21 ago de 2018
Brasil – Agricultura – Suspensão do glifosato traz ainda mais incertezas para a safra

Herbicida é considerado essencial para a produção de grãos; decisão pode aumentar custos e reduzir produtividade

Por Thuany Coelho

A cerca de um mês do início do plantio da soja nas principais regiões produtoras do país e com a indefinição sobre o frete ainda afetando os negócios, produtores têm mais um motivo para se preocuparem. A suspensão do registro de produtos que contenham glifosato, abamectina e tiram pela Justiça Federal até que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) conclua a reavaliação toxicológica – com prazo máximo de 31 de dezembro – pode colocar em xeque a safra de grãos brasileira.

 

O glifosato é largamente utilizado na soja e no milho, tanto na dessecação quanto no pós-emergência, e as alternativas são vistas como mais custosas e menos eficientes. “Sem glifosato, não tem soja nem milho. Não vemos uma possibilidade de produzir sem o herbicida”, diz Antônio Galvan, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT).

 

Para Dionisio Gazziero, pesquisador da Embrapa Soja, a decisão traz insegurança para a agricultura e gera retrocesso. “Vamos ter retorno de uso de grade, por exemplo, e vai afetar o plantio direto, que é uma tecnologia importante, sustentável, mas depende do uso de glifosato”. O problema, segundo o pesquisador, é que esse preparo mecânico desestrutura a parte superior do solo e facilita a erosão. “Com o tempo, cria-se o que chamamos de pé de grade, que é uma camada de compactação onde a grade trabalha, que dificulta a penetração de água no solo e, no momento da chuva, favorece o escorrimento da camada mais fértil da terra”. Além de proteger mais o solo, segundo Gazziero, o plantio direto ainda é melhor do ponto de vista ambiental, pois retém mais carbono na terra.

 

Apesar de existirem combinações alternativas ao glifosato, o herbicida mais vendido do mundo tem vantagens importantes, de acordo com o pesquisador: controla cerca de 150 espécies de plantas daninhas e em diferentes estágios de desenvolvimento, além de ser mais barato. “Vamos ter que ajustar os produtos antigos usados na soja convencional para substituir o glifosato em alguns casos. Mas eles têm espectro de ação muito estreito, controlam poucas espécies. Com isso, vai ter que usar mais, o que aumenta o custo e a fitointoxicação da cultura”. Gazziero ainda ressalta que quanto mais alternativas o produtor tiver, melhor, assim ele pode variar os produtos e evitar também a resistência de daninhas a moléculas, como já existem casos com o próprio glifosato.

 

Para Galvan, ainda há um outro problema nessa substituição. “No pós-emergência, temos outros produtos, mas não há disponibilidade suficiente no mercado para toda a safra, porque são defensivos voltados para a soja convencional, que representa 6%, 7% da produção”. Além disso, um dos produtos que pode fazer parte de combinações alternativas ao glifosato, o paraquat, também está sendo questionado pela Anvisa. A molécula chegou a ser proibida no ano passado, mas a agência reviu sua decisão e autorizou o uso até 2020.

 

A situação pode afetar também o rendimento das culturas. “Se não fizer controle correto, pode ter perdas de produtividade de 20% a 70% na soja, dependendo da espécie, do tamanho e da pressão de ocorrência das plantas daninhas”, diz o pesquisador da Embrapa. “Dependendo da situação, posso continuar usando método químico para controlar as plantas daninhas, mas nem sempre vou conseguir um bom resultado. E em alguns casos pode ficar tão caro ou tão complexo que fica mais fácil o agricultor meter uma grade em cima. Não quero dizer que não existem alternativas, mas o papel do glifosato no sistema de produção é muito importante. A ponto de talvez não ser possível substituí-lo em todas as situações de campo”.

 

“Vamos ter que voltar para 40, 50 anos atrás, deixar a terra exposta, gastar mais combustível com máquinas. O produtor não vai plantar, vamos ficar sem safra”, afirma o presidente da Aprosoja-MT.

A consultoria IEG|FNP estima que os prejuízos decorrentes da suspensão podem superar largamente R$ 10 bilhões. Esse número engloba queda de produtividade, aumento no custo de produção e perdas com a safrinha de milho, já que o retrocesso no plantio direto teria impacto negativo significativo na possibilidade de condução de uma segunda safra.

 

A Advocacia-Geral da União prepara ação para derrubar a suspensão, com apoio técnico do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Para Galvan, se a decisão não for revertida logo, a situação começará a preocupar e poderá atrasar o plantio até que as entregas do herbicida, que estão paradas, sejam normalizadas.

 

O herbicida também tem sido alvo nos Estados Unidos. A Monsanto foi condenada a pagar US$ 289 milhões de indenização a DeWayne Johnson depois que a justiça norte-americana considerou que a exposição a dois herbicidas à base de glifosato (Ranger Pro e Roundup) provocou o aparecimento de um câncer em Johnson. A decisão abre precedentes para outras ações – são cerca de 5 mil em curso no país -, mas ainda cabe recurso. Na segunda-feira, 13, as ações da Bayer, que adquiriu a Monsanto recentemente, chegaram a cair 10% na bolsa de Frankfurt.

Fonte: Portal DBO.

 

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