26 maio de 2017
Brasil – Agricultura – Considerações sobre a deriva

O QUE É DERIVA?

A deriva pode ser considerada como o movimento de parte da pulverização pra fora da área alvo, sob a influência das condições de clima. Há duas maneiras básicas através das quais os defensivos podem se mover na direção do vento:

Deriva de vapor: quando as moléculas dos produtos químicos se volatilizam, mesmo após terem sido depositadas na superfície do alvo. Essa forma de deriva está relacionada com a composição química dos produtos e as características físicas de seus componentes e não ao tipo de aplicação que foi utilizado.

 

Deriva de partículas: é o movimento das partículas da pulverização, ou gotas, formadas durante a aplicação. É a mais comum das ocorrências de deriva. Os fatores que concorrem para que as gotas não atinjam o alvo e se dispersem são: (1)o tamanho da gota; (2) o equipamento e o método de aplicação e (3) velocidade do vento e outras condições climáticas.

O Vento é a componente horizontal que desvia a trajetória inicial das gotas em direção ao alvo. É a condição meteorológica mais crítica influenciando a deriva. Quanto maior essa componente e menor o tamanho da gota (e consequentemente, seu peso), maior será a quantidade de líquido que deixa de atingir o alvo.

 

A evaporação das gotas da pulverização aumenta o potencial de deriva. Com a gradativa perda de líquido, as gotas vão diminuindo de tamanho e de peso sendo mais facilmente carregadas pelo vento. A taxa de evaporação da água (líquido usado na maioria dos casos como diluente das caldas aplicadas), para um determinado tamanho de gota, é dependente da umidade relativa do ar. Quanto menos a umidade relativa do ar, maior e a taxa de evaporação.

Uma grande parte das gotas produzidas (as de tamanhos menores) é desviada pelo vento e se evaporam totalmente antes de se depositarem nas superfícies alvo. Quando essas gotas se evaporam, as moléculas dos produtos químicos nelas diluídos permanecem em suspensão no ar, sendo carreadas a grandes distâncias. Essa deriva é muito difícil de ser detectada e somente se dá conta dela quando aparecem os seus sintomas em outras plantas ou culturas sensíveis.

 

A temperatura também influencia na estabilidade atmosférica, assim como a presença de turbulência e inversões. Em condições de inversão térmica, quando ao ar está muito calmo (estabilidade atmosférica), também pode ocorrer deriva pelo movimento lateral, embora lento, mas bastante significativo das massas de ar. A melhor maneira de se evitar o tipo de deriva associada com as condições atmosféricas é eliminar a formação de gotas muito finas na pulverização.

PROBLEMAS QUE A DERIVA PODE ACARRETAR:

O primeiro grande efeito da deriva é a diminuição da deposição do produto na área alvo, diminuindo dessa forma, a eficiência do processo (menor taxa de recuperação – relação entre a quantidade pulverizada e a quantidade depositada no alvo) e diminuindo a eficácia do tratamento (menor quantidade de produto depositado produzindo menor taxa de controle).

Como consequência do primeiro efeito, a parte que não chegou ao alvo irá para outro local, primeiramente para a atmosfera e depois se depositando (por acaso pelas chuvas, orvalho ou mesmo pela inversão térmica) em outras áreas ou mesmo culturas sensíveis. Isso pode ocorrer mesmo a distâncias consideráveis, decorrendo daí prejuízos a terceiros, bem como demandas judiciais bastante desgastantes e onerosas.

 

Muitas vezes, em função da baixa eficácia do tratamento ou falhas na aplicação, é necessária uma reaplicação em, pelo menos, parte da área. Isso acarreta um custo adicional no tratamento pela quantidade de produto o mais utilizado, custos operacionais (máquina e mão-de-obra) e até perdas na produção da cultura causadas pela ação das pragas.

A DERIVA PODE SER MINIMIZADA

Muitos estudos têm mostrado que o número de gotas pequenas (cerca de 70% a 80% das gotas produzidas) constitui uma porcentagem considerável do volume pulverizado e que são responsáveis pela ocorrência da deriva. A maioria dos trabalhos técnicos tem demonstrado que gotas com diâmetro menor que 100 micrometros (μm) são consideradas, em condições normais de aplicação, como perdidas por deriva e evaporação. Com esse conceito e com as informações técnicas fornecidas pelos fabricantes de bicos de pulverização, pode-se ter informação do “potencial de risco de perda”, isto é, a porcentagem do volume pulverizado que é composto por gotas com diâmetros menores que esse diâmetro, para os diferentes tipos de bicos e pressão de trabalho.

 

Para se ter uma ideia, a ponta de pulverização XR TeeJet 11001, à pressão de 2 bar, tem 14% do volume pulverizado em gotas abaixo de 100 μm. Já à pressão de 4 bar, esse valor passa a 24%. Já a ponta de pulverização XR11002 ( o dobro da vazão), nas mesmas pressões, os valores são 5% e 12%, respectivamente. Por outro lado, outro tipo de ponta, a Turbo TeeJet TT110VP, nas mesmas condições de pressão (2 e 4 bar), tem os valores <2% e 4%, e o TT11002VP, <2%.

Com respeito à diminuição dos riscos de deriva, vários aspectos importantes devem ser levados em consideração. Várias publicações técnicas têm listadas as principais recomendações para a diminuição dos rsicos de deriva. As principais são as seguintes:

-Selecionar produtos de baixa ou de nenhuma volatilidade.

-Ler e seguir todas as orientações das bulas dos produtos.

-Usar bicos de ângulos maiores, e a barra mais próxima possível do alvo (sem comprometer a uniformidade de distribuição). A barra tem que permanecer estável.

 

-Usar bicos de orifícios maiores, que produzem gotas maiores. Isso pode aumentar o número de carregamentos da máquina, mas irá melhorar a cobertura e a eficácia dos produtos.

-Evitar altas pressões de pulverização. Usar baixas pressões e bicos de redução de deriva quando for necessário e recomendado. Para isso, o manômetro do pulverizador deverá estar funcionando com exatidão.

-Evite pulverizar em dias extremamente quentes, principalmente se existir culturas sensíveis nas proximidades.

-Não aplicar quando as condições climáticas são favoráveis para uma inversão térmica.

-Evite pulverizar perto de culturas sensíveis que estejam na direção do vento. Deixe uma faixa de segurança (de 20 a 50 m) e pulverize essa faixa depois que o vento mudar de direção.

-A deriva é menor quando o vento está  abaixo de 16 km/h. Não pulverizar quando o vento for maior ou estiver soprando na direção de culturas sensíveis, construções, animais ou fontes de água.

-Usar aditivos ou espessantes só quando for necessário, seguindo a orientação das bulas.

-Manter os pulverizadores (principalmente os bicos de pulverização) sempre bem regulados.

-Instruir os operadores sobre as causas e consequências da deriva e como evita-la.

 

Os agricultores devem procurar sempre as informações necessárias para o melhor controle das pragas de suas lavouras. Porém, não devem somente ficar restritos aos tipos de produtos e doses. Um dos pontos principais para a eficácia dos produtos e a forma com que eles são aplicados. E a aplicação tem esses dois aspectos importantes: colocação do produto no alvo e evitar as perdas por evaporação e deriva. Ambos devem ser avaliados com igual senso comum visando o melhor resultado biológico e os menores riscos ao meio ambiente.

 

Autor: Eng. Agr. José Carlos Christofoletti
Consultor em Tecnologia de Aplicação.

Publicado em: Informativo Ampasul n° 148 – 1ª Quinzena de Maio

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Texto originalmente publicado em:
Ampasul
Autor: Eng. Agr. José Carlos Christofoletti
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