01 nov de 2018
Brasil – Agropecuária – Dicas para garantir o bem-estar animal no confinamento

Além de alimentação, água, saúde e conforto térmico, é preciso olhar as respostas de cada animal

Foto: arquivo DBO.

Parte do sistema de produção de carne bovina, o confinamento vem ganhando espaço nos últimos anos, mas pode ser um ambiente desafiador para os animais, principalmente no primeiro momento, já que estão adaptados a uma vida a pasto. Por isso, para garantir bem-estar e melhor rendimento, é importante que alguns cuidados sejam adotados. “Quando a gente fala de bem-estar no confinamento, às vezes só se pensa em sombra, água limpa, mas não é apenas isso. O bem-estar tem quatro princípios: nutrição, saúde, conforto e comportamento”, afirma Fernanda Macitelli, professora da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e uma das autoras do ‘Manual de Boas Práticas de Manejo – Confinamento’, do Grupo Etco.

Segundo a professora, além de se preocupar com qualidade da alimentação, água, indicadores de saúde e conforto térmico do lote, é preciso também olhar as respostas de cada animal. “Não é só pensar que se a maioria está bem tudo está certo. Temos que observar aqueles animais que estão mostrando que não estão se adaptando, que estão apanhando, que estão tendo dificuldades. Os indivíduos são importantes, ou então cai a média do lote. Outro erro é pensar que animais não sentem”.

Pontos de atenção

A primeira etapa de maior estresse é o próprio transporte até o confinamento, diz Fernanda. “A viagem reduz a imunidade e muitas vezes os animais passam para o confinamento logo que chegam na fazenda, o que faz com que você coloque um animal mais debilitado no curral”.

Alguns confinamentos acompanhados por ela adotam um período de em média 20 dias – mas que pode variar de acordo com a necessidade – para adaptação a pasto dos animais recém-chegados. O período engloba descanso pós-viagem, montagem de lotes, vermifugação, vacinação, entre outras coisas. O impacto pode ser visto no ganho de peso diário, que chega a ser de quase 200 g a mais do que quando não há o procedimento. “Melhoramos a parte imunitária, a nutricional, há tempo de se adaptar ao grupo, formar hierarquia em um ambiente maior, e isso ajuda bastante”.

Na questão imunológica, a pesquisadora dá o exemplo da vacina contra pneumonia. “Tem muito confinamento que fala que tem muita pneumonia, então o animal chega e já é vacinado. Mas se você vaciná-lo quando ele está com a imunidade baixa, as chances de a vacina não ter efeito são grandes”. Em situações em que não seja possível esse período de adaptação fora do curral, Fernanda recomenda pelo menos 24 horas de descanso quando a viagem tiver sido de até 12 horas. Caso o trajeto tenha demorado mais do que isso ou as condições da estrada tenham sido muito ruins, o mínimo de descanso antes do processamento passa a ser de 48 horas para que os animais possam recuperar um pouco da imunidade. “Sabemos que muitos confinamentos quase não têm pasto em volta, não têm piquete, porém é interessante que haja pelo menos esse período de descanso”.

Outro foco de atenção está na formação dos lotes, já que misturar animais que não se conhecem pode ser extremamente estressante para eles. “Eles precisam formar uma hierarquia em um espaço reduzido, então começam a ter brigas, cabeçadas, até que isso seja estabelecido. E durante esse período há perda de desempenho”, explica a pesquisadora. Nesse ponto, uma densidade adequada é importante para evitar encontros negativos entre os animais e lama ou poeira em excesso. De acordo com os estudos, o ideal é 24 m² por animal, sendo o mínimo de 15 a 20 m²/animal. “Para fazendas que não têm condições de adotar o ideal, a indicação é reduzir o tamanho dos grupos”.

De acordo com a professora, os bovinos não estão acostumados a lidar com muitos animais no mesmo espaço. “No ambiente livre, se o lote é grande, com 500, 600 cabeças, não há tanto problema, pois eles formam subgrupos. No confinamento, como o espaço é menor, não há como fazer isso”. De acordo com Fernanda, o melhor é que os grupos não ultrapassem 120, 150 animais. Estudos locais mostram que os resultados são melhores com lotes de 80 animais. “Não só no desempenho, mas também em relação ao ambiente, à saúde dos bovinos. Lotes menores e mais espaço para os animais podem reduzir o número de doentes, a profundidade da lama no período de chuvas, a produção de poeira na seca, entre outros problemas”, diz a pesquisadora.

O conforto térmico também deve ser levado em consideração. No caso da sombra, Fernanda diz que 3 m²/animal (no caso de bovinos com até 520 kg) já foi suficiente para que o desempenho melhorasse em quase 100 g/dia. Sobre a posição da estrutura, ela recomenda que fique do meio para o fundo do curral – não em cima do cocho, para que não tenha dois recursos no mesmo lugar – e que leve sempre em conta o posicionamento do solo para garantir que a sombra ficará sempre dentro do curral e que entre sol na parte coberta em algum momento do dia, o que ajuda a secar urina e lama que fiquem nessa área. Além disso, é preciso que a altura seja de ao menos 3 metros. “Tem gente que faz 2, 2,5 metros, mas se tiver que entrar uma pá para raspar o curral, por exemplo, não entra”. Em caso de uso de aspersor, a pesquisadora também recomenda atenção com o equipamento. “Tem que ser com gotinhas pequenas para melhorar o conforto e reduzir a poeira. Se for aqueles que jogam muita água, vai começa a formar lama e os animais correm”.

A mudança de alimentação também pode ser um fator estressante, segundo a pesquisadora – e que pode ser amenizado durante o período de transição e descanso antes da entrada no curral. Mas essa parte nutricional, diz Fernanda, os confinamentos já estão “craques” em resolver.

Monitoramento

Além dos cuidados de adaptação e estrutura, é importante que exista um monitoramento diário dos animais nos confinamentos e não só nutricional, mas também de saúde, que, conforme Fernanda, costuma ser mais negligenciado. “É preciso um manejo pró-ativo em vez de reativo e existem alguns indicadores que podem ajudar a pessoa a se precaver”. De acordo com ela, é necessário observar, por exemplo, se os animais estão tendo muito corrimento nasal ou ocular, o número de tosses/espirros por minuto para não ter que tratar de pneumonia quando o animal já está com pus, olhar a diarreia não apenas como monitoramento de alimentação, mas também verificando se há sangue, prestar atenção na frequência respiratória, se os bovinos estão muito ofegantes, se estão andando normal ou mancando, entre outros indicadores. “O grau de sujidade também é importante. Se o animal está muito sujo é sinal de que o ambiente não está adequado: às vezes ele para de deitar e a ruminação é menos eficiente. Usamos esses indicadores de saúde para que não afetem o desempenho”.

O Manual de Boas Práticas de Manejo – Confinamento do Grupo Etco pode ser baixado neste link.

Fonte: Portal DBO.

 

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