Cultivares que vieram para ficar
Participante dos testes de validação das cultivares, a Cooperabs, de Bela Vista de Goiás, está localizada na região do Cará, produtora de polvilho de mandioca desde a década de 1950. Os novos materiais passaram a integrar o rol de cultivares utilizadas pelas 52 famílias de cooperados em cerca de 700 ha de plantio, dos quais 350 ha são colhidos e processados anualmente. A cooperativa comercializa, por ano, cerca de 60 toneladas de polvilho, 40 toneladas de farinha e 5 toneladas de goma de tapioca na região metropolitana da capital goiana, no Entorno de Brasília e em outras 40 cidades de Goiás.
“As novas cultivares trouxeram mais uma janela de oportunidade para a cooperativa. Até então, ficávamos reféns de apenas uma cultivar antiga, usada desde 1987. Se ocorresse uma nova doença ou praga, não saberíamos o que fazer. Com mais cultivares, temos mais segurança na hora de plantar”, diz o presidente da cooperativa, José Atair Neto (foto acima).
Ele aposta na tecnologia para incremento da renda dos cooperados. “A arquitetura ereta das plantas facilita a seleção das manivas, no plantio e na colheita. O rendimento de amido por hectare é considerado satisfatório e a qualidade do amido não interfere na qualidade final do nosso polvilho, que é tradicional”, afirma. “As novas cultivares são uma forma de melhorar ainda mais a produtividade e de ganharmos escala, diminuindo custos”, completa.
Deucivan da Silva, um dos produtores cooperados, destaca que os diferenciais das novas cultivares são a maior rapidez no plantio e a facilidade na colheita devido ao porte mais alto e ereto das plantas. “Há uma diminuição na mão de obra com a pulverização costal, pois não é preciso abrir picadas nas entrelinhas para o aplicador passar. Como são mais altas e não têm tantos galhos, o manejo fica bem mais fácil”, comenta.
“Temos observado um grande aumento na produção de raízes e de polvilho, que é o principal produto da nossa região. Economicamente, foi muito bom para mim e para toda a comunidade”, acrescenta o também cooperado Ediones de Campos.
Produtora de polvilho doce e azedo em Rio Pardo de Minas, no norte mineiro, a fecularia familiar Polvilho Irmãos Cândido também aposta nas novas cultivares da Embrapa para diversificação da produção nos 600 ha de área de plantio de mandioca. A empresa processa 7 mil toneladas anuais de mandioca e produz 650 mil kg/ano de polvilhos. Os produtos são comercializados em feiras e padarias no norte de Minas, no Vale do Jequitinhonha e em municípios da Bahia.
Animada com o potencial produtivo das novas cultivares, a fecularia plantou 15 hectares de cada uma delas na última safra. “São cultivares que vieram para ficar”, comenta Dionísio Cândido, diretor da empresa, que também ressalta as vantagens do porte alto e ereto das plantas.
Ele também comenta sobre as características industriais das novas cultivares: “Elas trabalham bem no descascador. O teor de amido é satisfatório, de 28% a 30%, com excelente desempenho nas caixas de fermentação. Vamos continuar multiplicando (as cultivares) por terem atendido à demanda do teor de amido e para suprir a necessidade da indústria”.
Coordenador técnico da unidade regional da Emater-MG de Salinas, Guilherme Sales, destaca a parceria da Embrapa com os mandiocultores da região do Alto Rio Pardo, na seleção de cultivares adaptadas. “Isso dá segurança para que os técnicos da extensão rural possam recomendar os materiais mais indicados para o plantio aqui no norte de Minas”, afirma.
As novas cultivares de mandiocas de indústria também foram testadas por produtores de outros segmentos. A cooperativa de avicultores Cio da Terra, do Distrito Federal, iniciou na propriedade de Luiz Gonzaga Lopes um projeto-piloto de produção de mandioca de indústria com o plantio experimental das três novas cultivares da Embrapa.
O presidente da cooperativa, José Malaquias de Castro, explica que os avicultores da região têm manifestado o interesse de aproveitar as áreas livres do entorno das granjas com lavouras que não comprometam a biosseguridade da criação das aves. “Fizemos um projeto-piloto para aprendermos a produzir. Vimos que o mais correto seria produzir mandioca de indústria, pois além de não utilizar produtos nocivos às aves, teríamos vários derivados e, por fim, instalar uma fábrica para agregação de valor à produção”, explica.
Na propriedade de 93 ha, Luiz Gonzaga Lopes utiliza apenas 10 ha para a produção de ovos férteis. Em busca de uma alternativa para complementar a renda e aproveitar a área livre da fazenda, ele destinou 12 ha da propriedade para testar as mandiocas de indústria da Embrapa. “As três cultivares tiveram um resultado excelente. Além de terem ramas verticais e que produzem manivas de qualidade, observamos que elas não tiveram qualquer tipo de doença e que a produtividade é alta, bem acima da esperada”, destaca Lopes.
Fotos (José Atair Neto e raízes da BRS 417): Fabiano Bastos
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