01 set de 2018
Brasil – Agropecuária – Como fazer o controle eficaz da mosca-dos-chifres

Prejuízos com o inseto chegam a US$ 2,56 bilhões por ano no Brasil, segundo estudo

Foto: Ariosto Mesquita.

Com o período de chuvas no horizonte, começa a preocupação com a mosca-dos-chifres (Haematobia irritans), já que é nessa época que os insetos se proliferam. Diferente do mosquito comum, tanto o macho quanto a fêmea da mosca-dos-chifres se alimentam de sangue e chegam a picar seu hospedeiro mais de 30 vezes ao dia. “Isso irrita os animais, porque, dependendo do nível de infestação, podem ser picados milhares de vezes”, afirma Thadeu Barros, pesquisador da Embrapa Gado de Corte. O incômodo compromete o desempenho dos animais e os resultados da fazenda. De acordo com estudo de 2014 do pesquisador Laerte Grisi e colaboradores, o prejuízo anual estimado no Brasil é de US$ 2,56 bilhões.

 

Para minimizar as perdas, é necessário fazer o controle da melhor forma. “Isso começa por uma decisão acertada sobre o momento de tratar, depois selecionar bem o produto e aplicar corretamente”, diz o pesquisador.

Segundo Barros, existem dois picos de infestação do inseto no país, que coincidem com o começo e o fim do período de chuvas: novembro/dezembro e março/abril. “Mas isso varia com a região. No Sul, como o frio começa mais cedo, o segundo pico ocorre em fevereiro/março. E, geralmente, não há infestações no país durante a seca”. Essas informações devem ser levadas em conta para decidir quando fazer o controle da mosca-dos-chifres. Barros explica que existem duas abordagens de tratamento: o tático e o estratégico.

 

O controle estratégico deve ser feito nos períodos de pico mencionados, enquanto o tático eventualmente pode ser necessário quando o pecuarista percebe alta infestação de mosca-dos-chifres e grande incômodo dos animais por conta disso. “Quando a mosca entrou no país falava-se em tratar quando o número passasse de 200 moscas/animal, que era um dado importado de estudos norte-americanos. Mas esse valor não corresponde à nossa realidade”, afirma o pesquisador da Embrapa. Para ele, o pecuarista deve observar o comportamento dos animais e entender o que eles estão tentando demonstrar. “Se você vir muitas moscas, mas o boi está tranquilo, talvez o que você acha que é alta infestação, não é. Ou pode até ser, mas não está causando problema que vai resultar em redução do ganho de peso, por exemplo”. Nesse caso, segundo ele, não há um bom custo-benefício em se fazer o tratamento. O mesmo vale para quando o produtor decide fazer o tratamento apenas para aproveitar a ida dos animais ao mangueiro por outra razão. “A exceção é a aplicação da vacina contra a aftosa em novembro, porque coincide com o pico do início de chuvas”.

 

Barros ressalta que mesmo no controle estratégico o pecuarista pode fazer uso do comportamento dos animais para decidir o melhor momento. “Se você está vendo o rebanho e ele está tranquilo, mesmo que seja em época em que é esperado aumento de infestação, é melhor ir segurando esse tratamento, porque naquele momento não é necessário. Não adianta tratar com muita antecipação, porque o ciclo da mosca é muito rápido”.

Produtos

Como as moscas se desenvolvem nas fezes dos animais, é difícil combatê-las em seu local de criação; por isso, o tratamento é feito nos animais, com produtos químicos – normalmente mosquicidas (que agem na fase adulta da mosca). “A escolha do produto é o primeiro passo para um controle bem feito. O produtor precisa entender o que está comprando e não só decidir pelo preço ou por indicação de amigos. Na verdade, o ideal é que um médico veterinário faça a recomendação”, alerta Barros. De acordo com ele, é preciso saber o histórico da fazenda com ectoparasiticidas – tanto com carrapaticidas quanto inseticidas -, o que deu certo e o que não funcionou e por quê, para tomar a melhor decisão.

 

Para evitar resistência, o importante é fazer alternância de produtos. “Mas não adianta trocar só o nome do mosquicida ou o princípio ativo. Existe um fenômeno chamado resistência cruzada que explica que quando a mosca ou o carrapato desenvolvem resistência a um princípio, isso compromete todos os demais daquela classe. Então o segredo é fazer a rotação de classes de inseticidas”. Quatro classes atuam no controle da mosca-dos-chifres: piretroides, organofosforados, lactonas macrocíclicas e fenilpirazóis. “O problema é que você tem uma diferença de preço e o produtor, então, acaba optando por organofosforados e piretroides”. Estudo feito pelo pesquisador em 14 Estados, porém, apontou que a frequência de resistência da mosca-dos-chifres aos piretroides chega a 95%.

Aplicação

Entre as formas de aplicação dos mosquicidas estão a pulverização, o brinco inseticida e o pour on. No caso da primeira, Barros diz que o maior problema é a aplicação de volume menor do que o recomendado – ele indica 1 litro para cada 100 kg de peso vivo – quando utiliza-se bomba costal. “Brinco às vezes que estão só benzendo o animal. A bomba pesa nas costas e o peão tem que ficar bombeando para dar pressão. Isso funciona para pequenos rebanhos, que você consegue trabalhar cada animal, mas não é o adequado para centenas, milhares. Só uma passada por cima não vai ter a eficácia desejada”.

 

Já no caso do brinco, o principal, segundo ele, é não esquecer de retirar o produto no momento indicado. “Caso contrário, as concentrações de inseticida começam a baixar e ficam inferiores às recomendadas. Então, a mosca vai ter contato com subdoses, o que favorece o aparecimento de resistência”. Barros ressalta que também é preciso avaliar se o uso do brinco é necessário. “É um produto mais caro e que passa mais tempo agindo na população”. Já as formulações pour on, mais oleosas, são aplicadas no dorso do animal e se dispersam pela oleosidade da pele. “Elas são muito práticas, principalmente para gado de corte, porém o produto fica concentrado nas partes superiores. Mas a mosca fica mais nessa região mesmo, só vai para a ‘barriga’ do animal quando está muito sol”.

Fonte: Portal DBO.

 

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