24 jun de 2017
Brasil – Agropecuária – Nódulos na carne não têm risco sanitário, diz especialista

Caroços encontrados em carne bovina enviada aos EUA estão ligados a reação alérgica à vacina de febre aftosa e não trazem risco à saúde humana

Alisson Freitas

Nos últimos dias o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) suspendeu preventivamente a certificação de cinco frigoríficos após autoridades norte-americanas encontrarem irregularidades na carne bovina brasileira. A autossuspensão ocorreu após a detecção de nódulos tanto na proteína in natura quanto na termoprocessada.

De acordo com Enrico Ortolani, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), da USP,  esses caroços são causados por uma reação alérgica de vacinas contra febre aftosa e não representam nenhum risco sanitário.

 

”Os nódulos surgem apenas no local da vacina e não têm nenhum risco à saude humana. Acredito que essa  suspensão foi imposta por medida preventiva e logo deve ser esclarecida”, destacou o especialista, acrescentando que esse problema é recorrente em países que vacinam seu gado contra aftosa. “Recentemente um professor do Reino Unido veio ao Brasil para estudar esse fenômeno”.

 

Ortolani fez questão de ressaltar a diferença entre esses nódulos e outro problema que geralmente é causado durante a vacinação: o abscesso. “São coisas totalmente diferentes. Esse caroço surge quando o animal tem alergia a algum componente da vacina. Ele cresce gradativamente em um determinado período após a vacinação, sendo quase impossível de ser detectado na hora da aplicação. Já o abscesso é causado unicamente pela má higienização dos produtos e é perceptível na mesma hora”, explicou. “A diferença é muito grande, o nódulo é sólido e o abscesso é líquido”, acrescentou

 

Nesse caso da exportação aos EUA, o que chamou a atenção de Ortolani foi a presença dos caroços no produto final. Ele explica que sempre que é encontrado esse nódulo na carcaça do animal, a área afetada é descartada pelo frigorífico no momento da toalete. “É um procedimento básico. É muito estranho como isso tenha passado despercebido”, afirmou.

De acordo com o especialista, esse fênomeno começou a ter maior incidência na pecuária brasileira em meados da década de 1980, quando o setor adotou as vacinas oleosas. Esse tipo de vacina é composto por substâncias antígenas (vírus), que podem causar diferentes reações em cada animal.

 

Outros fatores que podem colaborar para a incidência desses caroços podem ser o mau uso e o armazenamento incorreto. “Ainda não se tem uma certeza em relação às prevenções desses nódulos. A própria Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) tem desenvolvido diversas pesquisas sobre o assunto”.

Retirada da vacinação – Militante ferrenho da retirada da vacinação contra aftosa no país, Sebastião Guedes, da Comissão Nacional de Pecuária de Corte (CNPC), afirma que o embarque de carne com esses nódulos é um erro primário e que deve levantar novamente as discussões em relação à reação vacinal.

“É importante que a cadeia discuta não só a forma como a vacina é aplicada, mas também a qualidade dos agentes emulsionantes utilizados na composição das vacinas, que têm causado enormes prejuízos aos produtores brasileiros”, destacou.

A recente decisão do Mapa em retirar o vírus C da vacina, que reduzirá a dose de 5 ml para 2 ml, é vista pelos especialistas como fundamental para reduzir as reações vacinais. “Quanto menos componentes você utilizar na vacina, menor é a chance de causar reações alérgicas nos animais”, explica Ortolani.

 

Para Guedes, a solução para evitar que esse tipo de situação se repita é simples: “Basta que o país resolva tirar a vacinação de vez. Não existe razão para continuar aplicando essa medicação sendo que já temos mais de 118 milhões de cabeças em áreas onde a doença não é diagnosticada há mais de quatro anos, prazo que a Panaftosa (Centro Panamericano de Febre Aftosa) afirma que não há mais necessidade de vacinar. Estamos jogando dinheiro fora e casos como esse podem prejudicar a imagem do Brasil no exterior”, concluiu.

De acordo com informações da Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carne (Abiec), os Estados Unidos representaram 3% do total de embarques de carbe bovina in natura do Brasil entre janeiro e maio deste ano. No período foram exportadas 11.792 toneladas por US$ 49 milhões.

Fonte: Portal DBO
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