O objetivo foi avaliar os efeitos da aplicação da torta de pinhão manso digerida e não digerida ao solo sobre a dispersão de argila.

 

Trabalho disponível nos Anais do Evento e publicado com o consentimento dos autores.
Autores: Freddy Zambrano1, Diva Souza Andrade2, Claudemir Zucareli1, João Tavares Filho1, Maria de Fátima Guimarães1

Palavras-chave: Jatropha curcas; atributos do solo; adubação.

 

O pinhão manso (Jatropha curcas), membro da família Euphorbiaceae, é uma planta resistente à seca, frequentemente encontrada na América do Sul, Sudeste da Ásia Central, Índia e África. É uma oleaginosa importante para a geração de bioenergia e relevante na fabricação de biodiesel, pela elevada concentração de óleo em suas sementes. No processo da extração do óleo é gerada a torta que, apesar de possuir alto teor nutricional, não é utilizada na alimentação devido à presença de componentes tóxicos (SAETAE; SUNTORNSUK, 2010). Estudos têm demostrado o uso potencial dessa torta por ter na sua composição química nutrientes aproveitáveis na agricultura como adubo orgânico, que pode ser aplicado diretamente ao solo sem nenhum tratamento e mediante o processo da digestão (HIFJUR; SUBHRAJIT, 2012).

 

Existem alguns resultados positivos da aplicação de adubos orgânicos na melhoria das propriedades químicas do solo, entretanto, poucos trabalhos avaliam os efeitos da aplicação desses sobre outros atributos influenciados pelo aumento da matéria orgânica, como, por exemplo, a dispersão de argila. A matéria orgânica no solo tem importância como fonte de nutrientes, na retenção de cátions, melhorando a atividade microbiana e os atributos físicos do solo que, por sua vez, influenciam na disponibilidade de ar e água às raízes das plantas (PELÁ, 2002). A hipótese deste trabalho é que aplicação da torta de pinhão manso, digerida ou não digerida ao solo, incrementará a matéria orgânica, favorecendo a floculação do solo. O objetivo foi avaliar os efeitos da aplicação da torta de pinhão manso digerida e não digerida ao solo sobre a dispersão de argila.

 

O experimento foi conduzido em casa de vegetação no Instituto Agronômico Paraná – IAPAR, em Londrina, PR (latitude 23°23’S e longitude 51°11’W), no período de outubro a novembro de 2015. O clima de Londrina é do tipo Cfa, de acordo com a classificação de Köppen. Utilizou-se um solo da camada 0,00 – 0,20 m, coletado na Estação experimental do IAPAR, em Ponta Grossa, Paraná, classificado como LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico de textura argilosa, com pH corrigido, o qual foi seco ao ar, destorroado e passado em peneira de malha de 4 mm, e acondicionado em vasos plásticos de 3,5 kg. No experimento foi utilizado com delineamento experimental em blocos casualizados, avaliando torta de pinhão manso não digerida e digerida, em quatro doses, segundo o teor de fósforo (50; 100; 200 e 300 kg ha-1). Durante a condução do experimento, os vasos foram mantidos em temperatura controlada e a umidade do solo entre 60 a 70 % da capacidade de retenção de água, pela adição de água deionizada.

 

As amostras do solo foram coletadas aos 33 dias. Determinou-se o Δ pH (pH-KCl – pH-H2O); Ca2+ (KCl 1 mol L-1), Mg2+ (KCl 1 mol L-1) e Al+3 (KCl 1 mol L-1), expressos em cmolc dm-3; carbono orgânico (Walkey-Black), expresso em porcentagem; e, porcentagem de argila dispersa em água (ADA), segundo Embrapa (1997). Estas análises foram realizadas no laboratório de Solos da Universidade Estadual de Londrina. Houve a redução dos valores de argila dispersa em água com as aplicações de torta de pinhão manso não digerida em relação ao tratamento controle, sobretudo no tratamento em que foi usado torta 300 kg ha-1 P. Essa redução se deve ao aumento de Carbono orgânico do solo, promovido por esse resíduo, fato observado pela correlação significativa (p – valor < 0,001) da argila dispersa em água com os teores de carbono orgânico. Wendling et al. (2005) mencionam que existem correlações significativas e positivas entre carbono orgânico total e a redução dos teores de argila dispersa em água. Para a torta digerida a argila dispersa em água não apresentou o mesmo comportamento, pois, não houve a redução da dispersão de argila com acréscimo desse resíduo em relação ao controle.

 

Neste caso, o incremento de carbono orgânico não foi suficiente para promover a redução de argila dispersa em água. O teor de argila dispersa em água apresentou uma correlação negativa significativa com o ΔpH, mostrando que o aumento da floculação das argilas está relacionado com este atributo do solo, e que este resíduo possui a capacidade de modificar o ΔpH deixando-o próximo de zero. Os cátions cálcio (Ca), magnésio (Mg) e alumínio (Al), tiveram correlação significativa com os teores de argila dispersa em água, pois os aumentos dos teores destes cátions no solo promoveram a redução da dispersão.

Referências

SAETAE, D.; SUNTORNSUK, W. Antifungal activities of ethanolic extract from Jatropha curcas seed cake. J Microbiol Biotechnol. v.20, n.2, p.319-24, 2010. doi: 10.4014/jmb.0905.05035

HIFJUR, R.; SUBHRAJIT, M. Biogas production potential of Jatropha seed cake. India. Biomass Bioenergy. v.37, p.25-30, 2012, doi:10.1016/j.biombioe.2011.12.042

PELÁ, A. Uso de plantas de cobertura em pré-safra e seus efeitos nas propriedades físicas do solo e na cultura do milho em plantio direto na região de Jaboticabal-SP [Dissertação]. Jaboticabal: Universidade Estadual Paulista; 2002. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa. Centro Nacional de Pesquisas de Solos. Manual de métodos de análises de solos. 2a. ed. Rio de Janeiro; 1997.

WENDLING, B.; JUCKSCH, I.; MENDONÇA, E.; NEVES, J. Carbono orgânico e estabilidade de agregados de um Latossolo Vermelho sob diferentes manejos. Pesq. Agropec. Bras. v.40, n.5, p.487-94. 2005.

Informações dos autores:

1Universidade Estadual de Londrina, Doutorando, Londrina – PR;

2Instituto Agronômico do Paraná.

Disponível em: Anais XX Reunião Brasileira de Manejo e Conservação do Solo – RBMCSA. Foz do Iguaçu, PR. 2016.

 

Fonte: Mais Soja

 

 

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