17 jul de 2017
Brasil – Agropecuária – Como recuperar e evitar a degradação de pastagens

Pastagem profissional demanda investimento mais alto no início, mas oferece retorno até três vezes maior do que a tradicional

Thuany Coelho

Apesar de a pecuária ter evoluído e crescido muito nas últimas décadas no país, pastagens degradadas ainda estão presentes em todas as regiões. Esta é a opinião do pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Moacyr Bernardino Dias-Filho, que lançou cartilha sobre o tema em junho. “Esse problema abrange o Brasil como um todo, mas é maior nas áreas de fronteira agrícola”, afirma. Ele estima que cerca de 50% das pastagens brasileiras tenham algum grau de degradação.

 

Entre as causas da degradação estão o manejo inadequado, falta de controle de pressão de pastejo [relação entre peso vivo do animal e quantidade de forragem disponível] e de acompanhamento da fertilidade do solo, e ataques de pragas. “São diversas razões que, em conjunto ou individualmente, vão minando a produtividade”.

 

Segundo o pesquisador, o melhor indicador para verificar a degradação da pastagem é acompanhar a capacidade de suporte – quantidade de animais que é possível manter em determinada área do pasto – ao longo do tempo. “Se o cuidado é muito básico, isso declina de 10% a 20% ao ano, mas a queda pode se agravar se a pastagem for ainda mais negligenciada. Mas isso varia muito com o tipo de solo também”. Com isso, o produtor tem queda na produtividade e, consequentemente, no lucro.

 

Ele ressalta que é preciso manter a pastagem de forma profissional. “O problema é que muitos produtores ainda não enxergam a pastagem assim, não vêem como cultura agrícola que precisa de acompanhamento. Mas isso está mudando, ele está mais informado e mais consciente de que precisa se profissionalizar ou vai ser empurrado do negócio. Produtor amador é uma classe em extinção”. Prova disso, diz ele, é que a produtividade vem crescendo mais do que o aumento da área utilizada.

Níveis de degradação

Para facilitar o entendimento, o pesquisador divide a degradação de pastagens em quatro níveis. Quando maior o número, mais degradado e mais cara e demorada será a recuperação. Nas categorias 1 e 2, já existem áreas de solo descoberto ou plantas daninhas e a capacidade de suporte cai de 20% a 50%. “Nesse ponto, recuperar é relativamente fácil e de baixo custo. Uma adubação leve e, às vezes, replantio em algumas áreas já funcionam”.

No nível 3, há infestação de plantas daninhas e aumento da área de solo descoberto, no que ele chama de degradação agrícola. A capacidade de suporte diminui entre 60% e 80%. Já na fase 4, o solo apresenta sinais de erosão (degradação biológica) e a queda da taxa de lotação é de mais de 80% no suporte. “Nesses casos, você vai precisar de um investimento maior e no mínimo 90 dias para recuperar. E tempo também é dinheiro”.

Tipos de recuperação

Dias-Filho explica que há duas opções de recuperação: a direta e a indireta. A primeira é a mais tradicional, que envolve adubação, controle de plantas daninhas e replantio nos níveis mais leves e renovação da pastagem nas fases mais degradadas. Já no indireto, você vai realizar essas ações também, mas integrando com lavoura e/ou floresta. “Para o produtor optar por essa opção, porém, ele precisa estar mais qualificado, ter conhecimento de outras disciplinas, maquinário específico e mais dinheiro, porque o investimento é maior, apesar do retorno ser melhor”, conta o pesquisador.

Custos

A pastagem empresarial, como ele chama quando há cuidados com a área desde o início, envolve adubação, análise de solo ano a ano, acompanhamento da fertilidade e da taxa de lotação, entre outras coisas. O custo seria cerca de 50% a 60% a mais do que no extremo de uma pastagem tradicional, sem cuidado nenhum, apenas com roçagem de vez em quando para controlar planta invasora.

Ele enfatiza, contudo, que é muito melhor manter a pastagem produtiva do que recuperar depois de degradada. “Isso do ponto de vista financeiro e ambiental, porque é um desserviço para a propriedade e o meio ambiente”, reforça. Segundo ele, a pastagem degradada diminui a matéria orgânica do solo e emite mais gases de efeito estufa.

Ele diz que o importante é fazer certo desde o começo. “O custo inicial é maior, óbvio, mas no final das contas ele sai ganhando, porque quem não cuidou da pastagem vai ter que recuperá-la depois e isso demanda dinheiro. É mais barato pastagem profissional do que resgatar daqui a dois, três, quatro anos”.

O retorno financeiro também é maior no uso de pastagens empresariais. De acordo com Dias-Filho, a estimativa é de R$ 4 de retorno para cada real investido em pastagens profissionais e de R$ 1,30 na tradicional, mas esses números podem variar dependendo da região, nível de degradação e momento da economia (veja tabela). “A questão é que as despesas são imediatas e o lucro vem com o tempo”.

Quem ainda não adota essas práticas, pode dividir a propriedade em áreas e começar a migração em partes. “Pega 25% da área e começa. O ganho de produtividade com essa porção já vai compensar o restante. E ano a ano, faz uma outra parte até transformar tudo”, explica.

Fonte: Portal DBO
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