O plantio de soja nas regiões Norte e Nordeste do Brasil deverá crescer mais de 6% na safra 2020/21, o que seria o maior aumento em quatro anos, com produtores abrindo áreas e incorporando pastagens e terras marginais para tirar proveito do recorde de rentabilidade da oleaginosa, de acordo com especialistas.

O aumento projetado para a área que inclui regiões do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e sul do Pará só perde para o registrado na temporada 2016/17, quando a área plantada subiu 10% no embalo de bons preços.

Em termos absolutos, o plantio no Norte e Nordeste deverá crescer mais de 350 mil hectares, uma parte importante dos mais de 1 milhão de hectares que se espera que o cultivo avance em todo o Brasil, ainda puxado por Estados com agricultura mais consolidada, como os do Centro-Oeste.

Ao todo, o país que é o maior produtor e exportador de soja deverá plantar um recorde de cerca de 38 milhões de hectares, conforme pesquisa da Reuters do início do mês.

“O produtor que tinha, por exemplo, 50% da fazenda para abrir (respeitando a lei ambiental) e estava abrindo em ritmo mais lento, ele voltou a acelerar as aberturas”, disse o sócio da consultoria Ímpar, Thiago Turozi, que atua no Tocantins.

Ele relatou ainda que, em recente viagem pelo Tocantins, Goiás e Mato Grosso, verificou novas áreas para 2020/21.

O aumento do cultivo, especialmente em regiões da chamada fronteira agrícola, tem chamado cada vez mais a atenção global, com países realizando apelos contra o desmatamento no Brasil, enquanto agricultores do país defendem o direito de utilizar a terra dentro dos limites estabelecidos pela lei brasileira.

O cenário positivo para o agronegócio, no qual vários produtos estão com preços em máximas nominais ou reais (considerando a inflação), vai impulsionar outras culturas, incluindo o arroz em Tocantins, disse Turozi, estimando um crescimento de até 10% desse cereal no Estado.

A situação tem colaborado para o aumento nos preços das terras, que subiram até 20% em Tocantins de um ano para o outro. O valor do arrendamento, que costuma acompanhar as cotações dos produtos, também subiu, acrescentou o consultor.

“Este ano o cara vai plantar tudo, a gente brinca que até no vaso ele vai plantar… Acho que está bom para o agronegócio como um todo, para a pecuária, feijão, milho, tudo…”, disse.

Com a grande demanda da China por soja e um câmbio favorável a exportações do Brasil, a produção em Tocantins vai crescer até mesmo em áreas de cascalho, geralmente menos aptas para a agricultura, perto da divisa com o Pará, disse ele.

VENDENDO A BOIADA

Os preços elevados da soja, acima de 100 reais a saca nos portos, estão atraindo até mesmo empresários de fora do setor agrícola, o que ajuda a explicar o avanço do valor da terra e do arrendamento, ressaltou o diretor da consultoria Arc Mercosul, Matheus Pereira.

Ele avaliou que o maior crescimento de plantio deverá ocorrer em áreas de pastagens e mesmo naquelas terras já abertas anteriormente, sendo que algumas tinham sido preparadas para plantio em 2019, mas acabaram não sendo aproveitadas.

“No centro-norte há pastagens não tão lucrativas quanto o cultivo da soja. E a elevação da receita da soja tem incentivado produtores a vender a boiada para colocar soja no lugar”, pontuou, ainda que o boi esteja em elevados patamares de preços.

Além do Tocantins, o analista citou um aumento de área esperado em cerca de 10% no Pará, para aproximadamente 680 mil hectares.

“O Pará é a menina dos olhos da agricultura, tem uma imensidão de área de pastagem para ser explorada”, disse ele, em referência ao Estado que ainda é relativamente pequeno em soja.

A Arc Mercosul projeta aumento de 6,8% no cultivo de soja no Norte/Nordeste do Brasil, para 5,99 milhões de hectares, uma área um pouco maior que a de cultivo da oleaginosa no Paraná, segundo produtor brasileiro.

Para outra consultoria, a AgRural, que vê uma “safra de ouro” em 2020/21, com produtores efetivamente aproveitando os ganhos de preços decorrentes do câmbio, a expectativa é de um aumento de 6,4% no cultivo do Norte/Nordeste, ou cerca de 352 mil hectares.

“Com esses preços, a área vai crescer onde der…”, disse o analista da AgRural Adriano Gomes, acreditando que o aumento ocorrerá, em sua maioria, em terras que estavam aguardando preços como os atuais para serem cultivadas.

O Centro-Oeste ainda terá o maior crescimento absoluto, com 463 mil hectares, segundo a AgRural, apontando uma alta de 2,8%. O analista disse que em Mato Grosso, maior produtor brasileiro, muitas pastagens serão aproveitadas, assim como terras de algodão. Segundo Gomes, a soja ainda toma espaço de alguns canaviais de Mato Grosso do Sul.

A AgRural também vê crescimento importante em outros Estados considerados fronteira agrícola, como o Piauí, com 12%, enquanto no Pará e Bahia os aumentos serão em torno de 6%, com o oeste baiano registrando migração de algodão para a soja.

O plantio no Norte e Nordeste intensifica-se em novembro, enquanto outros Estados do centro-sul, como Mato Grosso e Paraná, estão iniciando os trabalhos neste mês.

Fonte: Reuters

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