20 dez de 2019
Brasil – Agricultura – As perspectivas para o agronegócio brasileiro em 2020

Desde o final de 2018, analistas do mercado de carnes e de grãos falam do grande impacto que o surto de peste suína africana poderia acarretar sobre a demanda por proteína animal e soja. A doença causada por um vírus tem levado os países asiáticos, sobretudo a China, a abater boa parte do seu rebanho de suínos, a carne mais consumida no país.

“Eles já sacrificaram quase 50% do seu plantel”, diz Victor Ikeda, analista de grãos do Rabobank. De acordo com o banco, a queda na produção suína na China este ano deve ser de 25%, o que corresponde a 13 milhões de toneladas a menos.

Esse déficit tem levado os chineses às compras, mas não há no mundo carne suína excedente para suprir a queda de produção chinesa. Por isso eles têm aumentado a importação de outras proteínas, como carne bovina e de aves.

Para o produtor nacional de carnes, o apetite chinês foi uma boa notícia, que aumentou a procura e, consequentemente, os preços. Já para o produtor de grãos, o efeito foi negativo. Com a queda do rebanho suíno chinês, eles diminuíram as importações de soja, que teve preços menores este ano.

A demanda chinesa deve continuar distribuindo as cartas do baralho mundial de carnes e grãos em 2020, uma vez que vai levar alguns anos para o gigante asiático recompor seu rebanho de suínos. “Acredito que vamos ter um preço médio maior nas exportações de carnes bovinas no próximo ano [em 2019, o preço médio da tonelada foi US$ 4.073] e reduzir as vendas para os países que compram produtos de menor valor”, diz Antônio Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (Abiec).

A seguir, confira os principais fatores que influenciaram os segmentos de carnes e de grãos e as tendências para o ano que vem.

Apetite asiático por carnes

No Brasil, 2019 foi um ano de recordes para o setor de proteína animal. No caso da carne bovina, pela primeira vez as remessas ao exterior representaram 25% da produção nacional. Até então, o percentual máximo tinha sido de 22%.

A demanda aquecida, que fez o preço da arroba do boi chegar a R$ 232 no fim de novembro, tem a China como explicação. A drástica queda da produção de suínos causada pela peste suína africana levou os chineses a começar a comprar proteínas de outros países.

Além de carne suína, aumentaram as aquisições de carnes bovina e de aves, o que favoreceu os produtores nacionais. De acordo com a Abiec, a China se consolidou como o principal destino da carne bovina nacional, com uma fatia de 24,5% das exportações, superando Hong Kong.

A entidade prevê que o Brasil feche o ano com exportações de carnes bovinas de 1,8 milhão de toneladas, um aumento de 11,3%, e receitas de US$ 7,5 bilhões, uma alta de 13,3%. O setor prevê ganhar ainda mais musculatura em 2020.

“A expectativa é ter um aumento no volume de carne bovina exportada de 13% e um incremento de receita de 15%”, diz Camardelli. A China deve continuar sendo o catalisador das vendas. “Nossa previsão é que eles comprem entre 50 mil e 60 mil toneladas por mês. Isso está acima do que eles compraram nos primeiros meses deste ano, mas abaixo das 85 mil toneladas embarcadas para lá em novembro”, afirma.

No caso de suínos e aves, os embarques para a Ásia também fi zeram a diferença. Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) apontam que, de janeiro a novembro, as remessas de suínos atingiram 674,2 mil toneladas, uma alta de 14,4%, e trouxeram uma receita de US$ 1,1 bilhão, salto de 27,9% em relação a 2018.

A China respondeu por 32,7% do total exportado. No segmento de aves não foi diferente. A forte demanda da Ásia provocou um aumento dos preços, que favoreceu uma melhora nas margens espremidas que o setor teve em 2018.

Até novembro, o Brasil exportou 3,7 milhões de toneladas e acumulou dividendos de US$ 6,358 bilhões, uma alta de 2% e 6,1%, respectivamente. “Assim como nas vendas de carne suína, o quadro sanitário da Ásia também tem gerado impactos significativos nas exportações de carne de frango.

Em novembro, os embarques para a China foram 61% maiores, na comparação com o ano anterior. Mesmo com novos players no mercado, a demanda chinesa continuará a ser um dos motores do mercado internacional no próximo ano”, diz Ricardo Santin, diretor-executivo da ABPA.

De grão em grão

A safra de soja 2018/2019 registrou 115 mil toneladas, segundo os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Apesar do aumento de 2,1% na área plantada, a colheita recuou 3,6%, devido a problemas climáticos em algumas regiões.

“Embora não tenhamos batido o recorde da safra 2017/2018, a safra foi relativamente boa”, diz Ikeda. Em dólar, os preços da commodity foram mais pressionados este ano e não ultrapassaram os US$ 9,50 por bushel (27,2 quilos) na Bolsa de Chicago.

“Isso em função da recuperação da oferta na América do Sul e dos altos estoques americanos, em decorrência da guerra comercial com a China, e da menor demanda do gigante asiático por causa da peste suína africana”, explica Ikeda.

O efeito cascata da peste suína foi um recuo nas exportações de soja. De acordo com a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), o Brasil deve fechar o ano com remessas de 72 milhões de toneladas de soja ao exterior, bem aquém das 83,2 milhões de toneladas do ciclo anterior.

Para o próximo ano, as previsões do Rabobank apontam uma safra de soja com 124 milhões de toneladas, cultivadas em uma área de 36,5 milhões de hectares. Um dos cenários traçados pelo banco é a retomada nas exportações de soja para o gigante asiático.

“A necessidade dos chineses de recompor o rebanho suíno tende a benefi ciar a demanda por fontes proteicas para produção de ração. E o farelo de soja é uma das mais baratas”, diz Ikeda. A grande incógnita para 2020 continua sendo a relação comercial entre China e EUA.

Segundo a agência Bloomberg, os países assinaram a primeira etapa de um acordo para remoção das tarifas no último dia 12, mas os detalhes não tinham sido divulgados até a conclusão desta reportagem. Se os dois países se entenderem, os altos estoques de soja americana devem diminuir e impulsionar a alta das cotações na Bolsa de Chicago, que poderiam voltar ao patamar de US$ 9,70 o bushel.

Para o milho, 2019 foi um ano emblemático. “Batemos o recorde na produção, no consumo interno e vamos bater nas exportações”, diz Ikeda. A colheita do cereal somou 100 milhões de toneladas, e a demanda doméstica (puxada pela indústria de proteína animal) foi de 62,4 milhões de toneladas.

As remessas ao exterior, segundo a Anec, devem finalizaro ano em 40 milhões de toneladas. Os problemas climáticos que prejudicaram a safra americana de milho alavancaram os preços. A saca chegou a ser vendia a R$ 40, segundo indicador Esalq/BM&F.

No entanto, para 2020 é pouco provável que o Brasil mantenha as exportações de milho na casa de 40 milhões de toneladas. “Mas o mercado interno deve continuar aquecido para o grão, tanto para ração quanto para a produção de etanol, com a entrada em operação de duas novas plantas em Mato Grosso”, finaliza Ikeda.

FONTE: ESTADÃO

 

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