03 jun de 2017
Brasil – Agricultura – Adubação nitrogenada foliar em soja cultivada na região Centro-Sul do Paraná

Objetivou-se avaliar o rendimento de grãos de soja adubação com nitrogênio foliar na região Centro-Sul do Paraná.

Autores:   Vítor Gabriel Ambrosini(1); Sandra Mara Vieira Fontoura(2); Cimélio Bayer(3); Gabriela de Holanda Nichel(4); Renato Paulo de Moraes(5)

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Trabalho Disponível nos Anais do Evento e publicado com o consentimento dos autores.

RESUMO: A adubação nitrogenada suplementar em soja tem sido utilizada por vários agricultores brasileiros, especialmente por conta da grande pressão da indústria de fertilizantes. Em áreas com alto potencial produtivo (> 4.500 kg ha-1), como ocorre em várias lavouras na região Centro-Sul do estado do Paraná, a hipótese de que adubação nitrogenada em soja aumenta a produtividade de grãos ainda não foi respondida. Dentro deste contexto, objetivou-se avaliar o rendimento de grãos de soja adubação com nitrogênio foliar na região Centro-Sul do Paraná. Para isso, cultivou-se soja da cultivar BMX Apolo RR (Don Mario 5.8i) na safra 2015/2016 em cinco áreas em diferentes municípios: Campina do Simão, Taguá, Pinhão, Candói e Guarapuava. Os tratamentos consistiram na aplicação de N foliar em diferentes estádios de desenvolvimento: V4, R1, R5.1, e combinação destes; além de duas testemunhas: inoculação padrão (IP), e outra sem IP e com fornecimento de 300 kg ha-1, parcelados em duas vezes (50 % na semeadura e 50 % em R1). Ao final do ciclo, os grãos foram colhidos para a determinação da produtividade de grãos. Os dados foram submetidos à análise de variâncias e, quando esta foi significativa, ao teste de comparação de médias de Tukey (p < 0,05). Os resultados mostraram que não houve incremento de produtividade pela aplicação de N. Por isso, conclui-se que a adubação nitrogenada foliar em soja não é eficiente para aumentar o rendimento de grãos, mesmo em áreas com alto potencial produtivo.

 

Palavras-chave: Glycine max (L.) Merrill; adubação em cobertura; nitrogênio; produtividade.

INTRODUÇÃO

O Brasil é o segundo maior produtor de grãos de soja [Glycine max (L.) Merril] do mundo, sendo responsável por pouco mais de 30 % da produção mundial (USDA, 2016). Dentro do cenário brasileiro, o estado do Paraná é destaque na produção de soja, ocupando na safra 2014/2015 a segunda colocação em área cultivada (5.010, 4 mil ha), em produção (17.147 milhões de toneladas de grãos) e em produtividade (3.293 kg ha-1) – esta, acima da média nacional (Conab, 2015). No Paraná, evidencia-se a região Centro-Sul, que possui uma das mais altas produtividades do estado, com média superior a 3.600 kg ha-1 nas últimas três safras (FAPA, 2014) e alto potencial produtivo, sendo alcançadas produtividades próximas à 6.000 kg ha-1 em algumas áreas (Fontoura et al., 2015).

 

Por conta da importância do país no cenário mundial de produção e pelo alto valor de venda dos grãos de soja, alternativas para aumentar a produtividade de grãos são sempre visadas. Dentre essas alternativas, uma prática que vem sendo difundida frequentemente é aplicação de nitrogênio (N) suplementar em soja, mesmo sabendo que a fixação biológica de nitrogênio (FBN) é capaz de fornecer o N demandado pela cultura, o que ocorre especialmente por pressão da indústria de fertilizantes (Hungria et al., 2012).

 

A suplementação de N em soja cultivada em área com alta produtividade (> 4.500 kg ha-1) é fundamentada na afirmação de que a FBN + N fornecido pela mineralização da matéria orgânica do solo (MOS) não seria capaz de fornecer todo o N necessário para a soja expressar o seu máximo potencial produtivo (Salvagiotti et al., 2008; 2009). Apesar disso, ainda existem dúvidas quanto a essa afirmação, sendo necessárias novas pesquisas com adubação nitrogenada da soja em áreas com alto potencial produtivo. Visando responder em parte a essas dúvidas, objetivou-se avaliar o rendimento de grãos de soja adubação com nitrogênio foliar na região Centro-Sul do Paraná.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado em cinco áreas de cultivo de soja na região Centro Sul do Paraná, sendo quatro delas em propriedades agrícolas vinculadas à Cooperativa Agrária Mista Entre Rios e uma na área experimental da Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (FAPA), em Guarapuava. Essas áreas têm como características particulares os sistemas de manejo utilizados, sendo uma cultivada em Sistema de Preparo Convencional (SPC), usada para fins agrícolas há menos de um ano, e as outras quatro em Sistema Plantio Direto (SPD) com diferentes tempos de adoção do sistema e com diferentes sistemas de rotações de cultura. A caracterização do solo de cada área experimental está na Tabela 1.

 

Nas cinco áreas foram cultivadas sojas da cultivar BMX Apolo RR (Don Mario 5.8i), de hábito de crescimento indeterminado, com densidade de 300 mil plantas ha-1. O delineamento experimental, em todas as áreas, foi em blocos completos casualizados, com três (Áreas 1 e 2) ou quatro repetições (Áreas 3, 4 e 5). Os tratamentos consistiram na aplicação de N foliar em diferentes estádios de desenvolvimento: V4, R1, R5.1, e combinação destes; além de duas testemunhas: inoculação padrão (IP), e outra sem IP e com fornecimento de 300 kg ha-1, parcelados em duas vezes (50 % na semeadura e 50 % em R1). A fonte de N utilizada foi ureia. A semeadura foi realizada entre o final de outubro e a metade de novembro de 2015, e a colheita entre meados de março e início de abril de 2016.

 

Para responder à hipótese do estudo, avaliou-se a produtividade de grãos de soja em cada tratamento em todas as áreas cultivadas. Os dados foram submetidos inicialmente ao teste de normalidade de Shapiro-Wilk e ao teste de homogeneidade de variâncias de Bartlett e, posteriormente, à análise de variâncias. (ANOVA). Quando esta foi significativa, compararam-se as médias por meio do teste de Tukey (p < 0,05).

Tabela 1. Caracterização inicial dos solos das áreas experimentais. Região Centro-Sul do Paraná, Safra 2015/2016.

TAB 1

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A aplicação de nitrogênio via foliar não incrementou a produtividade de grãos de soja em nenhuma das áreas cultivadas (Tabela 2), o que corrobora com os resultados de Pierozan Jr. et al. (2015). Estes autores, por meio do uso de nitrogênio marcado (isótopo 15N), verificaram que as plantas de soja absorveram o nitrogênio aplicado via foliar, porém, isso não se refletiu no rendimento de grãos.

 

Com suplemento de N para as plantas, espera-se que a taxa fotossintética seja mantida em alta até o final do ciclo da soja, o que garantiria o fornecimento de fotoassimilados para a produção de grãos, aumentando o seu rendimento (Brevedan et al., 2007). Isso seria importante especialmente para soja cultivada em áreas com alto potencial produtivo (> 4.500 kg ha-1), para as quais o nitrogênio fornecido pela FBN e pelo solo não seria capaz de suprir toda a demanda da planta (Salvagiotti et al., 2008; 2009). Todavia, os resultados do presente estudo não corroboram com tal hipótese, mesmo nas áreas com alto potencial produtivo (Taguá, Pinhão, Candói e Guarapuava – Tabela 2), o que pode ter acontecido porque os solos destas áreas têm alto teor de MOS, que pode ter disponibilizado o N necessário para a soja (Camargo et al., 2008).

Tabela 2. Produtividade de grãos de soja em função da adubação nitrogenada foliar. Região Centro-Sul do Paraná, Safra 2015/2016.

TAB 2

CONCLUSÕES

A adubação nitrogenada foliar em soja não é eficiente para aumentar o rendimento de grãos, mesmo em áreas com alto potencial produtivo.

REFERÊNCIAS

Brevedan RE, Fioretti MN, Baioni SS, Palomo IR, Laborde H. Fertilización nitrogenada de soja bajo riego. Phyton Rev Int Bot Exp. 2007;76:153-167. Disponível em: http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S18 51-56572007000100014&lng=es&nrm=iso

Camargo FAO, Silva LS, Gianello C, Tedesco MJ. Nitrogênio orgânico do solo. In: Santos GA, Silva LS, Canellas LP, Camargo FAO, editores. Fundamentos da matéria orgânica do solo: Ecossitemas tropicais e subtropicais. Porto Alegre: Metrópole; 2008. p. 87-99.

Companhia Nacional de Abastecimento – Conab. Indicadores da agropecuária. 2016. [Acesso em: 6 mar. 2015]. Disponível em: http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1523&t=2

Fontoura SMV, Vieira RCB, Bayer C, Viero F, Anghinoni I, Moraes RP. Fertilidade do solo e seu manejo em plantio direto no Centro-Sul do Paraná. Guarapuava: Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária; 2015. 146p.

Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária – FAPA. Relatório Anual 2014. Guarapuava: FAPA; 2014. 80p.

Hungria M, Campo RJ, Nogueira MA. A pesquisa em fixação biológica do nitrogênio na Embrapa Soja: passado, presente e perspectivas futuras. In: Anais da XVI Relare; 2012. p. 55-59.

Pierozan Jr. C, Favarin JL, Almeida REM, Oliveira SM, Lago BC, Trivelin PCO. Uptake and allocation of nitrogen applied at low rates to soybean leaves. Plant Soil. 2015;393:83-94. doi:10.1007/s11104-015-2468-7

Salvagiotti F, Cassman KG, Specht JE, Walters DT, Weiss A, Dobermann A. Nitrogen uptake, fixation and response to fertilizer N in soybeans: A review. Field Crops Res. 2008;108:1- 13. doi:10.1016/j.fcr.2008.03.001

Salvagiotti F, Specht JE, Cassman KG, Walters DT, Weiss A, Dobermann A. Growth and nitrogen fixation in high-yielding soybean: impact of nitrogen fertilization. Agron J. 2009;101:958-970. doi:10.2134/agronj2008.0173x

United States Department of Agriculture – USDA. Table 11 Soybean area, yield, and production. 2016. [Acesso em: 18 de fevereiro de 2016]. Disponível em: http://apps.fas.usda.gov/psdonline/psdReport.aspx?hidReportRet rievalName=Table+11+Soybean+Area%2c+Yield%2c+and+Pro duction&hidReportRetrievalID=906&hidReportRetrievalTempl ateID=1

Informações dos autores:

(1)Estudante de Doutorado; Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo (PPGCS), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS);

(2)Pesquisadora; Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (FAPA);

(3)Professor; PPGCS, UFRGS;

(4)Estudante de Agronomia; UFRGS;

(5)Técnico Agrícola; FAPA. 

Disponível em:   XI Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo.  Frederico Westphalen, RS.2016

 

 

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