02 jun de 2015
Brasil – Pecuária brasileira emite menos gases de efeito estufa do que o estimado pelo IPCC
Um estudo realizado por pesquisadores da Embrapa Agrobiologia em pastos do Cerrado brasileiro mostra que a emissão de óxido nitroso (N2O), um dos gases de efeito estufa (GEE), é pelo menos 50% menor do que tem sido estimado com base no modelo do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês). Os dados medidos pela Embrapa já foram incorporados ao inventário nacional e significam uma redução nas estimativas de emissões totais de GEE da agropecuária brasileira na ordem de 10%.
 
O pesquisador Bruno Alves explica que devido ao tamanho do rebanho bovino nacional, em torno de 200 milhões de cabeças, as excretas (urina e fezes) representam a maior parte das emissões de óxido nitroso do inventário nacional da agropecuária. “Mais da metade do que é emitido de N2O vem das excretas do boi; é mais do que vem de fertilizantes e resíduos de culturas”, esclarece.
A metodologia do IPCC, aplicada na elaboração de inventários nacionais, além de utilizar dados genéricos para todas as regiões do mundo, considera que as emissões de excretas depositadas nas pastagens ocorrem de maneira igual, independentemente de serem fezes ou urina. A pesquisa da Embrapa mostra que as fezes bovinas têm um fator de emissão muito menor e por isso não dá para ser utilizado o mesmo índice estabelecido para urina.
 
Além disso, no Cerrado, onde o estudo foi feito, existe uma época seca, que dura cerca de cinco meses por ano. Nessa época, as emissões das excretas são muito baixas e até próximas de zero, de acordo com o estudo. Bruno esclarece que os fatores de emissão do IPCC servem para todo o período de doze meses. “Quando consideramos essa época em que os animais estão excretando, mas não emitem nada, as emissões do período seco ponderadas com as emissões do período chuvoso permitem chegar a um fator de emissão que é bem mais baixo do que o do IPCC”, explica o pesquisador.
Metodologia
Por meio de experimentos de campo, os pesquisadores  monitoraram, por um ano, a urina e as fezes dos bovinos quanto a produção de N2O ao longo dos períodos chuvosos e secos.  “O fator de emissão é a proporção do nitrogênio que estava nas excretas que se transformou em N2O”, detalha Alves.
Nos cálculos, consideram-se as emissões das excretas em cada período do ano para se obter um fator de emissão anual. O estudo da Embrapa concluiu que o fator deveria ser 0,7%, bem menor daquele existente na metodologia do IPCC que estima que 2% do nitrogênio depositado no solo como excreta vira N2O e vai para a atmosfera.
Bruno Alves afirma que a realidade da agricultura brasileira será mais bem representada com o avanço das pesquisas que a Embrapa e outras instituições vêm desenvolvendo no País.
Emissões podem ser reduzidas
Outro estudo da Embrapa Agrobiologia, ainda inédito, revela que as emissões de gases de efeito-estufa pela pecuária podem cair com o aumento da produtividade da pastagem, e o uso de leguminosas forrageiras em consórcio com a braquiária seria uma opção com amplo efeito e menos emissões. “Com esse trabalho, conseguimos ver quanto é a emissão de GEE por quilo de carne produzido no País de acordo com o manejo adotado”, esclarece o pesquisador Robert Boddey, que coordenou a pesquisa.
O estudo avaliou cinco cenários diferentes na pecuária brasileira, desde a condição de pasto degradado até a pastagem adubada combinada com confinamento. As estimativas foram feitas com a metodologia do IPCC, porém com vários dados levantados em pesquisas no Brasil, inclusive incorporando os resultados do estudo de emissões de N2O das excretas.
Os resultados mostraram que, em comparação ao que se chama de pastagem degradada (Cenário 1), as emissões totais podem ser reduzidas em 16% com a pastagem fertilizada ocasionalmente (Cenário 2). Além disso, a produção de carne dobra, e, por isso, a emissão de gases por quilo de carne produzido diminui em 30%. “Não é o ideal, mas algumas práticas básicas, como a calagem e a manutenção com fósforo e potássio, combinado ao controle do pastejo, já trazem importantes ganhos”, diz Boddey.
Boddey explica que com uma pequena melhoria da pastagem (Cenário 3), consorciando-a com uma leguminosa forrageira, que não exige adubação nitrogenada, aliado a um controle maior dos animais, é possível obter uma redução nas emissões ainda maior, aproximadamente de 26% em relação ao que se teria no pasto degradado, e quadruplicar a produtividade.
Com o aumento da produtividade, a redução das emissões por quilo de carne chega a quase 50%. “Acreditamos que a leguminosa pode ser uma alternativa para obter um bom pasto e conseguir bons índices de produção, com menor emissão de gases, porque dispensa o uso de fertilizantes nitrogenados, os quais são fabricados com uso de energia fóssil, conhecida pela alta emissão de gases de efeito estufa, e também pela produção de N2O que ocorre no solo após sua aplicação”, esclarece o pesquisador.
Nos cenários 4 e 5, não se ganha muito mais com a mitigação de emissões, e requer-se mais investimentos pelo produtor. De acordo com Boddey, com a melhoria das pastagens, é possível criar mais animais em uma área menor. Para os cenários de pouca intensificação, mas com pastos produtivos (cenários 2 e 3), a quantidade de óxido nitroso (N2O) emitida é bem menor do que nos cenários de maior intensificação. “Como o N2O é um gás trezentas vezes mais danoso que o gás carbônico (CO2), traz grande impacto nas emissões totais de GEE”, complementa Bruno Alves, coautor do estudo.
Mais produtividade possibilita maior sequestro de carbono no solo
O pesquisador Segundo Urquiaga, integrante da equipe que realizou os dois estudos, acrescenta que o aumento da produção da pastagem nos sistemas mais intensivos também permite sequestrar carbono no solo pela maior produção de resíduos de parte aérea e raízes das plantas. “Esse processo pode representar a remoção de algumas toneladas de CO2 da atmosfera se a produção do pasto for mantida, e ganhar intensidade com a entrada de resíduos mais ricos em nitrogênio, como os de uma leguminosa forrageira em consórcio”, complementa Urquiaga.
Deve-se ter em conta também que a intensificação na produção de bovinos tem um importante efeito de redução na pressão pelo desmatamento e também na liberação de área para agricultura e para recomposição florestal. Bruno Alves destaca que, o mesmo estudo revela que, quanto mais intensificada é a produção, menor a área requerida para produzir a mesma quantidade de carne. “Da condição de baixa produtividade (Cenário 1) até a de maior intensificação (Cenário 5), reduz-se em mais de 80% a área necessária para produzir a mesma quantidade de carne; com a pastagem consorciada (Cenário 3), a redução chega a 78%”, explica Alves.
O uso do pasto consorciado com leguminosas forrageiras (Cenário 3) é uma opção promissora para reduzir a emissão de gases, segundo os pesquisadores. Trata-se de uma possiblidade cujos benefícios se aproximam daqueles conseguidos com a conversão a um sistema muito intensificado, porém sem exigir qualificação e investimentos maiores do produtor. “Basicamente, o que mudaria em relação ao que é feito na maioria dos pastos brasileiros é a utilização de uma leguminosa que introduz o nitrogênio no sistema por meio da fixação biológica de nitrogênio, permitindo maior oferta de proteína para o boi e fazendo com que o animal engorde mais rapidamente, sem depender de fertilização nitrogenada”, finaliza Boddey.
Congresso Mundial sobre ILPF
Esses estudos serão apresentados no Congresso Mundial sobre Integração-Lavoura-Pecuária, que será em realizado de 12 a 17 de julho, em Brasília. Na ocasião, os maiores especialistas do mundo em intensificação sustentável se reunirão para apresentar trabalhos científicos e debater questões como aumento da produção mundial de alimentos, mudanças climáticas e sustentabilidade ambiental. Mais informações em:

Ana Lucia Ferreira (MTb 16913/RJ)
Embrapa Agrobiologia

Telefone: (21) 3441-1596

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

 

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