21 maio de 2018
Brasil – Agricultura – Volume e ponta de pulverização na deposição da calda e controle de Phakopsora pachyrhizi na cultura da soja

O objetivo desse trabalho foi de avaliar o desempenho de pontas de pulverização de jato plano e a influência de diferentes volumes de calda na deposição de fungicidas visando o controle de ferrugem asiática na cultura da soja

Autores: MATHEUS M. NEGRISOLI1, DIEGO M. SOUZA2, FELIPE M.S. SOUZA3, LARYSSA M. BERNARDES3, PATRICK J. JESUS4, MATHEUS A.G.L. FARIAS5, CARLOS G. RAETANO6

RESUMO

A ferrugem asiática da soja (FAS) é a principal doença da cultura e requer cobertura uniforme da pulverização de fungicidas para obtenção de controle satisfatório. Aliado a isto, a redução dos volumes de pulverização tornou-se necessária frente à otimização da tecnologia de aplicação com o apelo de menor contaminação do aplicador e ambiente. Assim, o objetivo desse trabalho foi de avaliar a influência de pontas de pulverização de jato plano e de diferentes volumes de calda na deposição da pulverização e controle da doença FAS na cultura.

 

O experimento foi conduzido a campo em Botucatu, SP, no delineamento experimental de blocos ao acaso, em esquema fatorial 3×2+1, sendo: 3 pontas de pulverização e 2 volumes de calda acrescido de um tratamento sem pulverização (testemunha). Foram realizadas duas pulverizações com a mistura fungicida trifloxitrobina + protioconazol, uma em V6 e outra em R2. Para avaliação quantitativa dos depósitos em cada pulverização utilizou-se o marcador Azul Brilhante, com posterior leitura em espectrofotômetro e conversão dos dados em μL.cm-2 de área foliar.

Foi avaliado semanalmente a severidade da doença nos folíolos com base em escala diagramática. Independente da ponta de pulverização e volume de calda, a penetração das gotas no dossel foi prejudicada em R2, com deposição menor na região inferior da planta. No geral, não houve influência das pontas de pulverização e dos volumes de calda sobre os níveis de depósito da pulverização tampouco no controle da doença. Portanto, volumes menores de calda (125 L ha-1) podem ser recomendados com segurança no controle de FAS.

 

PALAVRAS-CHAVE: Ferrugem asiática da soja, ponta de jato plano, fungicida.

VOLUME AND SPRAY NOZZLE ON SPRAY DEPOSITION AND CONTROL OF Phakopsora pachyrhizi IN SOYBEAN CROP

ABSTRACT

The Asian soybean rust (FAS) is the most important disease and requires uniform spray coverage of fungicides to obtain satisfactory control. Along with it, reduction on the volume spray has become necessary due to the optimization of the application technology in order to reduce environment and applicator contamination. Thus, the objective of this study was to evaluate the influence of flat fan spray nozzles and different spray volumes on the pulverization deposition and disease control.

 

The experiment was conducted in Botucatu, SP, with experimental design of randomized blocks, in a factorial scheme 3×2+1, being: 3 spray nozzles; 2 spray volumes and 1 control without spraying. Two pulverizations were done with the fungicide mixture trifloxystrobin+protioconazole, one in V6 and the other in R2. The quantitative analysis of the spray deposition was conducted in both application using the marker Azul Brilhante, with later reading on spectrophotometer and conversion of the results to μL.cm-2of foliar area.

 

Disease severity on leaflets was evaluated weekly based on diagrammatic scale. Independently of the spray nozzle or volume, droplets penetration was affected in R2, with lower deposition in the lower region of the plant. In general, there was no influence of spray nozzles and volume on the level of spray deposition neither on the disease control. Therefore, lower spray volumes (125 L ha-1) may be safely recommended for FAS control.

KEYWORDS: Asian soybean rust, flat fan nozzle, fungicide.

INTRODUÇÃO

A soja [Glycine max (L.) Merrill] é atualmente a principal cultura agrícola no Brasil, ocupando mais de 56% da área cultivada (CONAB, 2016). Contudo, doenças como a ferrugem asiática da soja (FAS), causada por Phakopsora pachyrhizi, representam um dos principais entraves à produção da cultura no país, reduzindo drasticamente sua produtividade (CUNHA et al., 2014).

 

O uso de fungicidas é o principal método de controle, havendo a necessidade de que seja empregada uma boa tecnologia de aplicação de modo a garantir a eficiência do controle da doença. Como, na maior parte das vezes, a infecção de P. pachyrhizi inicia-se no final do estádio vegetativo e início do reprodutivo, o dossel da soja funcionará como uma barreira à penetração da pulverização, tendo como alvo da aplicação a região inferior da planta (RAETANO, 2007; RUPE; SCONYERS, 2008).

Assim, ressalta-se a necessidade da escolha adequada da ponta de pulverização e do volume de calda, de modo a garantir boa cobertura e distribuição da pulverização no dossel da cultura. Com a uniformidade na distribuição do produto, aumenta-se a chance da ação do fungicida sobre o patógeno e, assim, o controle da doença (CUNHA et al., 2014).

Além disso, tem-se tornado comum a utilização de volumes de calda mais reduzidos em pulverizações terrestres, melhorando a capacidade operacional da pulverização. Portanto, o objetivo desse trabalho foi de avaliar o desempenho de pontas de pulverização de jato plano e a influência de diferentes volumes de calda na deposição de fungicidas visando o controle de FAS na cultura da soja.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Esse trabalho foi conduzido na Fazenda de Ensino, Pesquisa e Extensão (FEPE) da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA/UNESP) na cidade de Botucatu, SP, na safra 2016/2017. Foi utilizado o cultivar FTS Campo Mourão RR com hábito de crescimento semideterminado. O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso, em esquema fatorial 3×2+1, sendo: 3 pontas de pulverização e 2 volumes de calda + 1 tratamento sem pulverização (Tabela 1).

 

Foram realizadas duas pulverizações com o fungicida Fox ® (trifloxistrobina 150 g.L-1 + protioconazol 175 g.L-1), sendo uma no estádio de desenvolvimento vegetativo V6 e outra com 15 dias após (R2). Utilizou-se o pulverizador Jacto, modelo Falcon Vortex AM14, montado no trator Massey Ferguson, modelo 296, com velocidade média de 9 km.h-1. A pressão de trabalho foi ajustada de modo a atingir o volume de calda de cada tratamento com gotas de tamanho médio (Tabela 1). A fim de determinar a qualidade da pulverização do fungicida para cada tratamento em dois estádios de desenvolvimento fez-se a análise quantitativa do depósito proveniente das pulverizações.

 

Para avaliação dos depósitos utilizou-se o marcador Azul Brilhante em solução aquosa (PALLADINI et al., 2005), aplicado imediatamente antes à pulverização do fungicida, de modo a evitar a influência da formulação fungicida na leitura óptica do marcador por espectrofotometria. O marcador Azul Brilhante foi solubilizado em água destilada no tanque de pulverização na concentração de 3.000 mg.L-1.

 

Após 20 minutos da pulverização foram coletados aleatoriamente 10 folíolos da parte superior da planta e em igual número da parte inferior da planta nas linhas centrais de cada parcela, avaliando também a capacidade de penetração dos tratamentos no dossel da cultura. Cada amostra recebeu cerca de 40 mL de água destilada e foi agitada por 15 segundos, sendo a solução resultante transferida para recipientes plásticos. A partir disso, foi realizada a quantificação dos depósitos em espectrofotômetro (Shimadzu VIS 1601 PC) com leitura da absorbância no comprimento de onda de 630 nm (PALLADINI et al., 2005). Após a remoção do marcador, foi avaliada a área foliar de cada amostra com o auxílio de um medidor de área foliar da marca LICOR, modelo LI-3100, apresentando os dados em μL.cm-2.

 

Foi construída a curva de calibração, permitindo a obtenção da concentração do corante no alvo após a pulverização em mg.L-1. Foi estabelecido o volume captado pelo alvo, correlacionando a concentração do corante na solução de lavagem das amostras com a concentração do corante na calda de pulverização (3.000 mg L-1). Foi avaliado semanalmente a severidade da FAS na cultura da soja, analisando 10 folíolos coletados aleatoriamente por parcela e atribuindo-se notas de severidade com base em escala diagramática proposta por Godoy et al. (2006). Os valores de depósito e severidade obtidos foram transformados em (x+1,0)^1/2. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste T (LSD) a 5% de probabilidade com o uso do software estatístico SISVAR®, versão 5.6.

TABELA 1. Relação das pontas de pulverização, volume de calda e pressão de trabalho adotados para cada tratamento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na primeira aplicação, no estádio de desenvolvimento V6, independente da região da planta amostrada, não houve influência das pontas de pulverização tampouco dos volumes de calda sobre os níveis dos depósitos (Tabela 2). De modo geral, utilizando volume de calda de 250 L. ha-1 observou-se um maior valor de depósito em ambas as regiões superior e inferior da planta. Na segunda aplicação (estádio de desenvolvimento R2) também não foram encontradas diferenças significativas quanto a ponta de pulverização e volume de calda utilizados em ambas as regiões de deposição na cultura da soja (Tabela 2).

 

TABELA 2. Médias das deposições da pulverização (μL cm-2 foliar) realizada nos estádios de desenvolvimento V6 e R2, de acordo com as pontas de pulverização, volume de calda e
comparadas separadamente em cada posição da planta de soja.

Percebe-se diferença nos valores da deposição na região inferior da planta quando comparadas as duas pulverizações. Em comparação com a primeira aplicação, houve um maior valor de depósito na região superior e menor valor na região inferior na segunda aplicação, possivelmente devido ao fechamento do dossel da cultura. Não houve, portanto, influência do volume de calda e das pontas de pulverização de jato plano na avaliação quantitativa da deposição, assim como encontrado por Cunha et al. (2006).

Quanto à avaliação da severidade da doença, foi encontrada diferença significativa entre a testemunha e os demais tratamentos, que obtiveram níveis de severidade significativamente menores (Tabela 3). Esse resultado condiz com os valores de depósito encontrados, uma vez que os tratamentos, com exceção da testemunha, mantiveram mesmo padrão de deposição independente do volume de calda e ponta de pulverização.

TABELA 3. Severidade (%) da FAS na cultura da soja obtida para cada volume de calda (L.ha-1) e ponta de pulverização ao final da última avaliação da severidade da doença.

CONCLUSÕES

Não houve influência das pontas de pulverização de jato plano e dos volumes de calda na deposição da pulverização na cultura da soja tampouco no controle da doença. Contudo, houve influência dos tratamentos na uniformidade da distribuição da pulverização no perfil do dossel da cultura. Volumes menores de calda (125 L ha-1) podem ser recomendados com segurança no controle de FAS.

 

AGRADECIMENTO

Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES pela bolsa de mestrado e a Hypro Brasil pelo material concedido.

REFERÊNCIAS

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento de safra brasileira de grãos, v.3 – safra 2015/16 – n.4 – quarto levantamento, janeiro 2016. Brasília: Conab, 2016, 154 p.

CUNHA, J.P.A.R; JULIATTI, F.C.; REIS, E.F. Tecnologia de aplicação de fungicida no controle da ferrugem asiática da soja: resultados de oito anos de estudos em minas gerais e goiás. Bioscience Journal, v.30, n.4, p. 950-957, 2014.

CUNHA, J.P.A.R.; REIS, E.F.; SANTOS, R.O. Controle químico da ferrugem asiática da soja em função de ponta de pulverização e de volume de calda. Ciência Rural, v. 36, n. 5, p. 1360-1366, 2006.

GODOY, C.V.; KOGA, L.J.; CANTERI, M.G. Diagrammatic scale for assessment of soybean rust severity. Fitopatologia Brasileira, Brasília DF, v.31, n.1, p.63-68, 2006.

PALLADINI, L. A.; RAETANO, C.G.; VELINI, E.D. Choice of tracers for the evaluation of spray deposits. Scientia Agricola, v. 62, n. 5, p. 440-445, 2005.

RAETANO, C.G. Assistência de ar e outros métodos de aplicação a baixo volume em culturas de baixo fuste: a soja como modelo. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.33, p.105-6, 2007.

RUPE, J.; Sconyers, L. Soybean Rust. The Plant Health Instructor, 2008. Acesso em dez.2016, disponível em: http://www.apsnet.org/edcenter/intropp/lessons/fungi/Basidiomycetes/Pages/SoybeanRust.aspx.

Informações dos autores:  

Engenheiro Agrônomo, Mestrando, Departamento de Proteção Vegetal, Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Botucatu/SP –Brasil;

2 Engenheiro Agrônomo, Doutorando, Departamento de Proteção Vegetal, Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Botucatu/SP –Brasil;

Engenheiro Agrônomo, Mestrando, Departamento de Proteção Vegetal, Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Botucatu/SP –Brasil;

Aluno de Engenharia Agronômica, Departamento de Proteção Vegetal, Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Botucatu/SP –Brasil;

Aluno de Engenharia Agronômica, Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas, UNESP, Dracena/SP – Brasil;

6 Engenheiro Agrônomo, Professor, Departamento de Proteção Vegetal, Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Botucatu/SP – Brasil.

Disponível em: Anais do VIII Simpósio Internacional de Tecnologia de Aplicação – SINTAG, Campinas – SP, Brasil.

 

Fonte: Mais Soja

 

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