20 jun de 2017
Brasil – Agricultura – Avaliação da eficiência agronômica de Azospirillum brasilense na cultura do trigo

O principal objetivo deste estudo é avaliar a eficiência agronômica da inoculação de sementes de trigo com Azospirillum brasilense, em associação à adubação nitrogenada.

Autores:  Gilmar Luiz Mumbach(2); Douglas Rodrigo Kaiser(3); Élcio Bilibio Bonfada(4); Ivan Enrique Kotowski(5); Micael Stolben Mallmann(6); Valéria Ortaça Portela(7).

Trabalho Disponível nos Anais do Evento e publicado com o consentimento dos autores.
Trabalho Disponível nos Anais do Evento e publicado com o consentimento dos autores.

RESUMO: A inoculação de sementes de gramíneas com bactérias do gênero Azospirillum pode reduzir os custos com adubação nitrogenada. O principal objetivo deste estudo é avaliar a eficiência agronômica da inoculação de sementes de trigo com Azospirillum brasilense, em associação à adubação nitrogenada. Foram testados neste trabalho oito diferentes tratamentos, associando a inoculação com a adubação nitrogenada em diferentes fases da cultura, distribuídos em quatro blocos casualizados. As parcelas foram constituídas de uma área de 27,2 m2. Foram avaliadas diferentes variáveis na cultura do trigo, sendo estas divididas em três grupos: características morfológicas, componentes secundários e componentes primários do rendimento. Não foram observados resultados estatisticamente significativos da inoculação em parâmetros como a produtividade, peso de 1000 grãos e peso hectolitro. Outras variáveis, no entanto, como a matéria seca e o número de espigas por metro quadrado, apresentaram resultados estatisticamente significativos, quando da interação entre a inoculação com parte da adubação nitrogenada em cobertura. Conclui-se que, de acordo com os resultados encontrados neste estudo, a inoculação não apresenta efeitos significativos sobre o rendimento da cultura do trigo.

Termos de indexação: Triticum aestivum. Inoculação. Produtividade.

INTRODUÇÃO

O trigo (Triticum aestivum) é a principal cultura de inverno no Brasil. Apresenta grande importância dentro do cenário da produção agrícola, com destaque principalmente nos estados do Sul do país. Destaca-se não apenas pela sua produtividade, mas também é uma importante ferramenta dentro de um sistema de rotação de culturas, pela alta produção de resíduos vegetais, gerando assim uma boa cobertura de solo.

A elevação da produtividade, observada no decorrer das últimas safras, provém de uma série de fatores, que envolvem desde a utilização de cultivares mais adaptadas às condições brasileiras, maior investimento na fertilidade do solo, manejo mais rigoroso de pragas e doenças. Um dos fatores principais para esses ganhos, segundo Megda et al. (2009), é o correto manejo do nitrogênio, sendo este o elemento nutricional absorvido em maiores quantidades, e que garante as respostas mais positivas quanto a produtividade.

 

As principais fontes de nitrogênio disponibilizadas à cultura provém da adubação química e da matéria orgânica do solo. No entanto, vem ganhando espaço nos últimos anos, através das descobertas de estudos científicos, a utilização de bactérias diazotróficas, principalmente do gênero Azospirillum, capazes de fixar nitrogênio atmosférico, tornando-o disponível às plantas em formas assimiláveis. A fixação de nitrogênio, assim como outros benefícios gerados por essas bactérias, possibilita a redução da adubação nitrogenada, e por consequência a redução dos gastos por parte do agricultor.

As bactérias pertencentes ao gênero Azospirillum tem sido intensamente estudadas por sua possível aplicação no cultivo de milho, trigo e outras culturas. No entanto, evidencias atuais indicam que a fixação biológica de nitrogênio não é tão eficiente quanto a realizada por outros gêneros de bactérias, porém promove estimulo às plantas através da produção bacteriana de fitohormônios, como ácido indol-acético (EPSTEIN e BLOOM, 2006).

 

A espécie mais utilizada na inoculação de sementes de espécies gramíneas é a Azospirillum brasilense. Esta auxilia de diversas formas o desenvolvimento das culturas; dentre os principais benefícios gerados pelas bactérias destaca-se a produção de hormônios, os quais interferem no crescimento das plantas, principalmente beneficiando o maior desenvolvimento radicular, o aumento do processo da redução assimilatória de nitrato disponível no solo e a fixação biológica de nitrogênio (REIS, 2007).

O presente estudo teve como objetivo avaliar a resposta da cultura do trigo à utilização de inoculante a base da bactéria Azospirillum brasilense nas sementes da cultura, associada a aplicação de adubação nitrogenada em diferentes períodos do ciclo de desenvolvimento do trigo.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Local de implantação

 

O presente estudo foi implantado na área experimental da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Cerro Largo, localizado na região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul O solo da área experimental é caracterizado como Latossolo Vermelho distroférrico típico, com alto percentual de argila, podendo atingir valores de 70% (EMBRAPA, 2009). A pluviosidade anual é elevada nos municípios da região, variando entre 1500 e 1700 milímetros (CEMETRS, 2013).

Implantação e condução da cultura

 

A semeadura do trigo foi realizada no dia 2 de julho de 2014, de maneira manual. A densidade de semeadura utilizada foi em torno de 400 sementes por metro quadrado, utilizando-se a cultivar “Tbio- Sintonia”. Apesar de acima dos valores recomendados, que variam entre 300 a 330 sementes viáveis por metro quadrado (Comissões Centro-Sul Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, 2013), essa densidade foi escolhida devido à semeadura ser manual e tardia, no qual se recomenda um aumento na densidade.

 

A inoculação das sementes foi realizada na mesma data da semeadura. Seguindo as recomendações da empresa desenvolvedora do inoculante, foram utilizados 100 ml do produto para cada 25 kg de sementes. A concentração do inoculante é de 2×108 Unidades Formadoras de Colônias (UFC) por milímetro do produto comercial. As cepas Ab-V5 e Ab-V6 constituem o inoculante.

 

Cerca de 15 dias após a emergência, devido a infestação de plantas daninhas, especialmente azevém (Lolium multiflorum) e nabo (Raphanus sativus), realizou-se uma aplicação com herbicida do grupo das sulfoniluréias. Também foram realizadas duas aplicações de fungicidas: a primeira no início do estágio reprodutivo da cultura e a segunda cerca de três semanas após, objetivando o controle de doenças como oídio (Erysiphe graminis f. sp. Tritici) e ferrugem da folha (Puccinia recôndita f. sp. Tritici) durante o desenvolvimento vegetativo, e giberela (Gibberela zeae), na fase reprodutiva; o fungicida utilizado é baseado na mistura comercial dos grupos químicos triazol e estrobilurina.

Tratamentos e amostragens

Foram testados oito tratamentos, caracterizados na tabela 1.

Tabela 1 – Tratamentos e condições avaliadas no estudo.

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Componentes e características avaliados

Para facilitar a compreensão dos resultados, as variáveis avaliadas foram divididas em três grupos: características morfológicas (perfilhos por planta e matéria seca); componentes secundários do rendimento (espiguetas por espiga, grãos por espiga e espigas por metro quadrado); e componentes primários do rendimento (produtividade, peso de mil grãos e Peso Hectolitro).

O número de perfilhos por planta foi avaliado no estágio reprodutivo, contando-se dois metros lineares de plantas, demarcadas no início do perfilhamento, em cada parcela; o resultado encontrado foi dividido pelo número de plantas.

 

A matéria seca foi avaliado quando a cultura encontrou-se em florescimento; coletou-se uma área de 0,51 m² de plantas em cada parcela, que passaram por pesagem, secagem em estufa a 60ºC e pesagem final.

O número de espiguetas por espiga e número de grãos por espiga foram avaliados em período próximo à maturação fisiológica; coletaram-se dez espigas por parcela, escolhidas aleatoriamente, com posterior debulha e contagem.

Para a variável “número de grãos por espiga” foram contabilizados o número de espigas em dois metros lineares, em cada parcela; posteriormente os valores encontrados foram transformados para a unidade desejada.

 

A produtividade foi avaliada a partir da maturação fisiológica da cultura. Coletou-se, manualmente, as espigas de 3,06 m² em cada parcela, que posteriormente passaram por debulha, limpeza e pesagem. Para adequação dos resultados, avaliou-se a umidade em amostras de grãos de cada parcela, padronizando os valores encontrados para a umidade de 14% nos grãos.

Para avaliação do peso de mil grãos e PH coletaram-se amostras de grãos provenientes da determinação de produtividade.

Análise estatística

A partir das coletas à campo, e posterior contagens e determinações, foi realizada a interpretação estatística dos dados, sendo realizada a análise de variância e as comparações de médias efetuadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. A análise estatística foi realizada através do software Sasm-Agri.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Características morfológicas da cultura

O número de perfilhos (tabela 2), não apresentou diferença estatística nos diferentes tratamentos avaliados. Mendes et al. (2011), avaliando diferentes doses de nitrogênio associadas a inoculação com Azospirillum brasilense, encontraram os melhores resultados no tratamento onde 100% da dose recomendada de nitrogênio foi associada a inoculação das sementes.

 

Em relação a matéria seca, cujos valores constam na tabela 2, observou-se valores significativos em termos de quantidade de biomassa produzida. A ausência de fontes de nitrogênio químico apresentou resultados aquém dos tratamentos que receberam o elemento, o que indica a resposta limitada da inoculação para esse parâmetro.

Tabela 2 – Matéria seca (MS) e número de perfilhos por planta (NP) da cultura do trigo.

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Componentes secundários do rendimento

As variáveis espiguetas por espiga e número de grãos por espiga (tabela 3) não apresentaram diferença estatisticamente significativas entre os tratamentos avaliados. Em estudo realizado por Mendes et al. (2011), avaliando a resposta da inoculação com Azospirillum brasilense em associação à redução das doses de nitrogênio fornecidas via adubação, foram encontrados resultados estatisticamente significativos para a variável número de grãos por espiga nos tratamentos onde realizou-se a adubação em semeadura e cobertura, juntamente com a inoculação, quando comparados ao tratamento testemunha, sem adubação e sem inoculação. Em outro trabalho, conduzido por Rosário (2013), não foram observadas diferenças estatisticamente significativas para o número de grãos por espiga.

 

Para a variável número de espigas por metro quadrado, tabela 3, também não foram encontrados resultados significativos em termos estatísticos. Resultado similar foi encontrado por Mendes et al. (2011), associando doses de nitrogênio com a inoculação das sementes de trigo.

Tabela 3 – Número de espiguetas por espiga (NEE), número de grãos por espiga (NGE) e número de espigas por metro quadrado (NEsp) na cultura do trigo.

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Componentes primários do rendimento

Em relação à produtividade da cultura, tabela 4, os melhores resultados foram encontrados quando da presença de ao menos uma aplicação de nitrogênio mineral, independente ou não da inoculação. Didonet et al. (2000) e Rosário (2013) não encontraram resultados estatisticamente significativos, em termos de produtividade, quando compararam tratamentos com e sem a inoculação. Por outro lado, existem casos onde aumentos significativos são observados, como em estudo de Sala et al. (2007), que obtiveram ganhos entre 14 e 20% de produtividade testando diferentes estirpes de Azospirillum e com adição de 60 kg de nitrogênio na cultura do trigo.

Tabela 4 – Produtividade da cultura do trigo, em kg/ha, nos diferentes tratamentos avaliados.

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Os valores de peso de mil grãos, na tabela 5, não diferiram estatisticamente entre os tratamentos. Para Piccinin (2012), no entanto, a associação da inoculação com metade da dose de N em cobertura apresentou os melhores resultados para a variável massa de 1000 grãos, apresentando diferenças estatisticamente positivas para os demais tratamentos.
O peso hectolitro (tabela 5) também apresentou resultados estatisticamente iguais entre os diferentes tratamentos. Avaliando a resposta da inoculação com diferentes doses e épocas de aplicação de nitrogênio, Piccinin (2012) encontrou os melhores valores de PH para a condição onde a inoculação esteve associada à redução pela metade da dose de N em cobertura.
Tabela 5 – Peso de mil grãos (P1000) e peso hectolitro (PH) na cultura do trigo.

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CONCLUSÕES

A inoculação das sementes de trigo não garantiu efeitos estatisticamente significativos aos principais parâmetros avaliados: produtividade, peso de 1000 grãos e peso hectolitro.

A inoculação de sementes de trigo com Azospirillum brasilense não permite a eliminação da adubação nitrogenada.

As condições meteorológicas durante a condução do experimento, bem como a questão fitossanitária, podem ter apresentado influência sobre a resposta da bactéria Azospirillum brasilense.

Estudos sequenciais, com trigo e outras culturas, devem ser realizados para melhor avaliar a resposta da inoculação em gramíneas.

AGRADECIMENTOS

Aos colegas e amigos Fabio J. A. Schneider, José L. P. Rauber e Éverson B. Bonfada, pela colaboração na implantação do experimento e manejo da cultura. Às empresas Biotrigo-genética e Simbiose-agro, que disponibilizaram as sementes e o inoculante, respectivamente.

REFERÊNCIAS

CENTRO ESTADUAL DE METEOROLOGIA – CEMETRS. Porto Alegre, 2013. Acesso em: 25 jun. 2014. Disponível em < http://www.cemet.rs.gov.br/>.

DIDONET, A. et al. Realocação de nitrogênio e de biomassa para os grãos, em trigo submetido a inoculação de Azospirillum. Pesquisa Agropecuária brasileira, Brasília, 35:401-411, 2000.

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Centro Nacional de Pesquisa de solos. Sistema brasileiro de classificação de solos, 3º edição, Rio de Janeiro: CNPS, 2009. 397p.

EPSTEIN, E.; BLOOM, A. Nutrição Mineral de Plantas: princípios e perspectivas. 2º edição, Editora Planta. Londrina-PR, 2006. 401 p.

MEGDA, M. M. et al. Resposta de cultivares de trigo ao nitrogênio em relação às fontes e épocas de aplicação sob plantio direto e irrigação por aspersão. Ciência e Agrotecnologia, 33:1055-1060, 2009.

MENDES, M. et al. Avaliação da eficiência agronômica de Azospirillum brasilense na cultura do trigo e os efeitos na qualidade da farinha. Revista Brasileira de Tecnologia Aplicada nas Ciências Agrárias, 4:95-110, Guarapuava-PR, 2011.

PICCININ, G. Eficiência da inoculação das sementes com Azospirillum brasilense no rendimento e no potencial fisiológico das sementes de trigo. Maringá, 79 f. Dissertação. Maringá: Universidade Estadual de Maringá; 2012.

REIS, V. Uso de bactérias fixadoras de nitrogênio como inoculante para aplicação em gramíneas. Embrapa Agrobiologia – Documentos 232, Seropédica-RJ, 2007.

ROSÁRIO, J. Inoculação com Azospirillum brasilense associada à redução na adubação nitrogenada de cobertura em cultivares de trigo. 2013. 85 f. Dissertação. Guarapuava:Universidade Estadual do Centro-Oeste; 2013.

SALA, V. et al. Resposta de genótipos de trigo à inoculação de bactérias diazotróficas em condições de campo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, 42:833-842, 2007.

Informações dos autores:

(1)Trabalho executado com recursos da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Cerro Largo/RS;

(2) Mestrando em Ciência do Solo, no centro de Ciências Agro Veterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages/SC.

(3) Professor da Universidade Federal da Fronteira Sul;

(4) Mestrando na Universidade do Estado de Santa Catarina;

(5) Graduando na Universidade Federal da Fronteira Sul;

(6) Mestrando na Universidade Federal de Viçosa;

(7) Mestranda na Universidade Federal de Santa Maria.

Disponível em: XXXV Congresso Brasileiro de Ciência do Solo. O Solo e Suas Múltiplas Funções, Natal, Rio grande Do Norte, 2015

 

 

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