14 jan de 2018
Brasil – Agricultura – Controle de lagartas Chrysodeixis includens em função da deposição de inseticida no dossel da soja com diferentes pontas de pulverização

O objetivo do trabalho foi avaliar se diferentes pontas de pulverização utilizadas na aplicação de um inseticida influencia o controle de  lagartas falsa-medideira nos três terços do dossel das plantas de soja.

Autores:   ÉVERSON B. BONFADA1, MARCOS I. BILIBIO2, EDEVAN BEDIN2, WALTER BOLLER3

Trabalho disponível nos Anais do Evento e publicado com o consentimento dos autores.

RESUMO

 

A lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens) apresenta alto potencial de dano na cultura da soja. Seu controle químico é alvo de questionamentos, devido à deposição insuficiente de inseticidas no terço inferior das plantas, seu principal local de abrigo. O objetivo do trabalho foi avaliar se diferentes pontas de pulverização utilizadas na aplicação de um inseticida influencia o controle de  lagartas falsa-medideira nos três terços do dossel das plantas de soja.

 

O experimento foi conduzido no Laboratório de Entomologia da FAMV/UPF, Passo Fundo/RS, utilizando-se folhas de soja cultivar NS 5909, na safra 2016/17. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com arranjo fatorial (3 x 3) + testemunha, com cinco repetições. Os tratamentos constituíram-se da aplicação do inseticida de contato clorfenapir com três pontas de pulverização gerando distintos tamanhos de gotas (finas e médias) e de folhas oriundas dos terços superior, médio, inferior.

 

Foram avaliados o consumo médio diário, a mortalidade das lagartas e a qualidade da aplicação. Os dados de consumo diário foram submetidos à análise de variância (ANOVA – p<0,05) e as médias comparadas pelo teste de Tukey (p<0,05). O modelo de ponta de pulverização influencia a deposição de inseticida nos terços das plantas de soja, o consumo de área foliar e a mortalidade de lagartas.

 

PALAVRAS–CHAVEGlycine max, lagarta falsa-medideira, tecnologia de aplicação.

CONTROL OF Chrysodeixis includens CATERPILLARS IN FUNCTION OF INSECTICIDE DEPOSITION IN THE SOYBEAN CANOPY WITH DIFFERENT SPRAY NOZZLES

ABSTRACT

 

The false-midge caterpillar presents high potential of damage in the soybean crop. It’s chemical control is questioned because of the insufficient insecticide deposition in the lower third of the plants, being its main place of shelter. Therefore, the objective of this work was to evaluate if different spray tips used in the insecticide application influences the control of false-midge caterpillars in three thirds of the canopy of soybean plants.

 

The experiment was carried out in the Entomology Laboratory of the FAMV / UPF, Passo Fundo / RS, using soybean cultivar NA 5909 leaves, in the crop season 2016/17. The experimental design was completely randomized, with a factorial arrangement (3 x 3) + control, with five replications. The treatments consisted of the application of the contact insecticide clorfenapir with three spray tips generating different droplets sizes (fine and medium) and leaves from the upper, middle, lower thirds. Daily average consumption, caterpillar mortality and application quality were evaluated. The daily consumption data were submitted to analysis of variance (ANOVA – p <0.05) and the means were compared by the Tukey test (p <0.05). The spray tip model influences the insecticide deposition on the thirds of soybean plants as well as the leaf area consumption and the caterpillar mortality.

 

KEYWORDSGlycine max, false-midge caterpillar, application technology.

INTRODUÇÃO

A cultura da soja no Brasil representou uma área cultivada de 33,856 milhões de hectares na safra de 2016/17 (CONAB, 2017). Nessa cultura, um dos principais fatores que afetam a produtividade é a ocorrência de pragas (TOMQUELSKI et al., 2015). A lagarta falsa- edideira – Chrysodeixis includens (Walk, 1857), (Lepidoptera: Noctuidae) apresenta elevado potencial de dano à cultura, por isso, no seu controle devem ser tomados cuidados durante todo o período de desenvolvimento das plantas, em decorrência da alta capacidade de consumo de área foliar, que pode chegar até 200 cm² por indivíduo.

 

Além disso, devido ao hábito de ficar “escondida” entre as folhas das plantas, a aplicação de inseticidas deve atingir as folhas do terço inferior, cuja consequência direta é o uso de doses elevadas de produtos químicos para melhorar o controle (DEGRANDE; VIVAN, 2008).

Em geral, o controle de lagartas na cultura da soja é realizado via pulverização (DI OLIVEIRA et al., 2010), fazendo uso da tecnologia de aplicação, a qual consiste em colocar o produto biologicamente ativo no alvo (MATUO, 1990). Por isso, há a necessidade de estudar e analisar os melhores parâmetros (pontas e volumes) para obter uma pulverização tecnicamente mais adequada (JULIATTI et al., 2010).

 

Na aplicação dos pesticidas por via líquida, o tamanho de gota é um dos mais importantes fatores para a eficácia do controle, tendo em vista que o mesmo é diretamente relacionado à efetividade da deposição, à penetração do produto no dossel da cultura e à uniformidade de distribuição (DI OLIVEIRA, 2008).

 

Desse modo, Cunha et al. (2011) ressaltam que é preciso buscar estratégias que incrementem a deposição de pesticidas, principalmente no terço inferior da cultura da soja. O objetivo deste trabalho foi testar se o modelo de ponta de pulverização influencia no controle de lagartas falsa-medideira dependendo da deposição de inseticida nos três terços do dossel das plantas de soja.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

O experimento foi conduzido no campo experimental e no laboratório de Entomologia da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária FAMV/UPF. Durante a safra de 2016/2017, foi cultivada soja cultivar NA 5909 com hábito de crescimento indeterminado, espaçamento entre linhas de 0,45 m e densidade de 13,4 sementes viáveis/m-1.

Quando as plantas atingiram o estádio 5.1 (grãos com 10% de granação) foi realizada uma aplicação do inseticida Pirate®(clorfenapir),  classificado como inseticida/acaricida, de ação de contato e ingestão do grupo químico análogo de pirazol na dose de 240 g de produto comercial ha-1. As aplicações dos tratamentos (Tabela 1) foram realizadas com pulverizador costal pressurizado com CO2, equipado com uma barra provida de seis bicos, espaçados em 0,50m, sob uma taxa de aplicação de 150 L ha-1 .

 

No momento das aplicações as condições ambientais de temperatura do ar, umidade relativa do ar e velocidade do vento eram de 28,8 °C, 61% e 4,3 km/h, respectivamente. Foi avaliada a deposição do inseticida nos terços das plantas (topo, meio e solo), colocando-se um cartão hidrossensível e  cada estrato.

Para esta variável foi estimada a área coberta (%), DMV, amplitude relativa e quantidade de gotas por meio da análise dos cartões hidrossensíveis no software DropScope®. Após transcorridas cinco horas da aplicação do inseticida, foram selecionadas 10 plantas por parcela e levadas ao laboratório de Tecnologia de Aplicação/UPF para separação das mesmas em terços iguais com auxílio de régua graduada (inferior, médio e superior).

 

Destacou-se folíolos sem danos de insetos e sem presença de doenças de cada um destes terços, de tamanho uniforme dentro dos terços. Posteriormente foram acondicionados individualmente em placas de Petri, contendo papel filtro umedecido com água destilada para manter a viabilidade dos folíolos. Em cada placa, foi inoculada uma lagarta de 3° ínstar sobre o centro do folíolo, cada terço teve 25 placas, totalizando 300.

 

As placas foram mantidas em uma câmara com fotoperíodo de 12 horas e temperatura média do ar de 24,2 °C. Foram avaliados o consumo diário do folíolo (%) e a mortalidade das lagartas durante seis dias consecutivos, sem a reposição de folíolos. Os dados de consumo diário foram submetidos à análise de variância (ANOVA – p<0,05) e as médias comparadas pelo teste de Tukey (p<0,05).

TABELA 1. Descrição dos tratamentos utilizados no controle de C. includens na cultura da soja. FAMV/UPF, Passo Fundo/RS, 2017.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No momento da aplicação dos tratamentos no campo, a soja estava com um Índice de Área Foliar (IAF) de 4,2. Houve interação significativa e diferenças entre os tratamentos utilizados, pela análise de variância realizada, em todos os dias avaliados, quanto a percentagem de consumo diário de área foliar (dados não mostrados).

 

Para os valores de impacto de como de densidade de gotas. A ponta TT 110015 obteve maior deposição (área coberta) no terço médioquando comparado as demais pontas. No trabalho realiz ado por Di Oliveira et al., (2010) não encontraram diferença significativa entre os tipos de bicos de pulverização no controle de C. includens e entre os volumes de calda aplicados.

 

TABELA 2. Caracterização dos impactos de gotas: DV0,1, DV0,5, DV0,9, cobertura (%), densidade de gotas cm-², AR e DMN estimados pela análise dos cartões hidrossensíveis dependendo do tipo de ponta de pulverização e da posição de coleta das gotas no estrato das plantas.

O consumo de área foliar foi influenciado significativamente pelo uso das diferentes pontas de pulverização de inseticida, nos terços das plantas. A testemunha teve as maiores percentagens de consumo, seguida da ponta XR no terço inferior, significando uma menor deposição de inseticida neste estrato, porém em contrapartida o menor consumo foi no terço superior com esta mesma ponta e também onde ocorreu a maior mortalidade de lagartas no 1° e 2° dias (Figura 2).

 

FIGURA 1. Consumo médio diário de folíolos de soja (%) por lagartas falsa-medideira (C. includens),em função da aplicação do inseticida clorfenapir com diferentes pontas de pulverização nostrês terços de plantas de soja cultivar NS 5909. FAMV/UPF, Passo Fundo-RS, 2017.

A mortalidade de lagartas (Figura 2) no 1° dia (ação impactante do inseticida) foi maior no terço superior das plantas, com a ponta XR e menor no terço inferior com a ponta TT. A ponta Hypro GD representou uma maior mortalidade nesta data no terço inferior das plantas.

A mortalidade de 100% das lagartas foi atingida primeiramente no 3° dia, com a ponta TT no terço superior. Santos (1992) ressalta que para a efetividade de deposição e de penetração na aplicação de produtos fitossanitários, a qualidade e a uniformidade da cobertura do alvo estão condicionadas ao diâmetro de gotas, no qual as de menor diâmetro proporcionam maior penetração entre as folhas das culturas.

Porém os resultados mostram que a ponta de gota fina XR 110015 apresentou a menor mortalidade acumulada de lagartas até o 6° dia no terço inferior da planta, podendo este fato estar associado à deriva das gotas antes de atingir o alvo.

FIGURA 2. Mortalidade acumulada de lagartas falsa-medideira, até seis dias após a aplicação do inseticida clorfenapir com diferentes pontas de pulverização nos três terços de plantas de soja cultivar NS 5909. FAMV/UPF, Passo Fundo-RS, 2017.

CONCLUSÕES

O modelo de ponta de pulverização influencia na deposição de inseticida nos terços das plantas de soja e também no consumo de área foliar e mortalidade de lagartas.

Aplicação do inseticida com pontas que geram gotas de categoria fina tendem a proporcionar um controle mais satisfatório no terço superior do que as pontas que produzem gotas médias e grossas.

No terço inferior as pontas que geram gotas médias a grossas tendem a obter um maior controle em relação as pontas com gotas finas.

 

REFERÊNCIAS

 

CONAB. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento da safra Brasileira grãos, Safra 2016/17 – Oitavo Levantamento. Brasilia-DF: 2017. Disponível em: http://www.conab.gov.br. Acesso em: 15 de maio de 2017.

CUNHA, J.P.; FARNESE, A.C.; OLIVET, J.J.; VILLALBA. J. Deposição de calda pulverizada na cultura da soja promovida pela aplicação aérea e terrestre. Engenharia Agrícola. Jaboticabal, v.31, n.2, p.343-351, 2011.

DEGRANDE, P. E.; VIVAN, L. M. Pragas da Soja. Tecnologia e produção: soja e milho 2008/2009. MaracajuMS: FUNDAÇÃO MS, 2008. p. 73- 108.

DI OLIVEIRA, J.R.G.; FERREIRA, M.C.; ROMÁN, R.A.A. Diferentes diâmetros de gotas e equipamentos para aplicação de inseticida no controle de Chrysodeixis includens. Engenharia Agrícola. Jaboticabal, v.30, n.1, p.92-99, 2010.

JULIATTI, F.C.; NASCIMENTO, C.; REZENDE, A.A. Avaliação de diferentes pontas e volumes de pulverização na aplicação de fungicida na cultura do milho. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.36, n.3, p. 216-221, 2010.

GAZZONI, D.L. et al. Manejo de pragas da soja. Londrina: EMBRAPA-CNPSo, 1988. 44p. (EMBRAPA.CNPSo. Circular Técnica, 5). MATUO, T. Tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas. Jaboticabal: FUNEP, 1990. 139p SANTOS, J.M.F. Aviação agrícola: manual de tecnologia de aplicação de agroquímicos. São Paulo: Rhodia Agro, 1992. 100 p

 

TOMQUELSKI, G.V.; MARTINS, G. L. M.; DIAS, T. S. Características e manejo de pragas da ultura da soja. Pesquisa, Tecnologia e Produtividade, Chapadão do SulMS, v. 2, n. 9, p. 61-82, 2015.

ZAMBOLIM, L.; CONCEIÇÃO, M.Z.; SANTIAGO, T. O que os engenheiros agrônomos devem  saber para orientar o uso de produtos fitossanitários. 3ºed. Viçosa: UFV, 2008. 464p.

Informações do autores:     

1Eng° Agrônomo, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Agronomia (PPGAgro) da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (FAMV/UPF), Passo Fundo/RS;

2Mestrando do PPGAgro da FAMV/UPF, Passo Fundo/RS;

3Eng° Agrônomo, Dr., Professor Titular da FAMV/UPF, Passo Fundo/RS.

Disponível em: Anais do VIII Simpósio Internacional de Tecnologia de Aplicação – SINTAG, Campinas – SP, Brasil.

 

Fonte: Mais Soja

 

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