27 mar de 2015
Brasil – BATE-PAPO COM O COLETIVO BELA RUA

O sonho de qualquer cidadão é viver bem na cidade em que ele mora. Ter segurança para ir e vir, se deparar com ruas bonitas e bem estruturadas para um passeio a pé, para uma corridinha no final da tarde, ou transitar tranquilamente em direção ao seu destino. Esse sonho depende das pessoas de órgãos públicos e proprietários de estabelecimentos que, vale lembrar, devem pensar em uma cidade para todos.

O coletivo* Bela Rua tem como objetivo construir ruas mais agradáveis, seguras e acessíveis. O bate-papo de hoje é com a Jeniffer Heemann,fundadora do Bela Rua, que conta um pouco da sua missão do ponto de vista do coletivo e como cidadã da cidade de São Paulo.

*coletivo – grupo de pessoas bem intencionadas e que fazem acontecer

FF Como nasceu o Bela Rua?

Bela Rua Há uns dois anos, eu costumava caminhar todos os dias até o trabalho. Um dia me dei conta do quanto passar por ali [rua Maranhão, em São Paulo] toda manhã me fazia bem e comecei a me questionar por que eu não sentia da mesma forma em outras ruas. Entendi que aquela era uma rua agradável, cheia de árvores, com poucos carros, com uma calçada larga e bem cuidada, e algumas opções de atividades (padaria, banca de revista, bancos…). Aquela rua fazia eu me sentir bem, me convidada a caminhar e curtir o passeio. Decidi que toda a cidade deveria ser feita de ruas assim e que, se ninguém parecia estar fazendo algo, eu mesma iria fazer. Aí logo conheci mais pessoas com a mesma vontade e nos unimos para fazer essa vontade se concretizar. Entre essas pessoas está a Juliana Barsi e o Renato Forster, que tocam mais o Bela Rua comigo, e a Ana Carolina Angotti e a Rafaella Wolf, que ajudam sempre que podem. Também descobri autores com uma visão de cidade que combina com a minha, como Jane Jacobs e Jan Gehl. Enfim, o Bela Rua nasceu da vontade de ser mais feliz na cidade onde moramos.

FF Vocês usam o termo “Placemaking” para descrever as atividades do Bela Rua. O que significa?

Bela Rua Placemaking [termo usado pela Project for Public Spaces – organização sem fins lucrativos de Nova Iorque] é uma ferramenta de planejamento, desenho e manutenção dos espaços públicos, onde as pessoas são as protagonistas. São as pessoas que dizem quais são os problemas de um espaço, são elas que dão ideias e ajudam a fazer a transformação acontecer. Ao usar as ferramentas desta abordagem em um projeto urbano, garantimos que o projeto sirva ao que as pessoas sonham e necessitam naquele espaço. Também usamos técnicas do Design Thinking* para entender o comportamento, as necessidades e os desejos das pessoas e ajudá-las a criar um espaço que tenha a ver com ela.

*Design Thinking – uma abordagem prática que acelera a inovação e soluciona problemas através de um olhar humano

FF Quais são as ações que o Bela Rua realiza? 

Bela Rua O Bela Rua busca entender a relação das pessoas com a cidade para, então, sugerir ideias e projetos que beneficiem essa relação. Criamos projetos e intervenções urbanas, mas também realizamos eventos ao ar livre, ações de conscientização, aplicativos e qualquer outro projeto que tenha o compromisso de beneficiar a relação pessoas x cidade. Outro compromisso que temos é o de comunicar essa nova forma de pensar a cidade e o sentimento de que todos podem fazer algo por ela para o maior número de pessoas possível. Como deixar esse assunto tão divertido e sedutor que todos queiram fazer parte desse movimento? Estamos descobrindo, mas já temos algumas ideias nessa área também.

FF O “Curativos Urbanos” é uma ação que além de conscientização, traz o bom humor e as cores chamativas. Por que a ideia de unir design, impacto social e mobilização?

Bela Rua De um jeito colorido e divertido, os curativos urbanos fazem as pessoas olharem para um problema que poderia passar despercebido. E faz com que elas tenham vontade de discutir o assunto e atuar sobre ele. Através de curativos gigantes e coloridos, o assunto se conquista a atenção, tanto que a ação já foi replicada por pessoas que nem conhecemos em mais 8 cidades brasileiras (Campinas, Porto Alegre, Vitória da Conquista, entre outras) e em Roma, na Itália. É um típico caso de Placemaking, onde as pessoas da comunidade fazem algo para alertar ou melhorar um problema coletivo. Provavelmente, se tivéssemos feito uma assembleia para discutir os problemas das calçadas não teríamos esse resultado. Como falei antes, tornar esses assuntos atraentes é importante para envolver pessoas que, de outra forma, nem dariam atenção para ele.

Curativos Urbanos

FF Quais são as necessidades das grandes cidades que mais precisam de atenção?

Bela Rua Para mim (estou falando como cidadã agora e não como organização) as principais necessidades das pessoas em uma grande cidade são: mobilidade, saúde e segurança. Esses três estão presentes em todos os espaços públicos e também impactam no nosso bem-estar. Por exemplo, uma rua que seja muito inclinada, com calçadas estreitas e cheias de degraus, e, ainda, não ofereça opções de atividades é ruim para se locomover, impacta na saúde pública (pois as pessoas caem e se machucam nessas calçadas) e é insegura (como não tem nada para fazer, também não tem pessoas que zelem pelo local, diminuindo a segurança).

O Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, diz que uma cidade boa é boa para todos: crianças, idosos, pessoas com deficiência. A cidade precisa garantir que todos tenham uma boa relação com ela, que essa relação seja simples e agradável.

FF Uma pesquisa realizada pela ONU apontou que, em 2050, 2 de cada 3 pessoas viverão em centros urbanos. Como o Bela Rua analisa esse dado? Como fazer para que a cidade fique mais atrativa, convidativa, segura e acessível?

Bela Rua Esse dado serve para comprovar o quanto precisamos planejar melhor o crescimento das cidades. Teremos ainda mais pessoas vivendo nelas e, se hoje já temos problemas como trânsito, insegurança e poluição, o que faremos para pelo menos não piorá-los quando as cidades crescerem? Aqui no Brasil já vimos que dar prioridade para o transporte privado não deu certo, que tirar as atividades do espaço público e colocar dentro de condomínios aumentou a insegurança nas ruas e fez essas atividades serem menos atrativas, entre tantos outros problemas. Precisamos resgatar o valor da vida pública, de conviver com pessoas diferentes nos espaços públicos, de gostar de estar na rua. Para isso, as ruas precisam ser convidativas. Se você não tiver nada para fazer no espaço público, ninguém vai para lá, a não ser que seja alguém preocupado com essas questões. Precisamos criar mais espaços públicos de convivência, onde você possa descansar, ler um livro, tomar um café, curtir o sol… E também tornar o assunto mais interessante, para que as pessoas pensem nisso e exijam uma cidade melhor. Elas já conhecem os problemas, só precisam descobrir as soluções também.

FF Existe uma receita para criar belas ruas que qualquer indivíduo possa fazer?

Bela Rua Não sei se existe uma receita padrão, porque cada rua tem pessoas, culturas e necessidades diferentes. Mas com certeza todos podem contribuir de alguma forma para que nossas cidades sejam mais agradáveis. Tem pessoas que cuidam da praça perto de casa, outras que pintam muros cinzas com cores alegres, que alertam para os buracos da calçada com curativos gigantes, que consertam a calçada em frente a sua casa para que ninguém se machuque, que exigem soluções do poder público, enfim. São pequenas atitudes que trazem grandes benefícios, e isso todos podem fazer.

 

 

Com informações da Fenômenos.org e Ioeste

 

 

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