A Embrapa lança, neste dia 24 de abril, quando comemora os 45 anos de criação, “Visão 2030: o futuro da agricultura brasileira”. O documento de 212 páginas teve a colaboração de aproximadamente 400 colaboradores da Embrapa e instituições parceiras.
Foram analisados durante 18 meses sinais e tendências globais e nacionais sobre as principais transformações na agricultura em questões científicas, tecnológicas, sociais, econômicas e e ambientais e seus potenciais impactos. Ele pode ser acessado gratuitamente no site.
“Visão 2030” terá versões digital e impressa e oferece bases para o planejamento estratégico das organizações públicas e privadas de ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Edson Bolfe, coordenador do Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa (Agropensa) e da produção do documento, diz que “no esforço de análise e de prospecção de cenários buscou-se antever transformações e, assim, contribuir para a definição de diretrizes que orientem a programação de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) de instituições públicas e privadas com foco no desenvolvimento sustentável da agricultura”.
Na Embrapa, vai, particularmente, subsidiar estratégias e prioridades da Empresa, a produção do próximo plano diretor e o trabalho dos 2.448 pesquisadores da Empresa.
O documento traz perspectivas e os principais desafios científicos, tecnológicos e organizacionais baseados em análises do ambiente interno e externo, nacional e internacional. Um dos destaques é a identificação de sete mega tendências.
São elas: Mudanças Socioeconômicas e Espaciais na Agricultura; Intensificação e Sustentabilidade dos Sistemas de Produção Agrícolas; Mudança do Clima; Riscos na Agricultura; Agregação de Valor nas Cadeias Produtivas Agrícolas; Protagonismo dos Consumidores; e Convergência Tecnológica e de Conhecimentos na Agricultura. A publicação explora aspectos relacionados a cada uma das mega tendências e sugere desafios e oportunidades, por exemplo.
Para chegar à identificação das sete mega tendências, o trabalho desenvolvido ao longo de mais de um ano, se baseou em sinais e tendências apontados por diferentes setores da sociedade, incluindo atores das cadeias produtivas agrícolas, segmentos da iniciativa privada, do terceiro setor e de outras organizações públicas.
Internamente, estudos realizados no âmbito do Sistema Agropensa, da carteira de projetos e do programa de cooperação internacional da Empresa (Laboratórios Virtuais no Exterior – Labex) forneceram os subsídios para as contribuições e análises de pesquisadores e especialistas que atuam nos mais de 40 centros de pesquisa da Embrapa no País.
Impactos, cenários e mega tendências: as projeções da pesquisa agropecuária para um futuro sustentável
O Sistema Agropensa da Embrapa vem trabalhando há anos com a análise e a projeção de cenários sobre a evolução e o futuro da agropecuária no Brasil e no mundo. Tendo em vista os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pelas Nações Unidas, o documento lançado este ano – “Visão 2030: o futuro da agricultura brasileira” – dá continuidade às análises e prospecções futuras consolidadas em duas outras publicações anteriores: “O Futuro do Desenvolvimento Tecnológico da Agricultura Brasileira” (2014), e “Cenários exploratórios para o desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira” (2016).
No primeiro estudo foram indicados os cinco eixos de impacto para orientar a atuação futura da Embrapa. No segundo, identificou-se quatro possíveis cenários para a evolução da agricultura do Brasil a médio e a longo prazo.
Dialogando com essas prospecções de forma inovadora, esse terceiro estudo aponta sete mega tendências delineadas por aspectos científicos, tecnológicos, socioeconômicos, ambientais e mercadológicos emergentes. “Tratam-se de indicadores de forças que se formam de maneira lenta, mas geram consequências que perduram por um longo prazo na agricultura”, explica Edson Bolfe.
Além de explorar aspectos específicos que levaram à percepção das sete megatendências, na publicação lançada agora, em 2018, são identificados os grandes desafios delas derivados. “A partir desses desafios foram feitas análises sobre como poderá ser a agricultura brasileira nos próximos anos.
O objetivo é que as análises geradas contribuam para a tomada de decisões estratégicas da Embrapa e parceiros públicos e privados e para o maior desenvolvimento social, econômico e ambiental do Brasil”, finaliza Bolfe.
A trajetória e o atual posicionamento da agricultura brasileira frente às tendências e sinais forneceram as premissas para a condução das análises das megatendências. Entre elas, destacam-se o fato de que o Brasil continuará figurando entre os principais protagonistas mundiais na produção e no comércio de grãos e carnes nos próximos anos e a constatação de que a tecnologia foi responsável pelo alcance dessa posição e continuará funcionando como um vetor transformador.
Contribuições da ciência frente aos desafios
Soluções apresentadas recentemente pela Embrapa indicam que a empresa já vem atuando no sentido de responder a alguns das dezenas de desafios apontados pelo estudo. O Sistema de Inteligência Territorial Estratégica da Macrologística Agropecuária Brasileira, lançado em março, atende, por exemplo, ao desafio de “Ampliar o uso da inteligência territorial estratégica em ações de governança e gestão pública e privada das cadeias produtivas da agricultura”, apontado pelas análises relacionadas à mega tendência “Mudanças socioeconômicas e espaciais na agricultura”.
Sistemas de produção intensivos e sustentáveis, soluções resultantes da pesquisa e técnicas que dispensam o uso de insumos químicos integram o conjunto de soluções que fazem frente a desafios impostos pela megatendência “Intensificação e sustentabilidade dos sistemas de produção agrícolas”.
Nesse sentido, um dos principais exemplos de sistemas de produção intensivos e sustentáveis é o de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), implantado, atualmente, em diferentes combinações, em mais de 11 milhões de hectares no Brasil.
Com o audacioso objetivo de chegar a 1 milhão de hectares em 2030, a Rede ILPF constituída em 2012 pela Embrapa e quatro parceiros (Cocamar, John Deere, Soesp, Syngenta), foi transformada em março em Associação, mudança de status marcada pela adesão de dois novos integrantes: a SOS Mata Atlântica e o Bradesco.
Com foco na internacionalização, na agregação de valor por meio da certificação e na inovação, a agora Associação Rede ILPF continuará o trabalho de transferência de tecnologia, capacitação de assistência técnica e de comunicação, buscando aperfeiçoá-lo.
Com foco na mitigação dos efeitos da mudança do clima, uma ferramenta criada pela Embrapa é a Plataforma ABC, que tem como missão articular ações multi-instittucionais de monitoramento da redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) dos setores da agropecuária brasileira, sobretudo as reduções derivadas das ações previstas e em execução pelo Plano agricultura de baixa emissão de carbono – Plano ABC).
Entre as soluções resultantes da pesquisa, uma das mais recentes que será apresentada durante a solenidade de 45 Anos da Embrapa no próximo dia 24 é o processo de inoculação de braquiária com Azospirillum que, entre outras vantagens, também traz benefícios ambientais ao favorecer o sequestro de carbono da atmosfera e eliminar a necessidade de aplicação de insumos químicos à lavoura.
Outro exemplo de contribuição da pesquisa agropecuária para o enfrentamento dos desafios que, por sua vez, atende à necessidade de reduzir perdas e desperdício de alimentos por meio do desenvolvimento de novas embalagens é a que resultou na criação de uma película biodegradável.
Funcionando como um revestimento comestível para frutas, no caso do coco verde, a película pode prolongar em até quatro vezes a vida útil do produto.
Ao ser adotada este ano pelo mercado, a solução está permitindo que uma fruta tipicamente tropical chegue à Europa atendendo a um mercado consumidor exigente: o revestimento garante a manutenção das características nutricionais do coco natural e a água dentro dele sem alteração de cor ou sabor. Mais uma prova concreta do quanto a ciência contribui, de fato, para a ampliação das exportações de produtos alimentícios.
Fonte: Embrapa