21 jun de 2017
Brasil – Agricultura – Influência de épocas de aplicação foliar de Azospirillum brasilense nos teores de nutrientes do trigo irrigado

O objetivo deste trabalho foi avaliar os teores nutricionais e o índice de clorofila foliar da cultura do trigo irrigado no Cerrado em função de diferentes épocas de aplicação de A. brasilense via foliar.

Autores: Fernando Shintate Galindo2, Marcelo Carvalho Minhoto Teixeira Filho3; Mariana Gaioto Ziolkowski Ludkiewicz2, João Leonardo Miranda Bellote2, José Mateus Kondo Santini2 e Lais Meneghini Nogueira2. 

Trabalho Disponível nos Anais do Evento e publicado com o consentimento dos autores.
Trabalho Disponível nos Anais do Evento e publicado com o consentimento dos autores.

RESUMO: A inoculação com Azospirillum brasilense via foliar é viável e tem sido alvo de pesquisas, no entanto, ainda são escassos os trabalhos sobre a melhor época de aplicação via foliar para obter ótimo benefício desta inoculação, e consequentemente refletir em melhor nutrição da cultura do trigo. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar os teores nutricionais e o índice de clorofila foliar da cultura do trigo irrigado no Cerrado em função de diferentes épocas de aplicação de A. brasilense via foliar. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso com seis tratamentos e quatro repetições, sendo que os tratamentos foram: Testemunha (sem inoculação), aplicação foliar aos 12, 24, 36, 48 e 60 dias após emergência (d.a.e.) das plântulas de trigo de A. brasilense estirpes Abv5 Abv6 (garantia de 2×108m UFC ml-1) via foliar por meio de bomba de gás carbônico com vazão de 300 L ha-1 na dose de 0,250 L ha-1 de inoculante (líquido). Os teores foliares de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre, assim como o índice de clorofila foliar do trigo irrigado, não foram influenciados pela época de aplicação foliar do Azospirillum brasilense.

Termos de indexação: Triticum aestivum, bactéria diazotrófica, Cerrado


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INTRODUÇÃO 

As condições de solo, clima e topografia, favoráveis ao cultivo de trigo, tanto de sequeiro como irrigado, em épocas e altitudes definidas pela pesquisa, faz do Brasil Central região de enorme potencial para a expansão dessa cultura com a perspectiva de propiciar, em médio prazo, a autossuficiência na produção nacional. Da mesma forma, a inserção do trigo no Cerrado contribui para diversificar os sistemas produtivos regionais agregando elementos para a sustentabilidade de produção nesse ecossistema brasileiro (Teixeira Filho et al., 2011).

 

A inoculação com Azospirillum é comumente realizada via sementes, onde o produto pode ser aplicado na forma sólida (como turfa) ou na forma líquida (Hungria et al., 2010). Recentemente a inoculação com Azospirillum brasilense via foliar tem sido alvo de pesquisas, no entanto, ainda são escassas as pesquisas sobre a melhor época de aplicação via foliar para obter ótimo benefício desta inoculação, e consequentemente refletir em melhor nutrição e produtividade da cultura do trigo. Além do fato de que na maioria das pesquisas com inoculação com Azospirillum ssp., apesar de terem sido constatados um ou mais benefícios, o incremento nutricional na cultura de trigo, nem sempre foi observado, sendo importante mais experimentos desse tipo. Em vista de tais informações, o objetivo deste trabalho foi avaliar os teores nutricionais e o índice de clorofila foliar da cultura do trigo irrigado no Cerrado em função de épocas de aplicação de A. brasilense via foliar.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

O experimento foi conduzido na área experimental pertencente à Faculdade de Engenharia – UNESP, localizada em Selvíria – MS, com altitude de 335 m. O solo da área experimental foi classificado como Latossolo Vermelho Distroférrico, textura argilosa, segundo classificação da Embrapa (2013), o qual foi cultivado por culturas anuais há mais de 27 anos, sendo nos últimos 10 anos em sistema plantio direto e a cultura anterior à semeadura do trigo foi o milho.

A precipitação durante o ciclo da cultura foi de 152,3 mm, enquanto que a temperatura média e a umidade relativa do ar média foram de 22,9 oC e 67,4%, respectivamente. O tipo climático na região é Aw, segundo Köppen caracterizado como tropical úmido com estação chuvosa no verão e seca no inverno.

 

Os atributos químicos do solo na camada arável determinados antes da instalação do experimento, segundo metodologia proposta por Raij et al. (2001) apresentaram os seguintes resultados: 13 mg dm-3 de P (resina); 6 mg dm-3 de S-SO4; 23 g dm-3 de M.O.; 4,8 de pH (CaCl2); K, Ca, Mg, H+Al = 2,6; 13,0; 8,0 e 42,0 mmolc dm-3, respectivamente; Cu, Fe, Mn, Zn (DTPA) = 5,9; 30,0; 93,9 e 1,0 mg dm-3, respectivamente; 0,24 mg dm-3 de B (água quente) e 36% de saturação por bases. Com base na análise de solo e com o intuito de elevar a saturação por bases a 70%, conforme recomendação de Cantarella et al. (1997), foram aplicados 2,5 t ha-1 de calcário dolomítico (PRNT = 88%), 65 dias antes da semeadura do milho, cultura antecessora ao trigo.

 

Na adubação de semeadura do trigo foram fornecidos 400 kg ha-1 da 08-28-16, o que equivale a 32 kg ha-1 de N, 112 kg ha-1 P2O5 e 64 kg ha-1 de K2O para todos os tratamentos, baseado na análise do solo e na exigência da cultura do trigo.

A adubação nitrogenada de cobertura foi realizada no dia 26/06/2014, 35 d.a.e., utilizando-se 100 kg ha- 1 de N, tendo-se como fonte a ureia (45% de N). A aplicação foi realizada manualmente, distribuindo-se o fertilizante sobre a superfície do solo (sem incorporação), ao lado e aproximadamente 8 cm das fileiras, a fim de se evitar o contato do fertilizante com as plantas. Após a adubação de cobertura a área foi irrigada por aspersão (lâmina de 13 mm) para minimizar as perdas de N por volatilização da amônia.

 

O delineamento experimental foi em blocos ao acaso com seis tratamentos e quatro repetições, sendo que os tratamentos foram: Testemunha (sem inoculação), aplicação foliar aos 12, 24, 36, 48 e 60 dias após emergência (d.a.e.) das plântulas de trigo de A. brasilense estirpes Abv5 Abv6 (garantia de 2×108 UFC ml-1) via foliar por meio de bomba de gás carbônico com vazão de 300 L ha-1 na dose de 0,250 L ha-1 de inoculante (líquido) e pontas do pulverizador do tipo leque.

A condução do experimento foi em sistema plantio direto e foi utilizado o cultivar de trigo CD 116. A semeadura mecânica foi realizada no dia 16/05/14, com emergência de plântulas 6 dias após semeadura, no dia 22/05/2014, sendo semeadas 80 sementes por metro. A área foi irrigada por um sistema de aspersão do tipo pivô central, com lâmina de água média de 13 mm e turno de rega de aproximadamente 36 horas. No tratamento de sementes foram utilizados fungicidas compostos quimicamente de Carbendazim + Thiran (45 + 105 g i.a. 100 por 100 kg de semente) e o inseticida Imidacloprido +Thiodicarb (45 + 135 g i.a. por 100 kg e semente).

 

O manejo de plantas daninhas foi efetuado com a aplicação do herbicida Metsulfuron Methyl (3,0 g ha-1 do i.a.) em pós-emergência. A colheita foi efetuada manualmente no dia 09/09/2014, 110 dias após a emergência do trigo. A leitura do índice de clorofila foliar (ICF) foi realizada no período da manhã quando as plantas de trigo estavam no estádio de florescimento, sendo determinada indiretamente por meio de clorofilômetro, na folha bandeira de 10 plantas por parcela. A determinação dos teores de N, P, K, Ca, Mg e S foliar foram realizadas de acordo com a metodologia de Malavolta et al. (1997), coletando-se a folha bandeira de 20 plantas de trigo, no florescimento da cultura, de cada parcela segundo a metodologia descrita em Cantarella et al. (1997).

 

Utilizou-se para análise estatística o programa SISVAR. Os dados foram submetidos à análise de variância (teste F) e teste de Tukey para comparação da não aplicação (testemunha) e das épocas de aplicação de Azospirillum brasilense via foliar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

O índice de clorofila foliar, assim como os teores foliares de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre do trigo irrigado não foram afetados significativamente pela época de aplicação de Azospirillum brasilense via foliar (Tabela 1), não diferindo inclusive da não aplicação desta bactéria diazotrófica. Porém, ressalta-se que em relação à testemunha, em média, houve incrementos de 6,42; 8,11; 4,57 e 8,62% para o ICF e teores de Ca, Mg e S, respectivamente. Por outro lado, o teor de P foliar foi 6,11% inferior, em média, nos tratamentos que receberam a aplicação foliar de Azospirillum brasilense.

Tabela 1. Índice de clorofila foliar (ICF), teores de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre em função da época de aplicação de Azospirillum brasilense via foliar. Selvíria – MS, 2014.

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Resultados semelhantes foram obtidos por Portugal et al. (2012) com relação ao índice de clorofila foliar, onde os autores verificaram que a inoculação via foliar da bactéria A. brasilense em plantas de milho via foliar, não influenciou o índice de clorofila foliar. Müller et al. (2012) também não verificaram efeito da inoculação em semeadura e sulco de plantio no índice de clorofila foliar. Uma possível explicação da não identificação dos tratamentos no teor de clorofila, segundo Dwyer et al. (1995), é que quando a planta absorve quantidade excessiva de N, na forma de nitrato, dessa maneira, o N não se associa à molécula de clorofila, sendo assim, não é detectado pelo aparelho.

 

Os valores de ICF do trigo obtidos neste experimento, inclusive para testemunha, são relativamente altos. Teixeira Filho et al. (2014), avaliando o efeito de doses, fontes e épocas de aplicação de N na cultura do trigo (cv. IAC 370) irrigado no Cerrado, constataram menor valor de ICF (43,77) para mesma dose de N (100 kg ha-1) e sem inoculação com Azospirillum brasilense.

Corroborando com os resultados obtidos, Ferreira et al. (2014), estudando doses de N em cobertura e aplicação de A. brasilense via foliar não encontraram diferença para o teor de N foliar em função da aplicação de Azospirillum brasilense.

 

Resultados semelhantes foram constatados por Barbieri et al. (2012); Rodrigues et al. (2012) e Tarumoto et al. (2012), ao estudarem doses de nitrogênio, aplicação de regulador vegetal e tratamento com defensivos agrícolas com inoculação com A. brasilense na cultura do trigo no Cerrado, respectivamente, também não verificaram influência da inoculação no teor de N foliar.

Contudo, Portugal et al. (2012) observaram que a inoculação via foliar proporcionou aumento no teor de N na cultura de milho, o que segundo o autor possivelmente ocorreu devido a resposta da fixação biológica de N2 e do aumento de volume do sistema radicular promovida pela bactéria, permitindo com que a planta explorasse maior volume de solo e, consequentemente, absorvesse maior quantidade de N do solo. Algumas pesquisas com trigo têm sugerido que a inoculação com bactérias diazotróficas não substitui o adubo nitrogenado, porém, pode promover melhor absorção e utilização do N disponível (Saubidet et al., 2002), contudo tal premissa não foi verificada neste trabalho.

 

CONCLUSÕES

 

Os teores foliares de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre assim como o índice de clorofila foliar do trigo irrigado, não foram influenciados pela época de aplicação do Azospirillum brasilense via foliar.

REFERÊNCIAS 

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CANTARELLA, H.; RAIJ, B. VAN; CAMARGO, C.E. O. Cereais. In: RAIJ, B. van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A. et al. Recomendações de calagem e adubação para o Estado de São Paulo. Campinas: Instituto Agronômico de Campinas, 1997, 285p. (Boletim técnico, 100).

DWYER, L. M.; ANDERSON, A. M.; MA, B. L. et al. Quantifying the nonlinearity in chlorophyll meter response to corn leaf nitrogen concentration. Canadian Journal of Plant Science, 75:179-182, 1995.

EMBRAPA – EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 3ª ed. Brasília, DF: Embrapa, 2013. 353p.

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HUNGRIA, M.; CAMPO, R. J.; SOUZA, E. M. S. et al. Inoculation with selected strains of Azospirillum brasilense and A. lipoferum improves yields of maize and wheat in Brazil. Plant and Soil, 331:413-425, 2010.

MALAVOLTA, E.; VITTI, G.C.; OLIVEIRA, A.S. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. 2.ed. Piracicaba: Potafós. 1997. 319p.

MÜLLER, T. M.; BAZZANEZI, A. N.; VIDAL, V. et al. Inoculação de Azospirillum brasilense no Tratamento de Sementes e Sulco de Semeadura na Cultura do Milho. In: Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 29,   Aguas de Lindóia-SP. Anais. Campinas: IAC/ABMS, 2012. p.1665- 1671.

PORTUGAL, J. R.; ARF, O.; LONGUI, W. V. et al. Inoculação com Azospirillum brasilense via foliar associada à doses de nitrogênio em cobertura na cultura do milho. In: Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 29, Águas de Lindóia-SP. Anais. Campinas: IAC/ABMS, 2012. p.1413-1419 (CD ROM).

RAIJ, B. van; ANDRADE, J. C.; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J. A. Análise química para avaliação da fertilidade de solos tropicais. Campinas: IAC, 2001. 285p.

RODRIGUES, M.; ARF, O.; BARBIERI, M. K. F. et al. Inoculação com Azospirillum brasilense e aplicação de regulador vegetal em trigo irrigado no cerrado. In: Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, 6, Londrina – PR. Anais. IAPAR, 2012. p. 1-5 (CD-ROM).

SAUBIDET, M. I.; FATTA, N.; BARNEIX, A. J. The effect of inoculation with Azospirillum brasilense on growth and nitrogen utilization by wheat plants. Plant and Soil, 245:215-222, 2002.

TARUMOTO, M. B.; VAZQUEZ, G. H.; ARF, O. et al. Inoculação com Azospirillum brasilense e tratamento de sementes com defensivos agrícolas na produtividade de trigo irrigado na região do cerrado. In: Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale, 6, Londrina – PR. Anais. IAPAR, 2012. p. 1-5 (CD ROM).

TEIXEIRA FILHO, M. C. M.; BUZETTI, S; ANDREOTTI, M. et al. Application times, sources and doses of nitrogen on wheat cultivars under no-till in the Cerrado region. Ciência Rural, 41:1375-1382, 2011.

TEIXEIRA FILHO, M. C. M. BUZETTI, S; ANDREOTTI, M. et al. Wheat Nitrogen Fertilization Under no Till on the Low Altitude Brazilian Cerrado, Journal of Plant Nutrition, 37:1732-1748.

Informações dos autores:

(2) Estudantes; Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”; Ilha Solteira, São Paulo;

(3) Professor; Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”; Ilha Solteira, São Paulo.

Disponível em: XXXV Congresso Brasileiro de Ciência do Solo. O Solo e Suas Múltiplas Funções, Natal, Rio grande Do Norte, 2015

 

 

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