29 maio de 2017
Brasil – Agropecuária – Insegurança toma conta do mercado do boi gordo

Com as recentes delações da JBS, há quem prefira não vender animais a prazo para a empresa, que não confirma ter dificuldade para adquirir matéria-prima

Marina Salles

Após a delação premiada dos donos da JBS envolvendo o atual presidente Michel Temer, em 17 de maio último, um clima de incerteza tomou conta do mercado do boi gordo. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), entre o dia 17 e  24 de maio, o Indicador Esalq/BM&FBovespa cedeu 0,43%, passando para R$ 134,38/@ nesta quarta-feira, 24. O ritmo dos negócios é lento, com compradores na expectativa de uma queda de preços nos próximos dias.

Já os pecuaristas estão preocupados com a concentração de mercado, decorrente da ascensão da JBS nos últimos anos, e com o posicionamento da empresa, que informou, em nota oficial que padronizou todos os processos de compra de gado no Brasil há três semanas, optando por não mais adquirir animais à vista, “o que já acontecia em 97% das praças onde atua”.

Luciano Vacari, diretor-executivo da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), afirma que a JBS não justificatificou essa mudança. “É um direito da empresa escolher como vai comprar seus animais. Não é por isso que o pecuarista deixará de buscar outras alternativas”, diz. “Cada um sabe dos seus compromissos e, por isso, a Acrimat está buscando, junto aos órgãos competentes, ações para fomentar o setor, como a isenção do ICMS para abate de bovinos em outros Estados e a adesão de Mato Grosso ao Sisbi, Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal”. A partir do momento em que as indústrias regionais – autorizadas a vender carne somente em seu município ou Estado – forem inseridas nesse sistema, poderão colocar produtos no mercado nacional. De acordo com Vacari, hoje a JBS detém 48,8% dos abates no Estado.

Luiz Carlos Meister, pecuarista na região da baixada cuiabana, afirmou que, na dúvida sobre negociar ou não a prazo com a JBS, preferiu recorrer a outras opções. “Antes eu vendia à vista para a JBS com desconto de 2,5% em relação ao pagamento com 30 dias. Agora, estou entregando meus animais para o Frigosul, que é forte no ramo de curtumes, mas tem praticado preço à vista sem descontos”, diz.

Na opinião de Gustavo Figueiredo, da Consultoria Agroagility, a JBS optou por fazer pagamentos a prazo para preservar seu fluxo de caixa, o que, ele acredita, irá gerar efeitos nocivos neste momento, em que a credibilidade da empresa está abalada. “No Mato Grosso do Sul, os concorrentes estão fazendo mais volume, mesmo oferecendo menos pela @”, diz. De acordo com Figueiredo, diferentes plantas do Estado estão comprando bois a  R$ 120 – R$ 122/@ à vista para descontar o Funrural; enquanto a JBS estaria pagando R$ 126/@ a prazo no Estado, também para descontar a contribuição. “A diferença entre uma oferta e a outra não é tanto o preço, mas as 30 noites que separam o produtor do pagamento em meio a essa crise envolvendo a companhia”. A Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), informa que cerca de 70% a 80% do abate de bovinos no Estado está sob controle da empresa.

Em praças de São Paulo, André Crivelli, operador de mercado da Terra Investimentos, conta que a JBS está trabalhando com preços na casa dos R$ 138/@, ainda para descontar o Funrural. “E mesmo sendo extremamente atuante no mercado de boi gordo, como a situação é delicada no momento, tem dificuldade de comprar”, afirma.

Analista da Scot Consultoria, Alex Santos Lopes da Silva, também observa um cenário de retração nas vendas para o frigorífico, que seria causado pela insegurança do produtor. “Existe um risco associado a esperar 30 dias para receber de uma empresa que está sendo investigada por denúncias de corrupção e o produtor, ainda que haja impactos negativos para a cadeia, tem de pensar no negócio dele, na margem dele”, diz.

Situação sustentada – Procurada pela reportagem, a JBS informou que suas operações “seguem dentro da normalidade dos negócios”.

Nesta sexta-feira, 26, também foi divulgada pela Assessoria Agrobrazil, parceira da Cross Investimentos, especializada em estudos de mercado e negociações, uma avaliação sobre as escalas de abate da JBS nesta semana. O relatório, enviado à reportagem por e-mail, qualifica como surpreendente “a força que a empresa tem mesmo em meio à enorme turbulência que vem atravessando”. Embora pondere que a próxima semana será decisiva para delimitar o rumo que o mercado está tomando, a assessoria informa que, até o momento, a oferta de boi para a JBS não foi reduzida, havendo apenas casos pontuais, em algumas praças, de dificuldade de compra.

No médio prazo, no entanto, a Agrobrazil considera que existem duas situações possíveis:

1ª – A JBS não conseguir comprar a quantidade necessária de animais para abastecer suas plantas, a ponto de ter de pular abates ou até fechar algumas unidades, gerando uma oferta imensa de bois no mercado e consequentes quedas de preço.

2ª – A JBS provar sua estabilidade financeira, apesar da crise, e começar a pagar à vista para vencer a desconfiança do mercado; dando férias coletivas em algumas plantas, mas se mantendo ativa. Nesse cenário, o fator pagamento à vista poderia trazer um alívio para o boi BMF, que segue muito pressionado.

 

Fonte: Portal DBO
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