26 dez de 2016
Brasil – Agricultura – Codevasf avança no domínio da tecnologia de reprodução do pirá, peixe símbolo da bacia do São Francisco

Espécie está na lista do Ibama das ameaçadas de extinção e há décadas desapareceu do Baixo São Francisco; projeto tem parceria com ICMBio

O projeto da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) de reintrodução, no Baixo São Francisco, do pirá – considerado um peixe símbolo da bacia hidrográfica do rio São Francisco -, deu um passo importante.

Técnicos da Codevasf que atuam no Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Itiúba conseguiram dominar a tecnologia de reprodução artificial e realizar em Alagoas a primeira desova no Baixo São Francisco desta espécie, que se encontra na lista do Ibama de peixes ameaçados de extinção.

O sucesso da reprodução artificial permitirá que a Codevasf realize peixamentos ao longo do trecho entre Alagoas e Sergipe para repovoamento do Baixo São Francisco com o pirá, e a distribuição de matrizes para outros centros de aquicultura e recursos pesqueiros da Companhia, que servirão para produção de alevinos e introdução no ambiente natural.

O trabalho de desova do pirá foi coordenado pelo engenheiro de pesca da Codevasf Sérgio Marinho. Segundo ele, após a desova foi iniciada a fase de larvicultura do animal, seguida pela alevinagem, etapa em que a espécie possui tamanho menor que um centímetro.

“Como estamos no processo de domínio da tecnologia de reprodução artificial, larvicultura e alevinagem do pirá, vamos observando seus hábitos e desenvolvimento. Um dos fatores notados é a abertura da boca na fase pós-larva e o consumo do saco vitelino, que é uma reserva de energia que ele possui com origem na mãe. Temos observado que o comportamento nesta fase é bem semelhante ao do surubim. No entanto, o surubim, na fase pós-larva, é canibal e come outras larvas da espécie, o que não tem ocorrido com o pirá”, explicou Marinho.

“Cabe ressaltar que, desde o final da década de 1990, a Codevasf, por meio do Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Três Marias, em Minas Gerais, de forma pioneira, realiza a reprodução, alevinagem e larvicultura do Conorhynchos conirostris, o pirá, sendo o centro mineiro um importante parceiro no projeto de reintrodução dessa espécie no Baixo São Francisco”, destaca Hermano Luiz Santos, engenheiro de pesca e chefe substituto da Unidade de Pesca e Aquicultura da Codevasf em Brasília.

Nutrição dos reprodutores

Sérgio Marinho demonstrou bastante otimismo com os resultados do projeto de repovoamento do pirá no Baixo São Francisco a partir do sucesso da primeira desova da espécie na região.

“Agora temos que nutrir bem os reprodutores, que são as matrizes para que eles desovem melhor. Avaliamos que todas as fases estão transcorrendo corretamente. Com o resultado da desova, creio que poderemos obter pelo menos um plantel e realizar um primeiro peixamento”, adiantou.

Os próximos passos do processo de domínio da tecnologia são, segundo ele, a identificação do melhor período para transferência da espécie para outro laboratório com o objetivo de estudá-la e descobrir o momento de inserí-la em viveiros, para que se transforme em peixes juvenis.

“A ideia é utilizarmos depois cerca de 500 exemplares do pirá em um estudo sobre a maturação e o hábito alimentar dessa espécie em cativeiro, buscando identificar quando se inicia a primeira maturação sexual”, aponta. Segundo Sérgio Marinho, caso a etapa de pós-larva tenha sucesso e os peixes se consolidem na fase de alevinagem, a Codevasf poderá realizar um peixamento com alevinos de pirá em um prazo de dois meses, a depender do tamanho alcançado.

Equipe comprometida

Além do engenheiro de pesca Sérgio Marinho, integram a equipe do Projeto Pirá outros técnicos da Codevasf que atuam no Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Itiúba, como o médico veterinário Matheus Felix, o engenheiro químico Marcos Vinícius Teles, os engenheiros de pesca Álvaro Albuquerque e Kley Lustosa, o técnico em Aquicultura com formação em Engenharia de Pesca Vinicius Dias Filhos, o biólogo José Reginaldo Dias Júnior e o técnico em química Fábio dos Santos.

O sucesso obtido na desova do pirá foi comemorado pelo superintendente regional da Codevasf em Alagoas, Antônio Nélson de Azevedo, que destacou o compromisso do corpo técnico da Companhia com a revitalização da bacia hidrográfica do rio São Francisco.

“Temos um corpo técnico dos melhores e o Centro de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Itiúba é uma amostra de como a produção científica e tecnológica pode ser utilizada para revitalização ambiental da bacia. Vencemos esse primeiro desafio e iniciamos o domínio da tecnologia de reprodução artificial do pirá. Creio que logo teremos o Baixo São Francisco repovoado com o peixe símbolo da bacia hidrográfica”, aposta.

Projeto Pirá

Com nome científico Conorhynchos conirostris, o pirá é uma espécie de peixe endêmica considerado símbolo da bacia hidrográfica do rio São Francisco. Por ser uma espécie que realiza a reprodução no período da piracema, o pirá necessita realizar grandes migrações como estímulo natural à ovulação. Porém, devido aos barramentos ao longo do rio São Francisco, essas migrações não são mais realizadas. Isso fez com que a espécie não seja mais encontrada na região do Baixo São Francisco.

Como estratégia de reintrodução do pirá no Baixo São Francisco e de aumento do estoque pesqueiro em outras regiões da bacia, técnicos dos Centros Integrados de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Três Marias e de Itiúba realizaram, em dezembro de 2015, a captura de exemplares da espécie no rio Paracatu, um afluente do “Velho Chico”, no Alto São Francisco, região de Três Marias (MG). Os exemplares capturados foram levados para o Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Itiúba, em Alagoas.

O Projeto Pirá é resultado de uma parceria entre a Codevasf e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) cujo objetivo é realizar atividades com finalidade científica como captura, reprodução, larvicultura, alevinagem, peixamento e monitoramento ictiológico de espécies de peixes nativas da Bacia do São Francisco ameaçadas de extinção.

 

Codevasf

 

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