22 ago de 2017
Brasil – Agropecuária – Investir em tecnologia aumenta rentabilidade das fazendas

Estudo da Embrapa com fazendas modais mostrou que ajustes moderados já têm impacto considerável na produtividade do sistema

O investimento em tecnologias em propriedades de corte pode multiplicar a rentabilidade do negócio, principalmente em períodos de melhora nos preços. “Quando há depressão nos valores, sistemas de níveis tecnológicos diferentes ficam mais semelhantes em termos de retorno, porque o mais tecnificado tem risco maior envolvido. Mas quando há uma recuperação dos preços, a diferença entre um sistema de baixa produtividade para o de alta tecnologia é grande”, diz Mariana de Aragão Pereira, pesquisadora da Embrapa Gado de Corte.

 

Para medir o impacto entre dois sistemas diferentes, um estudo da Embrapa Gado de Corte montou duas fazendas modais (propriedades fictícias que representam modo de produção encontrado na região) em Mato Grosso do Sul: uma com nível de tecnologia básico e outra com intermediário. “Isso foi feito em 2013 em painel com 10 a 15 pessoas, entre elas produtores, pesquisadores, fornecedores de crédito e técnicos”, afirma Pereira. Depois dessa etapa, as informações levantadas pelos convidados foram checadas para ver se eram consistentes. “Então, utilizando a mesma metodologia do Cepea, pesquisamos preços de mercado em MS e fizemos as análises econômicas para saber quais as receitas, custos e margens de cada sistema”, conta.

 

Diferenças – As duas fazendas modais foram concebidas pelo mesmo time, para evitar discrepâncias de metodologia, com 1.600 hectares de área de pastagem. São três funcionários para a de nível básico de tecnologia e quatro para o sistema intermediário. “Acrescentamos um tratorista para dar conta das diferenças”, declara a pesquisadora.

Em termos de pastagem, os dois sistemas têm predominância de braquiária, mas na intermediária há rotação de 10% com tanzânia. “As invernadas do sistema intermediário são menores, há um manejo mais apurado e recuperação de uma área maior por ano, com correção com adubo ou calcário, o que melhora a capacidade de suporte”, relata Pereira. A capacidade de suporte é de 0,76 UA/ha no nível básico contra 1 UA/ha no mais tecnológico.

“Na nutrição, a principal diferença é a qualidade do sal, no intermediário tem fósforo mais elevado. Na recria, recebem mineral proteico na seca durante 90 dias e há suplementação por 70 dias para terminação. Com esses ajustes, consegue terminar animais a pasto ainda nas águas”, explica Pereira. Em relação à reprodução, a estação de monta cai de 150 para 120 dias na intermediária e há exame andrológico nos touros a cada dois anos. “Com isso, você tem um controle maior sobre qual é a fertilidade dos animais, o que permite usar mais vacas por touro”.

Outro aspecto importante para o avanço tecnológico do sistema é a gestão. “Quanto mais você intensifica, maior é o nível de exigência de gestão, é preciso se capacitar desse ponto de vista também”. A propriedade intermediária faz planejamento simplificado, tem controle de rebanho e recebe algumas visitas técnicas no ano enquanto o nível básico é bem mais bruto (veja todas as diferenças na tabela no fim da página). “Não há nada de excepcional nesse caso. Talvez seja muito mais uma questão de ajustes do sistema do que uma mudança drástica”, diz a PhD em administração rural.

Resultados – Com essas alterações no sistema, a propriedade de nível intermediário teve desempenho melhor em todos os quesitos. O rebanho contabilizou 2.870 cabeças contra 2.036 do outro sistema, a taxa de natalidade passou de 65% para 80% e o abate de machos ficou em 32 meses ante 40 meses do sistema básico. Os machos também foram abatidos com mais peso (480 kg contra 470 kg). No final, a diferença de produtividade chegou a quase 100 kg/ha/ano (183 kg/ha/ano no intermediário e 89 kg/ha/ano no básico).

 

Do ponto de vista econômico, as despesas relativas à manutenção da atividade foram de quase o dobro (R$ 223.880 no bás. e R$ 440.863 no int.) e os custos também cresceram (R$ 639.700 no bás. e R$ 983.171 no int.), mas a diferença das receitas compensou: R$ 651.898 (bás.) e R$ 1.317.449 (int.). “Como tenho uma produção bem maior, meu custo fixo cai, eu diluo ele, que é o que esperamos da tecnologia. Ele acontece independente de você produzir ou não, então é preciso otimizar o uso dos seus recursos para reduzir o custo fixo. No sistema básico, o custo fixo representava 65% do total, no intermediário cai para 55%, dando mais espaço para o custo variável, que é o que vai dar os resultados produtivos”.

 

O lucro líquido, descontando depreciação da infraestrutura, juros, custos e até a remuneração do produtor, ficou em R$ 12.197 (bás.) e R$ 334.278 (int.). O valor da arroba considerado foi a média de MS no ano passado: R$ 134 para machos e R$ 124,07 para fêmeas.

 

Custo-benefício – “Se o produtor olhar pelo lado da despesa, dobrou, mas se pensar somente dessa forma, vai deixar de colher os lucros”. A pesquisadora ressalta que é importante analisar os investimentos em tecnologia pela ótica do custo-benefício e não apenas dos custos. “Se eu usar essa tecnologia, o que ela vai trazer de benefício, quais serão os retornos, quanto meus animais vão ganhar de peso ou quanto vou conseguir economizar com isso? É preciso fazer essa análise para tomar a decisão baseada em informações e não só no ‘eu acho’”.

 

Segundo ela, algumas tecnologias têm custo proibitivo, o que dificulta o acesso, mas os ajustes trabalhados na pesquisa não. “São coisas normais da pecuária, uma nutrição melhor, recuperar a pastagem. O produtor deve entender que os principais ativos que ele têm são o pasto e o boi. Ele precisa de pasto de qualidade e boi com potencial genético para responder, o resto são ajustes”. A dica dela é procurar intensificar o sistema de forma sustentável, buscando alternativas viáveis para a região e o bolso do pecuarista.

 
Fonte: Portal DBO
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