Os 60 dias que antecedem o nascimento do bezerro (período em que as vacas são secas) e os 30 primeiros dias de lactação constituem um período crítico para a saúde do animal, que, se não encarado com o devido cuidado, pode prejudicar a produção, a futura reprodução e até a sanidade das crias. O período seco merece atenção redobrada, pois é a fase em que as vacas precisam repor as reservas necessárias para parir e produzir leite de qualidade. É também a época de maior desenvolvimento do feto, o que aumenta a demanda de nutrientes da mãe para a cria, e é quando a glândula mamária “descansa” e se “regenera” para a nova lactação. Conforto térmico, dieta bem ajustada e controlada e cuidados sanitários são a base para evitar problemas.
Conforto – Durante a gestação, o metabolismo das vacas é elevado, o que tende, por si só, a elevar a temperatura corporal delas e causar um desconforto térmico que pode antecipar o nascimento da cria e/ou afetar a produção. Vacas holandesas são mais sensíveis. Por isso, a cerca de 45 dias do parto, caso as temperaturas excedam os 17ºC, 20º C, podem ser molhadas diariamente ou receber ventilação.
Devemcaminhar menos, permanecer em ambiente higiênico, com acesso a água, alimento de qualidade, sombra.
Dieta – No final da prenhez, apesar de os animais comerem menos por conta da compressão da cria no abdômen e das alterações metabólicas do período, a nutrição é extremamente importante. “O tipo de alimentação não muda, e sim a proporção de volumoso e de concentrado. Deve-se avaliar o que o animal está ingerindo e, se necessário, fazer uma adequação nutricional”, avalia o veterinário Marco Aurélio Bergamaschi, da Embrapa Período delicado Pecuária Sudeste, de São Carlos (SP).
Uma ação preventiva importante é a introdução, no concentrado, de sais minerais à base de sulfatos e cloretos, a chamada “dieta aniônica”, que visa evitar a febre do leite (hipocalcemia) e complicações como retenção de placenta, metrite, deslocamento do abomaso e até mastite. “Em rebanhos especializados, de alta produção, a dieta aniônica deve ser fornecida, obrigatoriamente, durante as três semanas que antecedem o parto”, destaca o veterinário Sérgio Carvalho Galhardo, sócio da consultoria Focus Agronegócio, de Tambaú (SP). Para se certificar dos resultados dessa dieta, ele recomenda medir semanalmente o pH da urina, que deve estar entre 5,5 e 6,5.
Sanidade – Ao final da prenhez, em vista das alterações metabólicas no organismo, as vacas ficam com a imunidade mais baixa e susceptíveis a doenças. Assim, no início do período seco deve ser feito o tratamento preventivo da mastite e curativo da mastite subclínica, com a aplicação de antibióticos em todas as vacas. Vale lembrar que o diagnóstico de mastite subclínica é comumente feito por meio de um teste chamado California Mastitis test (CMT) e pelo acompanhamento da Contagem de Células Somáticas no leite (CCS), ressalta Bergamaschi, da Embrapa. Trinta dias antes do parto entram as vacinas para evitar pneumonia, diarreias virais e bacterianas e a clostridiose.
O Pós-Parto – No início da lactação – até a chegada ao pico, aos 60 dias – é quando o produtor pode ter mais lucro. É uma fase, porém, em que a demanda por nutrientes aumenta em vista dos desgastes provocados pelo parto e pela formação do leite. “Se no início da lactação a vaca não for bem alimentada, pode ter seu pico de lactação prejudicado e o cio retardado, o que atrasa a próxima reprodução”, adverte Tiago Moraes Ferreira, gerente técnico de leite da Alta Genetics do Brasil. Ele recomenda para esta fase uma dieta rica em proteína e energia, balanceando-se o volumoso de alta qualidade e o concentrado. “A fórmula varia conforme a qualidade do volumoso e do concentrado. Não existe receita de bolo”, destaca.
Já a dieta para a fase do pico de lactação tem a proporção de alimentos alterada. Para se ter uma ideia, a capacidade de ingestão de matéria seca de uma vaca salta de 14 a 15 kg no período de transição para cerca de 20 kg no pico de lactação. “Deve ser oferecido nesse período o alimento de melhor qualidade que houver na propriedade”, reforça Marco Aurélio Bergamaschi, da Embrapa. “Fornecer fibra nessa fase é importante para a digestão”, acrescenta. Entre os alimentos proteicos, os mais comuns são o farelo de soja, ureia (como complemento) e farinha de amendoim. Entre os energéticos, casca de soja, polpa cítrica, milho, sorgo.
No manejo, uma indicação é separar as novilhas primíparas dos lotes das demais vacas, visto que as mais velhas são mais ágeis para comer no cocho, o que pode prejudicar o acesso das mais novas aos alimentos. Na ordenha, as novilhas de primeira viagem devem encabeçar a fila, que deverá ter, por último, as vacas que já tiveram mastite.
Por que secar – A secagem das vacas é importante para a recuperação da glândula mamária e para preparar a fêmea para a próxima lactação. Em animais com menor capacidade de produção, a secagem tende a ocorrer naturalmente após 10 meses de lactação, com a diminuição gradativa do leite, até culminar com o fim da produção. Já as vacas de maior potencial produtivo necessitam, normalmente, ser “forçadas” a parar de produzir.
Nesse caso, recomenda-se diminuir o fornecimento de alimentos concentrados e que sejam dados aos animais volumosos com maior teor de fibras. A água não pode ser restringida. “Esse tipo de manejo promove a diminuição da produção diária de leite”, ressalta o veterinário Marco Aurélio Bergamaschi.
No dia efetivo da secagem é realizada a última ordenha. “A interrupção deve ser abrupta”, ensina o veterinário. A partir de então, a vaca deve permanecer em local distante da sala de ordenha, a fim de não receber estímulos para a lactação. A ordem é evitar que o animal tenha contato visual com outros sendo ordenhados, ouça o barulho da ordenhadeira ou seja manejado junto às demais vacas que serão ordenhadas.
Após a secagem, inicia-se o tratamento preventivo de mastite, com base em 1) antibiótico especificamente formulado para o tratamento de vacas secas, injetado em cada teto, e 2) uso de selante, que é injetado no teto após o antibiótico e funciona como uma barreira física para a entrada de agentes patógenos.
*Matéria publicada originalmente na edição 87 da revista Mundo do Leite.