20 dez de 2016
Brasil – Agricultura – Livro aponta soluções para a mandiocultura no Pará

Estado é o maior produtor nacional, mas a produção majoritariamente artesanal incide em baixa produtividade, tecnicidade e perda de valor agregado.

 

A mandioca, tubérculo que é a base alimentar em várias regiões do país e tem grande importância cultural e econômica, virou tema de livro lançado pela Embrapa Amazônia Oriental. Intitulado “Cultura da Mandioca: aspectos socioeconômicos, sistemas de cultivo, manejo de pragas e doenças e agroindústria”, a publicação traz o resultado de cerca de 40 anos de pesquisa sobre a raiz na Amazônia paraense, abordando diversos aspectos e desafios da cadeia produtiva e está disponível para acesso gratuito em versão digital, no site da instituição.

O lançamento é uma contribuição e atividade preparatória ao XVII Congresso Brasileiro da Mandioca e do II Congresso Latino Americano e Caribenho da Mandioca que serão realizados em Belém, em novembro de 2017.

O livro reúne uma coletânea de 14 artigos assinados por 16 especialistas e foi organizado pelo pesquisador Raimundo Brabo e o analista de pesquisa, Moisés Modesto. Cases de sucesso, melhoramento genético, boas práticas e possibilidades de diversificação de renda, mercado e agregação de valor com subprodutos do tubérculo também integram a publicação.

Para os organizadores, o produto pode ser utilizado como um guia no auxílio da superação de diversos desafios que a cultura apresenta, em especial, no Pará, estado que há cerca de 25 anos é o maior produtor nacional dessa raiz, mas possui baixa produtividade, com apenas 15 toneladas por hectare (IBGE/2015). Embora esse número seja superior à média nacional de cerca de 13 ton/ha (IBGE), ainda fica muito abaixo da média do estado do Paraná, segundo produtor nacional, que é de 25 ton/ha, estado campeão em produtividade. “Acreditamos que o Pará tem o potencial de duplicar a produtividade em poucos anos, mas para isso é necessário um esforço conjunto, para que os processos tecnológicos contidos no livro possam se tornar políticas públicas e sejam incorporados pelos produtores no Pará”, enfatizou Modesto.

Segundo o pesquisador Raimundo Brabo um dos fatores que influencia essa baixa de produtividade é que na grande maioria das cerca de 200 mil ocupações ou estabelecimentos que plantam mandioca no Pará, predomina a agricultura em sistema de derruba e queima, com pouco ou nenhum gradiente de tecnologia. Junto a Moisés Modesto, Brabo lembra que o livro vem trazer um olhar apurado sobre essa e outras diversas facetas dessa que é considerada a mais importante cadeia produtiva do Pará. “O livro traz processos tecnológicos atualizados do ponto de vista das práticas culturais da mandioca, abordando ainda conservação do solo, além de incluir de forma atualizada os custos de produção, tanto no sistema mecanizado como no de roça sem fogo”, fala o cientista.

A importância da mandiocultura para a Amazônia

A mandioca já esteve associada à cultura de subsistência, mas hoje é uma das cadeias mais importante do Pará, estado que assume a liderança nacional em volume de produção. Com cinco milhões de toneladas, 90% cultivadas por agricultores familiares em pequenas propriedades rurais, a mandiocultura movimentando no estado, em toda sua cadeia produtiva, algo em torno de R$ 1 bilhão por ano, segundo dados do IBGE.

E de acordo com Luiz Pinto, diretor de Agricultura Familiar da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuária e da Pesca (Sedap), a mandiocultura é a base da dieta alimentar do amazônida, compondo com o peixe e o açaí, os pratos típicos da culinária regional. Ele explicou que o cultivo da mandioca gera ocupação para cerca de 300 mil pessoas com a produção de raízes, farinha, maniva, tapioca, tucupi e outros derivados, em uma área plantada de 340 mil hectares que abrange todos os 144 municípios do Estado. O principal produto é a farinha de mesa consumida internamente e também exportada para os outros estados do Norte e Nordeste. “O cultivo da mandioca é responsável pela maioria das ocupações produtivas e renda gerada pela agricultura de base familiar no Pará. Sem dúvida, a mandioca pode ser considerada como a maior contribuidora na formação do Produto Interno Bruto – PIB do agronegócio familiar paraense”, afirmou Pinto.

Embora a cultura tenha sua importância reconhecida cultural e economicamente para o Pará, ainda é pouco explorada profissionalmente e entre os grandes desafios estão a mecanização, a industrialização. Luiz Pinto informou a estimativa da Sedap é de que apenas 9% é mecanizada, sendo que nos demais 91%,  a produção é predominantemente caracterizada como tipicamente artesanal.

Sistemas de produção mais eficientes e tecnologias alavancam à mandiocultura

A eficiência nos sistemas de produção no campo é um dos gargalos abordados pelo livro e sobre o tema são dedicados três capítulos. Produção de mandioca em roça sem fogo e o trio da produtividade, duas tecnologias da Embrapa para agricultura familiar que incrementam à produtividade estão no capítulo quatro, assinado pelos organizadores do livro, Moisés Modesto e Raimundo Brabo.

Cases que avaliam experiências de mecanicação e semi-mecanização em lavouras, com descrição de custos de produção nos diversos sistemas, comprovando sua viabilidade econômica das lavouras e de farinheiras também recebem destaque na publicação.

Entre as curiosidades sobre à pratica cultural presente no livro, estão os artigos assinados pelos pesquisadores Alfredo Homma e Gisalda Filgueiras, que fazem o levantamento socioeconômico da mandioca, com resgate histórico e sua importância desde o Brasil império, ao case sobre Parcagem, uma técnica tradicional centenária com presença forte no nordeste paraense, na qual a fertilização do solo se dá com a utilização do esterco dos animais cultivados pelos agricultores. Este, também assinado pelos organizadores do livro, Modesto e Brabo.

Dois capítulos abordam adubação, manejo e conservação de solo, desafios importantes do Estado devido à baixa tecnologia registrada na maioria das propriedades. Manoel Cravo, Thomas Smyth e Bendito Dutra, assinam texto intitulado “Calagem e adubação para a cultura da mandioca”. Já Arystides Resende relata experiências de manejo e conversação.

Boas práticas na fabricação de farinha, com recomendações para produtos mais seguros e de qualidade, recebem dois capítulos assinados pelas pesquisadas Laura Abreu e Rafaella Mattietto e Rossival do Nascimento.

Dois artigos sobre manejo de pragas e doenças vêm assinados por Aloyséia Noronha e Célia Tremacoldi. Espécies melhoradas geneticamente e indicadas para a região são analisadas por Elisa Cunha e João Tomé Neto.

A versatilidade da mandioca e novidades que propiciam agregação de valor à raiz encerram a publicação pelas mãos da cientista Ana Vânia Carvalho, que por meio do laboratório de agroindústria da Embrapa, apresenta um conjunto de novos produtos obtidos a partir da mandioca e uso de tecnologias de extrusão, como um cereal matinal à base de farinha de mandioca, enriquecido com concentrado proteico de soro do leite e um snack, produzido à base de farinha de pupunha e mandioca, produtos livre de glúten e com grande possibilidade de mercado.

Livro integra ações que antecedem eventos nacional e internacional sobre a cultura

O compêndio sobre mandioca lançado pela Embrapa será utilizado como uma das ações pré-evento do XVII Congresso Brasileiro da Mandioca e do II Congresso Latino Americano e Caribenho da Mandioca que serão realizados em Belém, em novembro de 2017.

A expectativa é que as pesquisas da Embrapa sirvam de base às mudanças necessárias ao desenvolvimento da mandiocultura, segundo o cientista Raimundo Brabo. Intencionalidade compartilhada pelo diretor de agricultura familiar da Sedap, Luiz Pinto, que afirma que a publicação pode auxiliar o Estado a alcançar o patamar qualitativo similar aos sistemas de produção praticados na região do sudeste brasileiro, tidos como padrão do agronegócio brasileiro.

Política pública – As tecnologias e boas práticas preconizadas pela Embrapa e que embasam a publicação integram ainda um programa de Estado em fase de elaboração, denominado de Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Mandioca (Pró-mandioca). “A meta do programa é que em quatro anos alcancemos um crescimento da produtividade na ordem de 33%, chegando à média de 20 ton/há”, adianta Pinto. Ela afirma ainda que a parceria com a Embrapa é essencial ao sucesso do Pró-mandioca que entre as ações, prevê o estímulo a implementação de fábricas de fécula, controle integrado de pragas, plantio direto, uso de variedades tolerantes a podridão das raízes, assim como a difusão do trio da produtividade, roça sem queima, calagem, adubação, mecanização leve, todas descritas na publicação.

Congresso – O XVII Congresso Brasileiro de Mandioca e II Congresso Latino Americano e Caribenho da Mandioca ocorrem em Belém (PA), no período de 21 a 25 de novembro de 2017. O evento visa reunir toda a cadeia produtiva, com envolvimento direto de agricultores, extencionistas, pesquisadores, além de feiras gastronômicas e de máquinas e implementos para os sistemas de produção.

Acesse o livro

Kélem Cabral (MTb 1981/PA)
Embrapa Amazônia Oriental

Telefone: (91) 3240-1099

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

 

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