23 set de 2017
Bahia – Bahia frutífera: com 12,2% do valor de produção de frutas, estado é o vice-líder nacional

Pelo menos três vezes por dia, a educadora social Nilzete Helderman, 59 anos, come frutas em casa – não só ela, mas a filha adolescente e o marido. Mangas, bananas, laranjas, mamões: todas bem baianas, produzidas aqui na terra. Não seria nada diferente da rotina de muitos soteropolitanos, se não fosse o fato de que Nilzete mora na cidade de Julianadorp, na Holanda – ou seja, separada por um Oceano Atlântico e por mais de oito mil quilômetros.

 

“Sei que são importadas daí. Todas vêm com um selo do Brasil e são de perfeita qualidade. Lindas e gostosas. Nunca faltam em minha casa”, conta. Mas não é só na casa dela: hoje, a Bahia responde por 12,6% do valor de produção das frutas cultivadas no país, ocupando a segunda posição no ranking nacional. Só perde para São Paulo. E adivinha para onde vai a maior parte da produção? Justamente para os países europeus, como a Holanda, onde Nilzete mora, e, em alguns casos, para países como a China.

 

De acordo com a Pesquisa da Produção Agrícola Municipal (PAM) de 2016, divulgada nesta quinta-feira (21) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi justamente o crescimento da fruticultura que impediu que a Bahia perdesse posições no ranking agrícola nacional. Assim, em 2016, o estado se manteve no 7º lugar – mesmo passando de um índice de 6,5% para 4,9% do total.

 

A queda foi principalmente com as chamadas lavouras temporárias – ou seja, as que precisam ser plantadas todo ano, como cereais, leguminosas e oleaginosas (grãos). Enquanto isso, as lavouras permanentes – tudo que dá em árvore – continuaram de vento em popa. Na verdade, até cresceram. O valor de produção das frutas baianas aumentou 28,6% em relação a 2015, enquanto o resto do Brasil cresceu 25,9%,

 

“As frutíferas são nossos maiores destaques. No ano passado, estávamos em primeiro lugar com a banana, mas ainda estamos em empate técnico com São Paulo. Até o cacau, mesmo com a seca, mantivemos a primeira posição no país”, destacou o supervisor de agropecuária da Bahia do IBGE, Luís Alberto Pacheco.

De uma forma geral, os principais produtos são justamente a banana, o mamão e o maracujá. Mas, além disso, há destaques individuais. Juazeiro, no Vale do São Francisco, por exemplo, teve um aumento 143,5% na produção de manga. Esse incremento foi um dos principais responsáveis para que o município saísse do nono lugar entre os produtores de frutas para o sétimo, com produção estimada em R$ 240 milhões.

 

Mangas de Juazeiro
O caso das mangas é ainda mais emblemático, com quase 108 mil toneladas em 2016. Hoje, Juazeiro já é o segundo maior produtor do país (era o quarto), uma vez que, a cada 100 mangas produzidas no Brasil, praticamente onze (10,8%) são de lá. Inclusive, desde 2014, as mangas da região do Vale do São Francisco são reconhecidas com um selo de originalidade – é o registro de Indicação Geográfica (IG), concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inspi). No entanto, o primeiro lugar nacional na produção, por enquanto, é da vizinha Petrolina (PE).

 

Outros municípios que ainda são destaque com as mangas são Wenceslau Guimarães (o 12º maior), Bom Jesus da Lapa (19º) e Rio Real (20º). No ano anterior, 2015, Wenceslau Guimarães, no Sul do estado, sequer aparecia entre os 20 municípios com maior produção – era o 34º. Só que, além da manga, a cidade também aumentou a produção de banana, que é o carro-chefe por lá. Para dar uma ideia, o valor de produção passou de R$ 93 milhões para R$ 207 milhões.

 

A Bahia também se tornou o segundo maior produtor de laranja do país, superando Minas Gerais. Mesmo com uma queda de 2,7% na produção, foram colhidas 1,1 milhão de toneladas de laranjas. São Paulo, por outro lado, continua sendo o campeão nacional, com uma produção que equivale a 74,5% do total do país.

Isso tudo, segundo o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), Humberto Miranda, reforça que a fruticultura está se consolidando cada dia mais. “Está se superando ano a ano. Do ponto de vista governamental, temos um potencial hidríco muito grande que historicamente não tem sido utilizado. Mas o que tem crescido é o tino do empresariado em tecnologia, formação e capacitação”, opina.

 

Segundo Miranda, o percentual de áreas plantadas tem sido mantido na fruticultura, sem abertura de novos locais para plantação. “Com conhecimento e inovação, temos aumentado a produção e ajudado a economia do estado, inclusive na geração de empregos”.

Dentre as frutas, a única que não tem acompanhado a evolução é o cacau. De 2015 para 2016, a safra teve queda de 21,7%, com um total de 213 toneladas. Mesmo com diminuição de 24,5% do total colhido, a Bahia ainda está na liderança nacional, com uma participação de 54,1% do mercado.

 

Dos 20 principais produtores do estado, dez são baianos – embora a liderança fique com Medicilândia (PA), que leva uma fatia de 14,27%. Ilhéus, a primeira do estado, é a segunda do país, mas não tem nem 1/3 do total do município paraense (são 3,94% do total).

“O cacau não tem acompanhado esse crescimento, mas outras culturas importantes têm crescido bastante e ocupado esse espaço. Inclusive, temos culturas exóticas, como a produção de uva e morango, que são culturas de clima temperado e que, até então, não tinham espaço na fruticultura baiana”, completa Humberto Miranda.

Em nota, a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura do Estado (Seagri) informou que, na região cacaueira, “o período seco ocorrido nos anos de 2015/2016 causou graves consequências sobre a economia regional, reduzindo a renda do agronegócio, diminuindo o número de empregos, chegando até a afetar de maneira expressiva o abastecimento de água em vários municípios”.

 

Futuro melhor
Para 2017, o prognóstico é ainda melhor. A atual situação no Terminal de Contêineres do Porto de Salvador (Tecon) ajuda a dar um vislumbre: em comparação ao ano passado, as exportações de frutas que saíram de lá aumentaram 126%.

Só de mangas, o número de contêineres passou de 682 em 2016 para 801 este ano – e só até a primeira semana de setembro. No caso de uvas, que têm uma produção menor, os contêineres aumentaram de 42 para 114, de acordo com o diretor-executivo do Tecon Salvador, Demir Lourenço Júnior.

 

“A nossa movimentação é muito concentrada no segundo semestre, especialmente entre setembro e dezembro. Mas, esse ano, a gente teve mais movimento nos outros meses do ano, quando isso é bem reduzido. Os números são impressionantes. O crescimento tem vindo ano a ano”, pontua.

Fonte: Jornal Correio

 

 

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