29 abr de 2018
Brasil – Agricultura – Equilíbrio inteligente

A cobertura permanente do solo, princípio elementar do SPD, tem enfrentado resistência por parte de muitos produtores. Estagnação produtiva tem relação com sistema desequilibrado

100 sacas de soja, 200 sacas de milho e 300 arrobas de algodão. Essas são produtividades possíveis de serem obtidas, hoje em dia, em sistemas bem equilibrados. Números distantes dos respectivos, 60, 150 e 250 que há anos estão cravados como médias produtivas em importantes regiões do Cerrado brasileiro.

 

Por trás dessa realidade, está a palavra “equilíbrio”, nem sempre levado em conta nas decisões, sejam agronômicas sejam estratégicas. O bom, velho e sábio Sistema Plantio Direto (SPD), carrega em si boa parte da resposta que conduz àquelas metas citadas no início do texto. Todo mundo sabe dos três pilares básicos da técnica. Sabe o que é preciso ser feito. Mas poucos o fazem e, desses poucos, apenas uma parte respeita o sistema em todas as suas especificidades conservacionistas. A estrada se bifurca no entroncamento do “planejamento de longo prazo” com as “necessidades mais imediatas”.

Cobertura permanente do solo é estratégica. Do ponto de vista físico, você retém umidade nos períodos mais quentes e secos e ainda preserva o solo do impacto direto da chuva, que lava suas camadas mais superficiais, sem falar na estrutura do solo necessária para o desenvolvimento do sistema radicular das plantas. Sob o aspecto químico, a palhada, ao preservar o extrato mais rico do solo, preserva também os nutrientes que serão necessários para a performance da lavoura. Mas do ponto de vista biológico, você, através da oferta contínua de matéria orgânica, nutre a vida que acontece ali, melhorando a atividade microbiologia e, assim, desencadeia um processo equilibrado e naturalmente sustentável para o seu sistema produtivo. A interação equilibrada nos aspectos físicos, químicos e biológico do solo tem a produtividade como resposta.

 

Mas, diante de benefícios tão notórios, por que então não adotar a formação de palhada como regra na propriedade? Necessidades imediatas. De acordo com o engenheiro agrônomo Ronaldo Trecenti, diretor da Vetor Agroambiental Consultoria, “o produtor está pouco capitalizado, então trabalha com a perspectiva focada no mercado. A decisão sobre o que vai plantar está pautada nos preços que o mercado está pagando e não no planejamento de uma rotação que contemple as necessidades de geração de palhada que o seu sistema precisa”, explica.

O SPD tem sido estudado cada vez mais. Sistemas como Integração Lavoura-Pecuária (ILP) ou Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) vêm, nos últimos anos, promovendo uma verdadeira revolução na forma de pensar do produtor rural. Sem dúvida alguma, a tecnologia é determinante nesse processo. Porém, a inteligência que está por trás do emprego dessa tecnologia tem se tornado mais ampla, holística até — como muitos diriam —, por adotar uma percepção mais integral da interação água-solo-planta-animal. Cai a ficha de que tudo está conectado.

 

Especializado nas áreas de SPD e ILPF, há anos Trecenti está naquela bifurcação da estrada apontando a quem chega ali o caminho do “planejamento de longo prazo”. Segundo ele, é preciso que o produtor tenha em mente que, no longo prazo, é mais vantajoso pensar em uma receita menor agora, porém, viabilizar um sistema produtivo mais seguro, com sustentabilidade agronômica e econômica.

“É preciso investir em formação de palhada. Isso enriquece o seu sistema e dá segurança. No final das contas, esse investimento é um verdadeiro seguro agrícola. É a garantia da manutenção estrutural e da resiliência do sistema em casos de estresses, como os causados pelas intempéries climáticas, por exemplo, que estão ficando mais intensas ultimamente. Na região de Sorriso e Lucas do Rio Verde, durante a safra 2016/2017, a distribuição irregular de chuva no início do plantio provocou um veranico em outubro/novembro que fez os produtores sem palhada, perderem o plantio e terem que o refazer. Já os produtores que tinham investido em palhada (soja no verão, milho safrinha com braquiária) não sentiram o problema. A diferença ao final da safra foi de 20 a 30 sacas por hectare entre os dois sistemas. Quando você tem que replantar, compromete as janelas de tempo e a produção cai. Além disso, atrasa a safrinha, elevação de custos por ter que fazer o replantio. Isso significa mais semente, mais horas de máquina, mais mão de obra”, observa.

 

Produtividade e inteligência

No cenário atual, é comum observar uma tendência em pleno andamento: um quadro que associa cultivares muito precoces de soja e milho, antecipando a colheita para janeiro (antes colhia-se em abril e maio, período mais seco) e máquinas maiores (com solo sob chuva, o estrago é grande). A pouca presença da palhada deixa de amortecer os efeitos da operação mecânica e significa também pouca raiz. Assim, o que se vivencia é a perda da capacidade de aeração, de infiltração de água de chuva no solo.

“Pouca palha, chuvas fortes, pouca raiz, máquinas cada vez maiores, levando o produtor a desfazer terraços para adaptar a fazenda à maquina. Passamos 20 anos adaptando a máquina ao SPD, agora a situação tem se invertido em muitos casos que temos acompanhado. O objetivo de aumentar a escala de produção, tem reduzido o olhar inteligente sobre a eficiência. Preocupa-se também muito com a fertilidade química, mas a estrutura física e biológica está ficando em segundo plano. Aí está a estagnação na produtividade. Posso comprar um trator de 250 Hp, pulverizador que não precisa de operador, bicos do mais modernos, com aplicação eletrostática, colocar agricultura de precisão. Mas se eu não trabalhar na base da coisa que é o solo, o alicerce, o sistema fica limitado a determinados patamares”, aponta Trecenci.

Caminhos

Mato Grosso é um estado onde a média produtiva da soja, por exemplo, estabilizada em 60 sacas por hectare há uma década, tem incomodado. Entre os dias 1 e 3 de agosto, justamente para discutir questões como o aumento de produtividade, os produtores rurais do Meio Norte de MT, através do Sindicato Rural, pelo Clube Amigos da Terra e pelo Instituto Matogrossense do Algodão, com apoio da prefeitura municipal de Sorriso vão promover o 16º Encontro Nacional do Plantio Direto na Palha (ENPDP). Um indicativo de que a ficha está caindo e a percepção sendo ampliada.

Fonte: FEBRAPDP – Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação
Autor: Da Redação FEBRAPDP
Texto originalmente publicado em:
FEBRAPDP
Autor: Da Redação FEBRAPDP
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