As projeções para a safra 2016/17 de soja do Brasil já causam polêmica. As lavouras nas principais regiões produtoras do país – Mato Grosso e Paraná – estão se desenvolvendo de forma muito satisfatória, mas perdas podem ser registradas em áreas que vêm sendo acometidas por adversidades climáticas. As estimativas têm variado de 103,1 milhões até 106,17 milhões de toneladas. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em seu último reporte, estimou a produção nacional em 103,8 milhões de toneladas.
Nesta semana, o tempo deverá voltar a colaborar com a conclusão das lavouras, principalmente onde as chuvas são mais esperadas para a conclusão da safra. Segundo o meteorologista da Climatempo, Alexandre Nascimento, as precipitações podem ocorrer em grande parte do país dadas as muitas áreas de instabilidades que estão sobre grande parte do território nacional. Ainda assim, essas precipitações deverão continuar ocorrendo de forma irregular.
A concentração maior, segundo Nascimento, deverá ocorrer nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, e a atenção, portanto, deverá ser maior em Mato Grosso, onde a colheita já foi iniciada – segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), há mais de 5% da área colhida -, de forma que o excesso de umidade possa trazer alguma dificuldade para o avanço dos trabalhos de campo.
“Os produtores que estão em fase de colheita não deverão contabilizar prejuízos, apenas paralisações momentâneas”, informa a Climatempo. E diz ainda que, “a temperatura continua alta em todo o Brasil, mantendo elevada a taxa de evapotranspiração”. E Nascimento alerta ainda para, em um quadro de tempo quente e úmido, uma maior incidência de pragas e doenças. O Consórcio Antiferrugem já contabiliza 99 ocorrências de ferrugem asiática na soja este ano.
Para o final de janeiro e início de fevereiro, ainda de acordo com o meteorologista, uma nova diminuição das chuvas é esperada. Segundo o boletim semanal da Climatempo indica, para o período de 22 e 26 de janeiro, os volumes acumulados esperados ficam entre 10 mm e 100 mm no Centro-Oeste, com os mais altos esperados para Mato Grosso, enquanto no Matopiba voltam a ficar abaixo de 30 mm.
Essa irregularidade do clima, portanto, traz cenários diferentes para as regiões produtoras e, consequentemente, estágios e condições também diferentes para as lavouras de soja da temporada 2016/17. Em muitos casos, dessa forma, as projeções esperadas para a colheita de cada estado acabam divergindo das de órgãos oficiais ou de consultorias. Na avaliação de cada estado, os destaques, porém, continuam sendo Mato Grosso e Paraná.
Paraná – No Paraná, os trabalhos de colheita acontecem pontualmente e a perspectiva é que ganhem ritmo a partir da próxima semana, conforme destaca o presidente da Aprosoja Paraná, José Eduardo Sismeiro. “Por enquanto, a projeção é de uma boa colheita no noroeste e oeste do estado. Já no norte ainda precisamos acompanhar o comportamento das chuvas. Na região de Guarapuava e Ponta Grossa temos lavouras mais novas e que ainda precisam de precipitações”, reforça.
De modo geral, a liderança acredita que, a safra 2016/17 paranaense deve ficar próxima do registrado no ciclo anterior. Segundo dados do Deral (Departamento de Economia Rural), na temporada 2015/16, os produtores do estado colheram 16,5 milhões de toneladas, de uma estimativa inicial de 18,33 milhões de toneladas. Porém, o excesso de umidade foi um dos principais fatores que ocasionaram a queda na produtividade.
Além disso, na temporada atual, os produtores ainda estão atentos ao aparecimento da ferrugem asiática nas lavouras. Até o momento, o estado já têm 46 casos confirmados de ferrugem, segundo levantamento realizado pelo Consórcio Antiferrugem. Sismeiro ainda explica que, os agricultores devem realizar o monitoramento das áreas para evitar perdas no rendimento das lavouras.
Mato Grosso – No maior estado produtor de soja, os produtores rurais já iniciaram a colheita da soja. Segundo o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), até o último dia 13 de janeiro, em torno de 5,33% da área cultivada já havia sido colhida. No mesmo período do ano anterior, a área colhida era de 1,99%.
Por enquanto, o Oeste do estado é o mais adiantado com 8,35% da área já colhida. A região do Médio-Norte está em segundo lugar com 7,64% da área plantada já colhida. Até o momento, a preocupação dos produtores rurais é em relação à possibilidade de chuvas ao longo da colheita da oleaginosa. Para essa safra, a estimativa é que sejam colhidas mais de 30 milhões de toneladas, ainda conforme projeção do Imea.
Mato Grosso do Sul – Após o veranico registrado em algumas regiões do estado, de mais de 30 dias, as chuvas retornaram e contribuem para o desenvolvimento da soja. Grande parte das lavouras está em fase de enchimento de grãos e, em algumas localidades como Laguna Carapã, os produtores já realizam a dessecação das lavouras para o início da colheita.
E, caso o clima continue favorável às lavouras, a perspectiva é que sejam colhidas em torno de 7,8 milhões de toneladas de soja nesta temporada. A projeção foi divulgada recentemente pela Aprosoja/MS.
Goiás – Em Goiás, as entidades já começam a contabilizar perdas pontuais na produção de soja devido ao clima seco e também das altas temperaturas. Para essa temporada, a projeção é que sejam colhidas cerca de 10,2 milhões de toneladas do grão.
“Tivemos um período de chuvas bem irregulares, entre a última semana de dezembro e a primeira semana de janeiro, com isso, já temos algumas perdas na região de Montividiu, partes do sul do estado e em Luziânia e Cristalina, porém, não é uma situação generalizada”, destaca o assessor técnico da Faeg (Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás), Cristiano Palavro.
Contudo, o assessor ainda reforça que, é preciso avaliar o impacto do retorno das chuvas para as lavouras que estão, em sua maioria, na fase de enchimento de grãos. “Temos relatos de danos irreparáveis, mas voltamos a registrar chuvas, dessa forma, as perdas se limitam”, completa.
Rio Grande do Sul – No estado, as lavouras de soja apresentam bom potencial produtivo, segundo último levantamento realizado pela Emater/RS. “Após o desenvolvimento inicial lento, a cultura retomou o desenvolvimento nos últimos dias com a umidade do solo reestabelecida. Com o retorno das precipitações, a cultura recuperou o bom desenvolvimento”, reportou a entidade.
Em Ijuí, o retorno das chuvas também contribuiu para o bom desenvolvimento das plantas. “As lavouras que estavam com dificuldades de crescimento se normalizaram e ao contrário do ano passado, temos luminosidade, o que também ajuda no desenvolvimento”, disse o presidente do sindicato rural do município, Ércio Luiz Eickoff.
Fonte: Sistema Faep