08 jul de 2018
Brasil – Agropecuária – Devemos ser produtores ou lucradores rurais?

Rogério Goulart: será que o negócio pecuário se resume apenas em produzir?

Foto: arquivo DBO.

Quando pensamos na palavra “produtores”, pensamos em… Bom, parece prosaico, mas pensamos em “produção”! Pensamos em área de pasto, em arrobas, em quantidades, em curral, em altura de capim. Pensamos na conhecida correria diária para se resolver as coisas, muita estrada de terra, horas pensando no futuro e, até bem pouco antes da hora de dormir, em decidir um milhão de coisas. Tudo isso é essencial para uma fazenda produtiva e preparada para o futuro.

Mas será que o negócio pecuário se resume apenas em produzir? Penso que é bem mais do que isso. Ao invés de produtores, que tal usarmos uma palavra para redefinir o que fazemos? Que tal lucradores rurais? É o termo que o especialista em marketing Miguel Cavalcanti gosta de usar. Você percebe a mudança no foco?

Enquanto produtor remete à produção, muito bem-feita, por sinal, lucrador remete à margem, ao lucro, ao resultado global do que é feito. Esse resultado é a somatória durante o ano dos pequenos e persistentes esforços em todas as etapas do negócio pecuário.

 

Etapas? Sim, a pecuária é feita em etapas. Tomadas à distância, são como pequenos negócios que possuem regras próprias. Conversam entre si, mas são independentes uns dos outros.

A etapa mais conhecida e exaustivamente debatida é a produção. Nas conversas se diz, “Produza que o lucro virá!” É o que se espera de um negócio bem tocado. Com todo o respeito, será que vem mesmo?

Veja, a produção é uma etapa importante. Só que a pecuária possui mais duas etapas. Elas ocorrem antes e depois da produção. Antes, vem a compra; depois, a venda. Compra e venda são etapas tão importantes quanto a produção.

 

Deixe-me explicar. Uma pecuária de cria normalmente vende bezerros e vacas de descarte. Quase não compra nada. A mesma coisa ocorre para quem faz ciclo completo. Podemos dizer, então que é um negócio dividido em duas etapas, produção e venda.

Já quem recria, normalmente compra um bezerro, e o deixa pouquíssimo tempo no pasto e logo já vende esse animal. Podemos dizer que o negócio é basicamente uma operação de compra e venda.

Quem faz engorda, o chamado invernista, normalmente compra o gado, deixa os bichos nos pastos crescendo para depois jogar no confinamento. Ou joga direto no confinamento também. Depois deles prontos temos a venda. Esse sujeito possui um negócio com três etapas, certo? Compra, produção e venda.

 

Veja, caro leitor, como são as coisas. Compra e venda é puro e simples comércio. A cria e o ciclo completo são atividades em que 50% do negócio é comércio. A recria é 100% comércio. A engorda é 66% comércio.

No entanto, trago aqui uma reflexão. Pense comigo, onde gastamos a maior parte do nosso tempo? No comércio ou na produção? Seja franco. Você deve trabalhar umas doze horas por dia. Quantas horas gasta pensando na produção? Visitando eventos, fazendas, andando nos pastos, apartando gado, arrumando trator, buscando herbicida?

Nesse mesmo dia, quantas horas você passa estudando o mercado, conhecendo novas técnicas de negociação, aprendendo sobre a Bolsa, sobre seguro de preços, lendo relatórios de mercado, analisando gráficos, puxando os seus custos de produção, calculando o valor do seu estoque, preocupando-se com os riscos dos preços de milho, da soja, do boi, do diesel?

 

Penso que a pecuária está passando por um chamamento. Está passando por uma evolução que há tempos não se via. Agora, mais do que nunca, aprender a ganhar dinheiro no negócio não é uma coisa que virá naturalmente apenas comprando uma ração diferente ou adubando pastos.

O chamamento é para quem quer ser lucrador rural. E ser lucrador rural é um chamamento para você comercializar melhor sua produção, caro leitor.

O lucrador rural possui um pé no curral e outro no escritório. Entende que é necessário gastar tempo, uma boa parte dele, se reinventando e aprendendo sobre comércio.

Aprender sobre comércio é chato: é o trabalho enfadonho da contabilidade e o aprendizado sobre o que isso significa, os centros de custo, as categorias de gastos. É o uso de ferramentas e conhecimentos de como se comprar bem um animal e depois vendê-lo bem gordo. É tratar a compra e a venda como algo distinto, não como um subproduto da produção.

 

Comercialização de gado é puro timing. Janelas de boas compras e boas vendas aparecem em alguns momentos do ano, e esses momentos tendem a ser pequenos e tão importantes que fazem a diferença entre o lucro e o prejuízo do negócio. Mas só estão visíveis para quem entende os números financeiros do negócio.

Acredito que está na hora de utilizar muito bem as três etapas do negócio. A compra. A produção. A venda. Então, como você se vê daqui a dez anos: um produtor rural ou um lucrador rural?

*As opiniões expressas nos artigos não necessariamente refletem a posição do Portal DBO.

Artigo originalmente publicado na edição 450 da Revista DBO.

 

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