30 jan de 2017
Oeste – Agricultura – ENTREVISTA – “Eleições na Abapa e na Aiba revelaram união e maturidade da maioria das lideranças rurais”, diz Júlio Busato

Por Antônio Oliveira

Quem pensou que, em função de divergências entre Presidente e ex-presidentes da Aiba (Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia),  que vieram a público a uns 2 anos, culminariam numa disputa acirrada, no final do ano passado,  pela Presidência da entidade representativa de quase 1.500 produtores rurais do oeste da Bahia, se enganou redondamente. Apenas uma chapa foi registrada, liderada pelo ex-presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Celestino Zanella. Aliás a eleição para novos presidentes tanto da Aiba, quanto da Abapa foi curiosa: Busato, deixou a Aiba e elegeu-se presidente da Abapa; Zanella, deixou a Abapa e seu elegeu presidente da Aiba.

 

A versão web de Cerrado Rural Agronegócios está realizando uma rodada de entrevistas com os dois novos presidentes. A princípio seria uma mesa redonda com os dois, o que não foi possível, neste início deste ano, por causa de compromissos externos de ambos, sendo difícil encontrar os dois juntos na sede conjunta da Aiba e da  Abapa.

 

Iniciamos com  o ex-presidente da Aiba e atual presidente da Abapa, Júlio Busato. Foi uma conversa em que este editor solicitou um balanço da gestão de Busato frente a Aiba, suas realizações e frustrações; metas para os próximos dois anos como presidene da Abapa e da política regional e estadual. Nesta, como sempre entre os líderes do agronegócio no oeste da Bahia, Busato pisou em ovos – pisadas mineiras, diga-se. Lamentou a extinção da Agência MATOPIBA e elogiou os governos de Jaques Wagner e Rui Costa.

 

Leia abaixo a íntegra da entrevista.
 
Cerrado Rural Agronegócios  (CRA) –  Ao terminar o seu mandato como presidente da Aiba (Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia), qual o balanço que o senhor faz destes dois últimos dois anos?
Júlio Busato, da Aiba para a Abapa (Foto: Ascom/Aiba)
Júlio Busato, da Aiba para a Abapa (Foto: Ascom/Aiba)
Júlio Busato – O balanço foi muito positivo. Entendo que o nosso maior feito nessa gestão foi o de ter promovido uma maior união entre as associações, a Fundação Bahia e os sindicatos, para que todos trabalhassem juntos e no mesmo sentido. Dessa forma, conseguimos realizar inúmeras ações que beneficiaram os associados e os agricultores de toda a região, a exemplo da renegociação das dívidas dos produtores do MATOPIBA, em que participamos ativamente de todo o processo, juntamente com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e Ministério da Agricultura (MAPA). Podemos citar também, a licença ambiental eletrônica simplificada, com o apoio da Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), que impediu que as áreas dos agricultores fossem multadas e embargadas, por falta de uma licença ambiental, que nenhum órgão fornecia ao produtor. Trabalhamos na manutenção das BA`s e na reconstrução de estradas, em parceria com o Governo do Estado, e na  melhoria das estradas vicinais, viabilizadas com a parceria entre os produtores, Abapa (Associação Baiana dos Produtores de Algodão) e Prodeagro (Programa para o Desenvolvimento da Agropecuária). Além da Operação Safra e da construção do GRAER (Grupamento Aéreo da PM da Bahia, no oeste do Estado), que vai melhorar muito a segurança da região.  Destaco ainda, a Bahia Farm Show,  que superou nos dois últimos anos a marca do bilhão, se consolidando como uma das feiras mais importantes do Brasil, dentre outras ações.

 

CRA –  O que o senhor relacionaria como avanços e como frustração (algo que não pôde ser realizado)?
Busato – Citaria como o maior avanço, a representatividade e o papel que a AIBA assumiu, tanto no âmbito municipal, como estadual e federal, e do considerável aumento na participação de seus associados. Como frustração, o tempo que demoramos para concretizar nossos projetos e ainda, os que não conseguimos realizar. Além disso, sentimos que não conseguimos demonstrar claramente para todos os nossos associados a necessidade de uma participação dos mesmos, ainda maior, na associação e a importância da nossa união.

 

CRA –  Qual  é a sua expectativa para os próximos dois anos, inclusive deste ano-safra 2016/17?
Busato – A Diretoria da Abapa – gestão 2017/2018 – herdou uma Associação organizada e eficiente. Nossa missão será a de manter o padrão de trabalho que vinha sendo feito pela diretoria anterior.
CRA –  Esperavam-se que essas novas eleições na Aiba e na Abapa seriam disputadas por dois grupos – em cada instituição. O que resultou neste consenso?
Busato – Foi aberto um processo eletivo nas duas instituições, o que considero muito salutar para as associações, e foi registrada uma chapa em cada. Entendo que os associados aprovaram as gestões feitas pelas diretorias da Abapa e Aiba no biênio 2015/2016.
CRA –  Acredita, também, que isto revela maturidade das lideranças rurais no oeste da Bahia, ou foi falta de interesse em enfrentar desafios, assumir tamanha responsabilidade?
Busato – Acredito que isso revela a união da maioria das lideranças da região e da sua maturidade.
CRA –  Quais as plataformas de trabalho do senhor para esses próximos dois anos na Abapa?
Busato – Retomar o crescimento da área de algodão, pois temos uma capacidade instalada de 400.000 ha na região oeste, e nesta safra, cultivamos somente 210.000 ha, ocasionando uma perda muito grande para os produtores e para a região, no que se refere à geração de emprego e renda. Outra frente de trabalho importante está ligada às questões fitossanitárias. Assim, buscaremos promover uma melhoria junto aos produtores no Programa Fitossanitário da Abapa, principalmente nas ações que se referem ao controle do bicudo-do-algodoeiro.

 

CRA – Como analisa a atenção e/ou o trabalho que o governo do Estado tem dispensado aos interesses do agronegócio na região, como infraestrutura, segurança, logística, apoio as pesquisas e extensão rural?
Busato – Nesses quatro anos à frente da diretoria da AIBA, pude observar uma melhoria e um aumento significativo na atenção que o Governo do Estado tem dado à região oeste. Tivemos todo apoio do ex-governador, Jaques Wagner, do atual governador, Rui Costa, e do vice-governador, João Leão, que é um lutador incansável pelas causas do Oeste. Fizemos parcerias produtivas com as secretarias do estado e  quero destacar a atuação dos secretários Eduardo Salles, Jairo Carneiro e agora João Vitor Bonfim da SEAGRI e da ADAB, que tiveram um papel importantíssimo nas iniciativas voltadas para o controle da lagarta helicoverpa armigera, além de outras ações. Destaco ainda,  a atuação do secretário Eugênio Spengler, pela criação do Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais (CEFIR) e nas questões de licenciamento Ambiental;  do secretário Marcus Cavalcanti, da Secretaria de Infraestrutura (SEINFRA), que vem fazendo um esforço enorme na manutenção e melhoria das estradas da região, a exemplo da BA 225, Coaceral e Anel da Soja, entre outros.  O secretário da Fazenda, Manuel Vitório, pela criação do PRODEAGRO, que no futuro será o grande promotor de desenvolvimento, em parceria com os produtores e prefeituras da região, pois irá proporcionar uma melhoria na infraestrutura, principalmente de estradas na região que irão beneficiar não somente os produtores, mas toda a população. Quanto à segurança, a AIBA apoia a Operação Safra da PM, o que, com certeza, trouxe uma maior segurança para a região. Sabemos das limitações que as prefeituras, Estado e Governo Federal vêm enfrentando, e buscamos fazer as ações dentro destas possibilidades, mas tenho a certeza de que quando tempos melhores vierem, vamos avançar muito no desenvolvimento da região.

 

CRA – Não acha que as duas instituições assumem muito mais do que devem obrigações dos governos municipais e estadual, como no caso da manutenção das estradas?
A Aiba e Abapa, as vezes, fazem o papel de Governo na região oeste (Foto: Aiba)
A Aiba e Abapa, as vezes, fazem o papel de Governo na região oeste (Foto: Aiba)
Busato – Sim, achamos. Mas precisamos entender que o oeste baiano tem 7.000 km de estradas. É uma região enorme e de municípios muito pobres ainda. O Agronegócio teve um crescimento bastante acelerado na região e o poder público não conseguiu acompanhar esse crescimento com a infraestrutura necessária. Por esses motivos, nossas diretorias optaram por trabalharmos juntos com o poder público na solução dos problemas, inclusive o das estradas.
CRA – O Ministro Blairo Maggi vem correspondendo com as expectativas do setor rural no Brasil, sobretudo das novas fronteiras agrícolas, caso dos cerrados do Norte e Nordeste do Brasil?
Busato – Com certeza, o Ministro possui um conhecimento enorme de toda a cadeia produtiva, e isso tem ajudado muito para o entendimento e busca de soluções dos problemas, claro que existem muitas limitações, principalmente, pelo baixo orçamento do Ministério, e pelo tamanho e diversidade de nossa agricultura, situação que também foi enfrentada pela ex-ministra, Kátia Abreu, cujo trabalho e luta em prol da agricultura testemunhamos.

 

CRA – O fim da institucionalização do MATOPIBA frustrou o senhor? A Abapa  pretende continuar levantando bandeira do fortalecimento e apoio à região?
Busato – Confesso que fiquei um pouco frustrado, pois tínhamos uma expectativa de um foco maior por parte do Governo Federal em relação ao MATOPIBA e às necessidades para seu desenvolvimento. Com certeza, vamos continuar lutando para o desenvolvimento de uma região que necessita muito e que possui um potencial enorme, principalmente no que diz respeito ao setor agrícola, pecuário, agroindustrial e de irrigação; este desenvolvimento trará grandes melhorias na qualidade de vida das pessoas que vivem no Matopiba.

 

CRA –  O que esperar dos novos prefeitos da região?
Busato – Esperamos que eles façam uma boa gestão, que deem ao setor agropecuário e agroindustrial a importância que merecem. Vamos buscar parcerias através das associações, principalmente na parte de logística. Entendo que, juntos, podemos promover grandes melhorias, sobretudo nas estradas vicinais da região.
CRA –  Não está na hora do Agronegócio da região assumir total ou parcial as rédeas da política regional, no Legislativo e no Executivo, a exemplo do que ocorre em outras regiões agrícolas do Brasil?
Busato – Entendo que isso deve acontecer com o tempo, mas será sempre uma escolha da população da região.
CRA –  A experiência do Dr. Humberto Santa Cruz foi positiva para a classe?
Busato – Não possuo uma opinião formada sobre essa questão.

 

CRA – Como está a relação entre a abapa e a estatal federal de pesquisa, a Embrapa? Ela corresponde com as necessidades da agropecuária regional? Poderia ser melhor? A EBDA faz falta? A Fundação BA tem correspondido?
Busato – A relação com a Embrapa, principalmente com a  Embrapa/ Algodão, é muito boa, o Chefe Geral, Sebastião Barbosa, tem mantido um contato muito intenso com a região, principalmente com a Fundação Bahia, que está com várias pesquisas em andamento, tanto de algodão como de soja. Acreditamos que em um futuro próximo teremos variedades mais adaptadas para a região e mais produtivas geradas a partir desta parceria.

 

CRA –  Por fim, quais as suas expectativas para a Bahia Farm Show deste ano? Senhor Celestino, está preparado para esta missão?
Busato – Tenho a certeza de que será a maior e melhor Bahia Farm Show já realizada, principalmente, se tivermos uma boa safra neste ano, que somente depende da chuva. A diretoria que assumiu a AIBA e a Bahia Farm Show é muito preparada e, com certeza, fará um excelente trabalho.

 

Ascom Editora Cerrado

 

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