25 out de 2018
Brasil – Agricultura – Plantio enterrado é a melhor opção

Usar plantadeira em vez de semeadora a lanço sai mais barato e o pasto fica melhor formado, sem falhas

Por Renato Villela

Na hora de formar o pasto, o que vale mais a pena: plantar a semente da forrageira a lanço ou enterrá-la? A resposta para essa dúvida, tão comum entre os produtores, começa na planilha de custos, passa pela qualidade esperada da pastagem e se estende até a conservação do solo. Para comparar essas duas tecnologias de plantio, o primeiro passo é fazer as contas. Antes, porém, é preciso atentar para um detalhe técnico fundamental: plantadeiras requerem sementes com maior grau de pureza do que semeadoras a lanço. A exigência se justifica pelas características do implemento, que possui discos de sementes com orifícios de calibre milimétrico. Se houver muito material inerte (palha, terra), esses buraquinhos por onde as sementes passam antes de cair no solo entopem com facilidade, “embuchando” a plantadeira. Isto posto, sementes mais puras, como se sabe, custam mais caro por quilo. Será então que, na ponta do lápis, o plantio a lanço é mais vantajoso para o bolso do produtor?

O agrônomo Carlos Ohara, diretor da Via Verde, empresa de consultoria agropecuária com sede em São Sebastião do Paraíso, MG, fez as contas e descobriu que, na média, desconsiderando especificidades relacionadas à estratégia de produção, manejo pretendido, condições locais de solo e preços dos insumos, não é. A plantadeira é melhor opção. Acompanhe o raciocínio: para o plantio de braquiária utilizando uma plantadeira, o produtor necessita, em média, de 4 kg/ha, e sementes de 76% a 80% de VC (valor cultural), portanto, com alto grau de pureza, antes disponíveis somente para exportação, mas hoje já encontradas no mercado doméstico.

Considerando o preço da semente mais pura a R$ 15/kg, o produtor desembolsaria R$ 60/ha (4kg x R$15). Em contrapartida, se optasse pela distribuidora a lanço, ele precisaria de 15 kg de sementes por hectare, quantidade quase quatro vezes maior. O plantio a lanço requer densidade maior na semeadura porque a distribuição não é tão uniforme, como ocorre no caso da plantadeira. Mas não é só isso. Há um aspecto cultural presente. “É aquela velha crença, equivocada, de que é preciso jogar muita semente para formar direito, o ‘vamos errar por cima’. O resultado é a perda de dinheiro”, diz o consultor. Como nesse sistema de plantio é possível usar sementes de menor grau de pureza (52% de VC, por exemplo) ele considerou o quilo da semente a R$ 10. No caso, o gasto seria de R$ 150/ha (15kg x R$10), diferença de R$ 90/ha. “Ou seja, mesmo com o custo superior da semente mais pura, vale a pena usar a plantadeira”, conclui Ohara.

É preciso destacar, no entanto, que nem sempre o produtor tem essa opção. Plantadeira é um implemento caro, por isso é mais fácil encontrar na fazenda uma distribuidora a lanço, que serve não somente para o plantio, mas principalmente para adubação dos pastos. Ohara considerou essa possibilidade e incluiu nos cálculos o custo do aluguel, bem como as operações envolvidas quando se utiliza um implemento ou outro. Veja: para alugar uma plantadeira, gasta-se, em média, R$ 90/ha. Na hipótese de que o plantio do capim seja feito em uma área de pousio, o produtor terá de fazer o que o consultor chama de “cultivo mínimo” – passar uma grade intermediária sobre o mato em pousio para posterior semeadura. Somados ao valor dessa operação, que custa, em média R$ 100/ha, os custos de semente e aluguel, tem-se o total de R$ 250/ha (R$100 + R$ 60 + R$ 90).

Plantio a lanço: melhor opção para terrenos acidentados

O plantio a lanço, por sua vez, exige um solo mais bem preparado, já que as sementes serão depositadas na superfície da terra. Além da grade niveladora intermediária (R$ 100/ha), o produtor tem de fazer uma segunda gradagem, desta vez leve, suficiente para desfazer os torrões, mas sem “pulverizar” demais o solo, evitando o risco de erosão, a um custo menor, de R$ 50/ha. Essa operação é mais barata porque as grades leves costumam ter de 3 a 4 m de largura, contra 1,5 a 2 m das grades intermediárias – elas percorrem o dobro da área em uma mesma “passada”. “Além disso, o trator consome menos óleo diesel”, complementa o consultor. Após jogar as sementes no solo é preciso ainda cumprir uma última etapa, que pode ser a passagem de um rolo compactador ou, novamente, uma gradagem leve para enterrio das sementes, o que acrescenta R$ 50/ha à conta. No total são R$ 350/ha, ou seja, R$ 100/ha a mais, comparativamente ao custo (sementes + operacional) com a plantadeira.

Pasto bem formado

Segundo Ohara, há outros pontos a favor do uso das plantadeiras: o menor número de operações requeridas para o plantio beneficia a estrutura física do solo que, mais preservado, torna-se menos vulnerável à erosão. O uso de quantidade menor de sementes para formar um hectare, além de baratear o custo, também reduz o fluxo de abastecimento da plantadeira, o que representa economia de combustível. O ganho maior, no entanto, está na qualidade do pasto. “Com a plantadeira, o estande de plantas fica muito melhor”, afirma o agrônomo Clodoaldo Rocha de Almeida, da Semembrás, de Penápolis, SP. Por “estande” entenda-se o número de plântulas por m². Segundo o técnico, esse tipo de implemento permite um plantio uniforme, uma vez que a distribuição das sementes é mais precisa. Há de se destacar ainda a maior segurança na germinação, já que as sementes, enterradas nos sulcos, ficam menos vulneráveis a eventuais veranicos após o plantio e ao ataque de pragas, como formigas, cupins e pássaros. Uma pastagem bem formada deve ter de 20 a 30 plântulas/m².

A despeito de todas essas vantagens, alguns cuidados são imprescindíveis na utilização da plantadeira. Um dos mais importantes diz respeito à profundidade dos discos de plantio. “O produtor deve avaliar a textura do solo, porque a regulagem desses implementos depende do teor de argila. Implemento mal regulado pode enterrar demais as sementes e prejudicar sua germinação”, alerta Carlos Ohara, da Via Verde. Segundo Clodoaldo Almeida, sementes de braquiária podem ser enterradas até, no máximo, 4 cm, enquanto as de capins do gênero Panicum, menores, não devem ultrapassar 2 cm de profundidade.

Outro aspecto a ser considerado é o espaçamento entre as linhas de plantio. O ideal é utilizar uma plantadeira específica para o plantio de capim, regulada com espaçamento de até 20 cm. Implementos de plantio de arroz ou trigo também servem, pois tem regulagem parecida. Se a plantadeira for de soja ou milho, é preciso considerar um aspecto. Via de regra, os discos de plantio tem espaçamento de 50 cm entre si, o que é muito em se tratando de forrageiras. Alterar esse tipo de regulagem é algo fora de cogitação para a maioria dos produtores. A tarefa, delicada e trabalhosa, consome facilmente um dia de trabalho. “Além disso, depois que mexe, nunca mais fica a mesma”, diz Ohara. Há duas saídas nesse caso, embora mais onerosas. Plantar “cruzado”, formando a figura de um tabuleiro de xadrez ou em paralelo, dividindo as linhas ao meio. “O produtor continua economizando com sementes, mas terá um gasto maior de hora/máquina”, pondera o agrônomo Clodoaldo Almeida.

*Matéria originalmente publicada na edição 453 da Revista DBO.

 

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