10 fev de 2016
Barreiras -“Morte do Nego da Bil”, por Clebert Luiz

Morreu ontem

Um homem das cavernas

Dentro de sua escuridão

Procurando a si sem lanterna

Um carvoeiro capeta

Que amedrontava em silêncio

Sem os chocalhos

Do demônio Pologo

Um homem sem sorte no jogo

Sem êxito ou logro

Um homem fantasiado de pesadelo

Serpenteando sem serpentinas nem cetins

Os becos e bueiros

Da velha Barreiras

Um homem sem o riso de Irá

Que dirá o dinheiro de Badu

Um homo erectus reto em sua profunda gruta

Que amedrontava sem grunhidos nem alarde

Um homem na tarde

De sua periférica Vila Brasil

De febre? De tifo?

De dengue, nego Bil?

Numa cidade entre serras

De merengue ou deboche?

Dos nervos sem frevo

Do axe chato de sobreviver?

No ermo da pátria amada Brasil

No solo, sem colo nem consolo

Ao sol do terra mae gentil

Morreu ontem o nego Bil

Um anônimo, um avesso nazaro

Oculto não em seus lençóis

Escondido em seus porões

Sepultado na quarta feira de cinzas

Em plena ressaca coletiva

Esquecido da folia

Sozinho no compacto bloco

De si mesmo

Sem cordas nem cordeiros

Um lobo na pele de si mesmo

Morreu ontem

Um traste

Um azarado nazaro

Um raso Lázaro

Atolado em seus escombros

Ressuscitado agora nesta

Nesta folha branca

Nesse lençol claro

Enrolado em rede de nazaro

Que se quiseres podes

Amassar ou rasgar

Como suas amarrotadas vestes

Nego-da-Bil1

ZDA

 

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