07 jan de 2018
Brasil – Agropecuária – Cochos que se ‘autoabastecem’ facilitam manejo

Sistemas móveis garantem que não falte comida aos animais e demandam reposição do alimento em períodos mais espaçados

Ariosto Mesquita

Imagine um sistema quase que totalmente automático de alimentação de bovinos, que garanta que não falte comida aos animais e ao mesmo tempo exija reposição do alimento em períodos mais espaçados. É como se fosse um self-service para os bovinos, cujo alimento vai sendo reposto à medida que vai sendo consumido, o que reduz, por exemplo, o desperdício. Mas a vantagem principal é a economia com mão de obra. Outras são a praticidade e também o fato de o animal não precisar se deslocar por muitos metros para encontrar o alimento concentrado. Outra, ainda, é a economia com a construção de cochos, já que apenas alguns equipamentos móveis dão conta de alimentar o rebanho, conforme a necessidade. Estamos falando de sistemas de cochos móveis, produzidos por vários fabricantes no Brasil, e que podem ser utilizados tanto no pasto como em sistemas de semiconfinamento e confinamento, para várias categorias de animais.

 

Na Fazenda São João, em Uberaba, MG, o pecuarista Cristiano Prata Rezende utiliza dois modelos de comedouros autosserviço na engorda de bovinos a pasto e considera os equipamentos bastante funcionais. “Coloco sal proteinado nas águas e ração nos meses secos. Trabalho com uma lotação média de cinco bois por hectare e estes cochos são abastecidos apenas a cada 15 dias. Ainda não mensurei, mas com eles a economia operacional na fazenda é significativa”, garante. Outro aspecto que ele considera “excelente” é o fato de não ter de se preocupar com o conteúdo armazenado nos cochos nos dias de chuva. “O reservatório da ração (que vai sendo escoada à medida que o animal consome), é totalmente vedado. Não entra um pingo de água”, informa o produtor.

 

A Fazenda Estrela, em Pirajuí, no interior de São Paulo, do criador Antônio Cesar Falavigna utiliza cochos móveis há 15 anos. Há dois, renovou tudo, adquirindo um modelo com tampa de madeira de plástico para o reservatório. “Hoje tenho dois desses cochos em cada uma das 16 divisões de pasto da minha propriedade. Aonde a vacada vai os cochos vão atrás”, conta. O transporte é feito com a ajuda de um trator e de uma plataforma adquirida também no fabricante. “É muito simples, prático e funcional. Os reservatórios são abastecidos com sal mineral e proteinado e me garantem uma autonomia de oito dias na seca e de até 15 dias nas águas”, conta. Ao longo dos anos Falavigna chegou a recomendar algumas adequações aos modelos: “Lembro que parte do que ia ao cocho para bezerros acabava caindo no chão. Então sugeri alguns ajustes na borda da linha de alimentação e a empresa acatou”.

 

O Brasil dispõe de vários fabricantes desses cochos móveis e com abastecimento automático. O empresário Murilo Dorazio começou a produzi-los no início da década, em 2013, quando desenvolveu seu primeiro modelo de cocho. O equipamento, com a marca Major Nutrição Animal – sediada em Goianira, GO, e com escritório em Uberaba, MG –, tem recipiente de armazenamento para ração ou proteinado e duas linhas de acesso para os animais. Em 2016 ele consolidou sua ideia ofertando no mercado duas estruturas distintas, batizadas de “comedouros self service”: uma com depósito para até 7.500 kg e outra menor, para 2.000 kg, ambas feitas em chapa de aço com tratamento antiferrugem. Os alimentos descem por gravidade. A vazão é regulada por uma espécie de régua-válvula.

 

Além dessas características, Dorazio estabeleceu um conceito de mobilidade. Apesar de relativamente pesadas, mesmo vazias (800 e 300 kg, respectivamente), alças na parte superior e sua própria configuração estrutural permitem um deslocamento mais fácil desses comedouros por pastos, módulos e piquetes. “O transporte pode ser feito com o auxílio de pás- -carregadeiras ou por tratores e empilhadeiras, com o apoio de porta bags”, explica, referindo-se às estruturas metálicas usadas para movimentação e empilhamento de porta bags, bolsas geralmente utilizada para o transporte de fertilizantes e sementes.

 

Conforme Dorazio, a empresa fabrica comedouros menores, mais voltados para proteinado, e grandes, ajustados para armazenamento e oferta de ração. Mesmo com menos de dois anos no mercado de cochos bovinos, Dorazio tem experiência de sobra na bovinocultura de corte. Além de pecuarista (propriedade de recria e engorda em Jaraguá, GO) foi dono do frigorífico Mataboi Alimentos Ltda., adquirido pela JBJ Agropecuária, em 2015. Os comedouros self service foram idealizados inicialmente para utilização em sistemas de confinamento a pasto (semiconfinamento), mas posteriormente o próprio Dorazio adotou com sucesso em confinamento. “O uso desses comedouros independe do sistema de produção do pecuarista. Podem ser usados por quem aposta em uma boa recria ou pelo produtor que está disposto a investir em uma terminação de baixo custo”, garante.

 

Somente no custo operacional, o empresário alega que o sistema garante uma economia operacional de 80% com redução da mão de obra, de combustível, menor frequência de arraçoamento, baixo desperdício e melhores condições de armazenamento e de conservação dos alimentos. “Em confinamento, um comedouro grande atende até 90 animais durante uma semana sem necessidade de reabastecimento”, afirma. No período das águas a Major orienta para que as duas linhas de alimentação sejam limpas sempre quatro horas após as chuvas. “neste intervalo de tempo a alimentação ainda pode oferecer boas condições de consumo”, avisa.

 

Semelhança – Atento às novidades de mercado em estruturas de nutrição para bovinos de corte, o pesquisador Rodrigo Gomes, da Embrapa Gado de Corte, localizou nos Estados Unidos cocho autosserviço semelhante ao da empresa brasileira. Batizado de Auto Easy Feeder (Alimentador Automático Fácil), ele é produzido por uma organização familiar em Arlington, Texas, e oferecido em três modelos com diferentes capacidades armazenadoras (variando de 589 a 3.084 kg). Em troca de e-mail com o pesquisador, o fabricante nos EUA esclarece que a capacidade de suporte varia de quatro a seis cabeças (modelo 4’), 12 a 14 cabeças (modelo 8’) e 22 a 24 cabeças (modelo 16’). O alimentador pode receber suplementos granulados ou moídos. Para facilitar a movimentação pela fazenda, os modelos são apoiados em uma base tipo trenó. Além disso, alças em cada uma das suas quatro pontas facilitam o transporte.

 

Adulto e bezerros – Confeccionando cochos desde 1995, a empresa Prático de Garça, de Garça, SP, oferece dois modelos de cochos móveis autosserviço. O cocho Maxi, para animais adultos, tem peso de 350 kg e capacidade para até 200 quilos de alimentos. Comporta sal mineral, suplemento proteico energético e ra ção. O cocho bezerro, com 280 kg, é um pouco menor, com capacidade para 160 quilos, e é indicado quando a suplementação é diferenciada para o rebanho. Quando isso não é possível, o bezerro também pode se alimentar no cocho maior. A provisão das duas linhas de cocho é feita por gravidade. “Utilizando sal mineral comum, o modelo adulto atende até 100 animais ao longo de 15 dias, sem a necessidade de reabastecimento. No caso de suplemento proteico de alto consumo, sua capacidade de atendimento é de 50 animais ao longo de cinco dias”, explica o diretor executivo da empresa, Gabriel Alberto Kerbauy Lopes.

 

“Atendemos principalmente pecuaristas de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Perto de 85% da clientela é de fazendas de corte”, garante Lopes. Ao longo de pouco mais de duas décadas, algumas mudanças e adaptações foram feitas nos cochos da Prático de Garça. Uma das principais foi com relação à tampa do reservatório, que também protege as linhas de alimentação. “Em 2010, substituímos a madeira pela ‘madeira plástica’, feita com plástico extrusado. Ela é mais resistente, flexível, não apodrece, não racha e nem sofre a ação de cupins. Apesar de ser 30% mais cara, sua vida útil é até 50% superior à da madeira comum”, explica. Para transportar os cochos pela fazenda, a empresa paulista recomenda a utilização de tratores e plataformas agrícolas. “A estrutura dos dois modelos permite o deslocamento com facilidade bastando o trabalho de apenas um homem”, afirma o empresário.

 

Fase de testes – Quem também foca no mercado de cochos autosserviço é a empresa Campo Fácil Soluções Agropecuárias, de Campo Grande, MS. Em 2018, a Campo Fácil pretende lançar um cocho modular e móvel para suplementos sólidos. Além de acompanhar os lotes em pastos e piquetes, permitirá o animal se alimentar a qualquer momento. A novidade deste modelo é seu caráter automático, ou seja, será possível a execução de uma programação prévia de abastecimento das linhas para que sempre haja alimento disponível. Ambos estão em fase final de testes.

Desde 2014 a empresa trabalha com a linha “Giro Cocho”, modelos arredondados, fabricados em polietileno, com espaço para armazenamento. Porém, as linhas de alimentação necessitam do homem para abastecê-las. “A vantagem é que o depósito pode ser carregado em intervalos de até 45 dias, em média, permitindo que os funcionários das fazendas tenham mais tempo para outras atividades”, observa.

 

*Matéria originalmente publicada na edição 439 da Revista DBO.

Fonte: Portal DBO
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