O impasse em relação à tabela de preços mínimos do frete, que já dura quase um mês, além de travar o escoamento da safra de grãos, tem paralisado também o mercado de fertilizantes. “Há duas relações sendo prejudicadas: a primeira é o transporte dos portos para indústrias e misturadoras. E a segunda é o translado das indústrias para o consumidor final”, explica Vitor Belasco, analista de mercado da IEG FNP.
Nesse cenário de aumento nos fretes, além de muitos navios carregados com fertilizantes estarem parados nos portos, empresas estão mudando a modalidade de entrega nos contratos de CIF (Cost, Insurance and Freight) para FOB (Free on Board). No primeiro caso, a contratação de frete e seguro fica por conta das indústrias e, no segundo, recai sobre as revendas. “Como o tabelamento cria insegurança em relação a quanto os preços vão subir, a indústria opta por deixar a revenda assumir esse risco”, diz o analista. Ele explica que como as revendas são o elo mais fraco da relação – por ter capital de giro bem menor do que as indústrias -, isso encarece e prejudica mais o processo, pois as lojas têm menor capacidade de absorção dos custos. “Isso torna a transmissão da alta do frete mais rápida ao produto final e quem acaba pagando por isso é o produtor”.
De acordo com levantamento da IEG FNP, os preços pagos pelos produtores no mercado doméstico em maio foram, em média, 20% mais altos do que no ano passado. “Se você somar esse custo do frete, acentuado depois do tabelamento, com a baixa disponibilidade de produto no mercado, tem a receita para elevação dos preços. Isso sem contar a valorização do dólar sobre o real, que também encarece os fertilizantes”, afirma Belasco. Das 35 milhões de toneladas de fertilizantes consumidas anualmente, cerca de 25 milhões são importadas, fazendo com que a influência do câmbio seja grande nas cotações do insumo. Em relação às entregas dos adubos, Belasco vê um pequeno deslocamento no fluxo por causa dos 11 dias de greve dos caminhoneiros, mas diz que essa diferença deve ser dilatada nos próximos meses, sem grandes acumulações (veja gráfico abaixo).
Segundo ele, no momento quem sente mais os efeitos do impasse é quem trabalha com antecipação de receitas. “O alcance é tão grande que está travando a comercialização antecipada de soja e milho da safra 2018/2019, principalmente via barter. Como fixar essa operação se não tem precificação correta do fertilizante?”
Apesar do cenário negativo no momento, o analista não crê que o tabelamento do frete vá mudar a decisão do produtor sobre a área de cultivo da próxima safra, principalmente porque com a boa colheita e as altas nas cotações da soja e do milho – que representam 60% do consumo de fertilizantes – em relação ao ano passado, o produtor conseguiu se capitalizar. “Mas esse impasse não pode demorar, porque uma coisa é esse efeito sobre os preços ocorrer no período de baixa demanda de fertilizantes e outra é acontecer em início de preparação do novo plantio. Mas desde que não ocorra uma catástrofe, que seriam dois meses de paralisação do fluxo de comercialização, não deve ter maiores impactos em função disso”. No país, o pico da procura por fertilizantes para a safra de verão ocorre entre julho e outubro.
Ele pondera, porém, que um aumento dos preços dos fertilizantes mais persistente, em razão da pressão da demanda e do dólar mais alto podem fazer o produtor rever a expectativa de expansão da área no futuro. “Mas muito provavelmente não vai se dar pela via de encarecimento do frete”, diz.
Fonte: Portal DBO.