14 ago de 2018
Brasil – Agricultura -Utilização de Baculovírus ChinNPV no controle de Chrysodeixis includens na cultura da soja

O objetivo desse trabalho foi avaliar o desempenho do inseticida biológico Surtivo Soja, uma formulação de pré-mistura dos Baculovírus chinNPV e HearNPV, para controle da lagarta falsa-medideira, C. includens, na cultura da soja.

Autores: LIMA, P.B.A.P.1; TAMAI, M.A2; LIMA, E.S.M.1; SILVA, S.S.1; JUNIOR, M.C.P.1; SILVA, R1; LUIZ, C.F.C1; SHIOMI, G.M1; LIMA, M. F1, SILVÉRIO, R.F1; GAUER, E1; MARÇON, P.G1.

Trabalho publicado nos Anais do evento e divulgado com a autorização dos autores.

O cultivo da soja é considerado uma das atividades econômicas de crescimento mais expressivo nas últimas décadas (Hirakuri & Lazzarotto, 2014), sendo responsável por mais de 57,44% da área cultivada no país. Este ano, o cultivo da soja deverá ter 1,1 milhão de hectares a mais do que a safra anterior (CONAB, 2018). Diante deste cenário de intensa expansão das áreas de cultivo e de plantios sucessivos, a cultura da soja está sujeita ao ataque de um grande número de espécies de insetos e ácaros durante todo seu ciclo (Hoffman-Campo et al., 2000).

Os principais métodos de controle destas pragas são o controle químico e as cultivares transgênicas que expressam proteínas Bt (Bacillus thuringiensis), os quais são amplamente usados nestes sistemas de produção, visando o aumento da produtividade e da qualidade (Pitta & Neto, 2016).

O uso inadequado destas tecnologias tem acelerado a evolução de resistência das pragas, uma questão preocupante em virtude da escassez de ferramentas disponíveis para o seu manejo, podendo vir a inviabilizar a produção (Bernardi et al. 2014). A adoção de métodos eficientes de controle biológico entra neste contexto como uma alternativa importante em programas de manejo integrado e de resistência de pragas.

Nos últimos anos, foram registrados produtos à base de Baculovírus para o controle de Helicoverpa armigera (HearNPV), com eficácia comprovada em diversas culturas (Roome, 1975; Moore et al. 2004; Jeyarani et al. 2010). O principal entrave para adoção mais expressiva a nível de campo tem sido o fato destes produtos serem altamente específicos, ou seja, controlarem somente lagartas dos gêneros Helicoverpa e Heliothis.

Frequentemente, os produtores agrícolas precisam controlar ao mesmo tempo outras lagartas importantes como, por exemplo, a Chrysodeixis includens. E, nestes casos, optam por inseticidas de mais largo espectro. Este cenário evidencia a necessidade de desenvolver soluções biológicas de espectro de ação mais amplo.

Uma opção viável seria combinar, numa única formulação, mais de um Baculovírus específico, num conceito de pré-mistura de Baculovírus. O objetivo desse trabalho foi avaliar o desempenho do inseticida biológico Surtivo Soja, uma formulação de pré-mistura dos Baculovírus chinNPV e HearNPV, para controle da lagarta falsa-medideira, C. includens, na cultura da soja.

O experimento foi desenvolvido na safra 2016/2017, na área comercial da fazenda Santo Expedito situada no município de Luiz Eduardo Magalhães, BA.

O delineamento experimental foi o de blocos em faixas com seis tratamentos e cinco repetições. Cada faixa foi constituída por 44 linhas de 50m de comprimento e espaçamento de 0,45m, representando uma unidade amostral de 1000m2. As aplicações foliares foram realizadas com barra de três metros de largura e pontas do tipo jato plano duplo Jet e um volume de calda de 100 L ha-1.

Os tratamentos foram: 1-testemunha sem aplicação; 2- programa do produtor no qual foram realizadas quatro aplicações (espinetoram a 75mL ha-1, aplicado em R1+8 e R1+25 e teflubenzurom aplicado em R1+19 e R1+29); 3- lambda-cialotrina + clorantraniliprole a 100mL ha-1, aplicado em R2 e R2+10; 4-ChinNPVa 100mL ha-1 + HearNPV a 100mL ha-1, aplicado em R1; 5-ChinNPV a 100mL ha-1HearNPV a 100mL ha-1, aplicado em R1 e lambda-cialotrina + clorantraniliprole a 100mL ha-1, aos R1+10; 6ChinNPV a 100mL ha-1HearNPV a 100mL ha-1, em R1 no início da infestação de Chrysodeixis includens e em R1+10.

Foram feitas 10 avaliações de contagem de lagartas (0DA1A, 5, 10, 12, 16, 19, 26, 33, 40 e 47 DA1A.), utilizou-se pano de batida de 1,00m2 e duas batidas de pano por repetição, registrando-se o número de lagartas em três categorias de tamanho larval: pequenas (<5mm); médias (5-15mm) e grandes (>15mm). Os dados foram submetidos à análise de variância e comparação de médias a 5% de probabilidade (teste de Scott-Knott, 1974), utilizando o programa SISVAR (Ferreira, 1999).

Houve diferença significativa entre os tratamentos no período de 5 a 33 dias após o início do ensaio, corresponde ao momento de maior infestação de C. includensna Testemunha (T1), com uma população de 2,8 a 9,2 lagartas/m linear (Tabela 1). Neste período, o tratamento 6 (duas aplicações de ChinNPV) se mostrou mais eficiente para o controle de falsa medideira do que o tratamento 3 (duas aplicações de Ampligo®) (T3), sempre número de lagartas significativamente menor. Dos 5 aos 33 dias, a infestação média foi de 1,54 lagartas/m nas parcelas com vírus e de 4,04 lagartas/m nas parcelas com tratamento químico (Tabela 1).

Tabela 1. Número médio de lagartas (pequenas, médias e grandes) de Chrysodeixis includens após 0 (Prévia), 5, 10, 12, 16, 19, 26, 33, 40, 47 e 54 dias do início do ensaio. Fazenda Santo Expedito, Luís Eduardo Magalhães-BA, safra 2016/17.

O manejo com duas aplicações de ChinNPV resultou em controle médio de 70,2% no período (Abbott, 1925), com valor mínimo de 42,9% aos 33 dias e máximo de 82,1% aos 19 dias. No tratamento 4, com uma única aplicação do vírus, a eficiência de controle diminuiu para 58,6%, sendo ainda assim significativamente superior a duas aplicações de Ampligo® (T3 = eficácia de 42,9%).


O que é tecnologia de aplicação? Qual é o nosso alvo? Considera a sua aplicação eficiente?


Dos 5 a 33 dias, o número médio de lagartas/m nas parcelas com duas aplicações de ChinNPV (T6) foi significativamente menor que o número médio de lagartas/m nas parcelas do programa do produtor (T2) em três das avaliações (aos 16, 26 e 33 dias) e similar ao programa do produtor em quatro das avaliações (aos 5, 10, 12 e 19 dias), o que permite concluir que duas aplicações do vírus (T6) proporcionaram controle equivalente a quatro aplicações de inseticidas químicos, sendo duas de Exalt® (espinoteram= 75,0 mL/ha) e duas de Nomolt® 150 (teflubenzurom= 150,0mL/ha).

Referências

BERNARDI, O., SORGATTO, R.J., BARBOSA, A.D., DOMINGUES, F.A., DOURADO, P.M., CARVALHO, R.A., MARTINELLI, S., HEAD, G.P., OMOTO, C.. Low susceptibility of Spodoptera cosmioides, Spodoptera eridania and Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) to genetically-modified soybean expressing Cry1Ac protein. Crop Protection. v. 58, p. 33-40, 2014.

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB. Acompamento safra brasileira grãos, v. 6 Safra 2017/18: Sexto levantamento, Brasília, p. 1-140, março/2018. Disponível em:<http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/18_03_13_14_15_33_grao_marco_201 8.pdf> Acesso em: 28 mar. 2018.

HIRAKURI, M. H.; LAZZAROTTO, J. J. O agronegócio da soja nos contextos mundial e brasileiro. Londrina: Embrapa Soja. 2014. p. 9-15. (Documentos, 349).

HOFFMANN-CAMPO, C. B.; MOSCARDI, F.; CORRÊA-FERREIRA, B. S.; OLIVEIRA, L. J.; SOSA-GOMEZ, D. R.; PANIZZI, A. R.; CORSO, I. C.; GAZZONI, D. L.; OLIVEIRA, E. B. de. Pragas da soja no Brasil e seu manejo integrado. Circular Técnica. Londrina: Embrapa Soja, 2000. n. 30. 70p.

JEYARANI, S.; SATHIAH, N.; KARUPPUCHAMY, P. Field efficacy of Helicoverpa armigera nucleo polyhedron virus isolates against H. armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) on cotton and chickpea. Plant Protection Science, 2010; 46, p. 116-122.

MOORE, S. D.; PITTAWAY, T.; BOUWER, G.; FOURIE, J. G. Evaluation of Helicoverpa armigera Nucleopolyhedrovirus (HearNPV) for control of Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) on citrus in South Africa. Biocontrol Science and Technology, 14, p. 239-250, 2004.

PITTA, R. M. NETTO, J. C. Riscos e oportunidades: lagartas Heliothinae. In: Associação Matogrossense dos Produtores de Algodão (AMPA); Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (APROSOJA-MT); Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). (Org.). Desafios do Cerrado: Como sustentar a expansão da produção com produtividade e competitividade. 1ed.Cuiabá: Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão, 2016, v. 1, p. 1-283.

ROOME, R. E. Field trials with a nuclear polyhedrosis virus and Bacillus thuringiensis against larvae of Heliothis armigera (Hb.) (Lepidoptera, Noctuidae) on sorghum and cotton in Botswana. Bulletin of Entomological Research, 65, p. 507-514, 1975.

FERREIRA, D. F. SISVAR: sistema de análise de variância para os dados balanceados, versão 4.0. Lavras: DEX/UFLA, 1999. (Software estatístico).

SCOTT, A.J.; KNOTT, M.A. Cluster analysis method for grouping means in the analysis of variance. Biometrics, v.30, p.505-512, 1974.

Informações dos autores:  

1AgBiTech Controles Biológicos Ltda – Luís Eduardo Magalhães, BA;

2Universidade do estado da Bahia-UNEB.

Disponível em: Anais do VIII Congresso Brasileiro de Soja. Goiânia – GO, Brasil.

 

Fonte: Mais Soja

 

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