2015, 2016 e 2017.

A sanidade de sementes está bastante relacionada à quantidade de chuvas no período de enchimento de grãos. Na região Sul do país as safras de inverno geralmente são chuvosas, o que favorece a ocorrência de Fusarium graminearum em associação com as sementes de trigo, presente em mais de 60% das amostras analisadas. A incidência de fungos causadores de manchas foliares (Bipolaris e Drechslera) foi superior nas safras de 2015 e 2016 (acima de 30% de incidência nos lotes avaliados) do que em 2017. Esta redução pode ser em função de o inverno 2016 ter sido menos chuvoso do que os invernos de 2014 e 2015, que originaram sementes para as safras subsequentes. A presença de Alternaria foi superior a 50% nas três safras agrícolas avaliadas. A percentagem de infecção de Fusarium nas sementes de trigo foi de 55% na safra 2015, 30% na safra 2016 e 11,3% na safra 2017. Na média das três safras avaliadas, os níveis de infecção por Fusarium nas sementes de trigo foram superiores a 30%, enquanto os níveis de infecção por Alternaria foram superiores a 10%. A percentagem de infecção por fungos causadores de manchas foliares (Bipolaris e Drechslera) ficou abaixo dos níveis máximos de tolerância aprovados pelo Grupo Técnico Permanente em Sanidades de Sementes (GTPSS), estabelecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que permite níveis de infecção de até 5% por lote de sementes. Para as demais espécies de fungo observadas, não há um nível de tolerância estabelecido.

Para controle de Fusarium em sementes indica-se a utilização de fungicidas do grupo dos benzimidazóis, como o carbendazim. Porém, esses possuem pouco efeito sobre a incidência de fungos causadores de manchas foliares, sendo mais efetivos para Drechslera os ingredientes ativos difenoconazol, flutriafol, iprodiona e triadimenol; para Bipolaris, iprodiona, flutriafol, carboxim + tiram e triadimenol e para Alternaria, flutriafol e triticonazol + iprodiona. Os ingredientes ativos Carboxina + tiram também controlam fungos de armazenamento.

SOJA

Nas análises de sementes de soja, em função da elevada precipitação, principalmente no período da colheita das safras 2015/2016 e 2016/2017, as amostras recebidas em 2016 e 2017 apresentaram elevada incidência de Fusarium, Phomopsis e Cercospora. A ocorrência de Aspergillus foi superior a 95% nas três safras avaliadas. Não há um nível máximo de tolerância estabelecido para percentagem de infecção em sementes de soja dos fungos detectados nas análises realizadas. No entanto, a percentagem média de infecção pelos fungos FusariumPenicillium e Aspergillusfoi superior a 5% / lote. Nos lotes analisados no ano de 2016, a percentagem média de infecção nas sementes com os fungos CercosporaPhomopsis e Alternaria foi superior a 4%.

Para controle de Colletotrichum truncatum, os principais ingredientes ativos são carbendazim, carboxina + tiram e tiram. Para Cercospora kikuchii são carbendazim, carboxina + tiram, tiram e tiofanato metílico; para Phomopsis, o carbendazim e o tiofanato metílico e para Fusarium, o carbendazim, a piraclostrobina e o tiofanato metílico. Para o controle de Macrophomina na semente, os fungicidas carbendazim + tiram e carboxina + tiram têm apresentado bons resultados, enquanto que para Aspergillus spp. os melhores controles são com piraclostrobina + tiofanato metílico + fipronil, tiofanato metílico + fluazinam e carboxina + tiram.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A semente é um dos principais veículos de disseminação e introdução de doenças em áreas de cultivos. A identificação dos fungos associados às sementes permite escolher o tratamento com o fungicida mais adequado e com isso, maximizar o potencial benéfico do tratamento de sementes. Os dados aqui apresentados proporcionam uma ideia da frequência dos principais fungos associados às sementes de soja e trigo nas três últimas safras agrícolas no RS. Porém, não dispensam a importância da análise de patologia nos lotes de sementes a serem utilizados pelo produtor, tendo em vista a origem e a qualidade de sua semente, bem como, as condições ambientais específicas de cada região produtora.

1Biol. Drª. Pesquisadora Fitopatologia, CCGL TEC. Cruz Alta (RS). E-mail: caroline.wesp@ccgl.com.br

2Encarregado de pesquisa  CCGL TEC e estudante do Curso de Agronomia UNICRUZ.

 3Laboratorista CCGL TEC. Laboratório de Fitopatologia.

Estagiários, estudantes do Curso de Agronomia (UNICRUZ – Cruz Alta, RS e UFFS – Cerro Largo, RS).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DEL PONTE, E. M.; FERNANDES, J. M. C.; PIEROBOM, C. R.; BERGSTROM, G. C. Giberela do trigo – aspectos epidemiológicos e modelos de previsão. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 29, p. 587-606, nov./dez., 2004.

GOULART, A.C.P. Fungos em sementes de soja: detecção, importância e controle. Dourados: Embrapa agropecuária oeste, 2005. 72 p

HENNING, A.A. Patologia e tratamento de sementes: noções gerais. 2.ed. Londrina: Embrapa soja, 2005. 52 p.

HENNING, A.A. Guia prático para identificação dos fungos mais frequentes em soja. Brasília: Embrapa, 2015. 35 p.

MENTEN, J. O. M. Patógenos em sementes. Ciba Agro, São Paulo, Brasil. 321p. 1995.

REIS, E. T; CASA, R. T. Indicadores para o tratamento de sementes de trigo com fungicida.  2013.

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