Brasil – Algodão – IV Encontro Women in Cotton ressalta importância de humanizar a narrativa do algodão brasileiro.
Na semana em que completou um ano de atividades no Brasil, o comitê Women in Cotton Brazil celebrou sua trajetória reunindo um auditório lotado para o IV Encontro Women in Cotton Brazil. Realizado no dia 30 de junho, em São Paulo, o evento atraiu mais de 240 participantes — entre homens e mulheres direta ou indiretamente ligados ao algodão — com o propósito de repensar a forma como a fibra é comunicada à sociedade. O ponto central da programação foi o painel “A comunicação resolve problemas complexos. Como aplicar na cadeia do algodão?”, que provocou reflexões sobre como construir uma narrativa mais humana, emocional e conectada com os valores do tempo presente.
Participaram da conversa a coolhunter e trend forecaster Camila Toledo (Style.W), o criador da São Paulo Fashion Week, Paulo Borges, e a diretora de Sustentabilidade da C&A Brasil, Cyntia Kasai, com mediação de Silmara Ferraresi, diretora de Relações Institucionais da Abrapa e líder do movimento Sou de Algodão.
Vínculos e significado
Para os debatedores, comunicar bem não é apenas dizer o que se faz, mas explicar por que se faz e com que impacto — uma mudança fundamental em um cenário no qual o consumo deixa de girar em torno de produtos e passa a valorizar experiências, vínculos e significado. Camila Toledo abriu a rodada destacando que em um mundo ansioso e emocionalmente sobrecarregado, o consumidor busca marcas que tragam esperança e sentido.
“O que diferencia hoje não é o preço, mas o valor simbólico, a consistência da narrativa: o que a empresa está fazendo de bom no mundo precisa ser traduzido para uma linguagem emocional, próxima e humana”, afirmou. Ela enfatizou a urgência de abandonar discursos genéricos e institucionalizados, e aproximar a comunicação dos territórios de pertencimento, propósito e bem-estar.
Na mesma linha, Paulo Borges apontou que a sociedade vive uma transição importante: “As pessoas querem menos acúmulo e mais experiência, mais qualidade de vida e mais conexão. A comunicação precisa acompanhar essa mudança de era e abandonar os velhos padrões do consumo baseado apenas na posse.”
Cyntia Kasai trouxe a perspectiva do varejo, destacando o papel transformador da comunicação ao conectar quem produz com quem consome. “Ao adquirir uma peça feita com algodão responsável, o consumidor precisa perceber que está fazendo parte de uma história maior. Não é só uma roupa. É impacto social, ambiental, é desenvolvimento para o país.” Ela reforçou o valor da proximidade entre indústria e produção: “Para a C&A, participar dessa discussão é fundamental. Hoje, mais de 55% da nossa principal matéria-prima é o algodão. Estarmos próximos da cadeia produtiva nos permite desenvolver produtos com mais qualidade, durabilidade e aceitação. Precisamos estar conectados a quem realmente produz”, ponderou. A C&A é parceira do movimento Sou de Algodão, criado pela Abrapa.
Além dos números
Na abertura do painel, a mediadora Silmara Ferraresi contextualizou o Brasil entre os líderes mundiais do setor: trata-se do maior exportador global e terceiro maior produtor, com 83% da produção certificada socioambientalmente e 93% cultivada apenas com água da chuva. Entretanto, segundo Silmara, os números não são suficientes para gerar conexão.
“Precisamos de um discurso que gere pertencimento, que traduza o valor dessa fibra para as pessoas. O que tivemos aqui foi um debate sobre o futuro da comunicação, sobre como o algodão pode se apresentar como gerador de valor agregado para as próximas gerações. Esse é o verdadeiro diferencial — refletir sobre o nosso lugar diante de um consumidor que tem propósito, que compra de forma consciente e enxerga o mundo de maneira diferente”, defendeu.
Women in Cotton
O encontro foi parte da estratégia global do Women in Cotton, grupo fundado pela International Cotton Association (ICA), com o objetivo de ampliar a presença de mulheres em posições de liderança e fomentar diálogos que fortaleçam a cadeia da fibra natural ao redor do mundo. Uma das metas do grupo é aumentar em 49% a representatividade feminina nos comitês da ICA até 2025.
Na abertura do evento, a presidente do Women in Cotton, Kim Hanna, destacou a importância da escuta ativa e da representação. “Seja na proteção do planeta contra os impactos do fast fashion e das fibras sintéticas, ou na garantia de que as mulheres – que representam uma parcela significativa do nosso mercado de valor – sejam ouvidas e valorizadas, tudo começa com conversas como a que tivemos aqui. É um prazer estar neste evento, e agradeço a cada um de vocês por apoiar essa iniciativa.”
A presidente do comitê brasileiro do Women in Cotton, Marcella Albanez, reforçou esse posicionamento ao lembrar que comunicar é, sobretudo, construir vínculos. “A comunicação é o elo capaz de alinhar discurso, gerar pertencimento e projetar o algodão brasileiro para além das nossas fronteiras. Nosso desafio é transformar temas técnicos em mensagens com alma. A comunicação não pode ser vista como um luxo — ela precisa estar no centro da estratégia”, concluiu.