10 abr de 2017
Brasil – Agricultura – Pesquisador alerta sobre efeitos do encharcamento em lavouras de algodão

Os altos índices pluviométricos ocorridos em Mato Grosso nos meses de janeiro, fevereiro e março deste ano – da ordem de 1200 a 1500 mm em algumas regiões como Campo Novo do Parecis, Sapezal, Lucas do Rio Verde, Sorriso e Nova Mutum – têm preocupado produtores, técnicos e pesquisadores. O algodoeiro é uma planta que não tolera o encharcamento do solo e, para amenizar as consequências dessa situação ou até prevenir que aconteça nas próximas safras, o pesquisador Fábio Rafael Echer vem participando de encontros de Grupos Técnicos do Algodão (GTAs) em alguns núcleos regionais de produção algodoeira em Mato Grosso a convite do Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt).

 

Doutor em Fisiologia do Algodão, Echer é atualmente líder do Grupo de Estudos do Algodão da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste). Ele explica que o algodoeiro é uma planta que não tolera o encharcamento do solo – condição conhecida como hipoxia, ou baixo teor de oxigênio (inferior a 10%) -, pois esta é uma condição que não ocorre em seus locais de origem (regiões desérticas). “O algodoeiro não desenvolveu habilidades genéticas para conviver com o problema”, afirma o pesquisador.

 

Segundo ele, o encharcamento na fase inicial da cultura limita o desenvolvimento radicular e, por consequência, a absorção de nutrientes, pois em situações de hipoxia a respiração das raízes é prejudicada, o que pode levar à sua perda parcial, ou, dependendo da frequência, à perda total do sistema radicular e até à morte da planta. “Mesmo havendo nutrientes em quantidade suficiente no solo, a planta não é capaz de absorvê-los, uma vez que o potencial redox do solo é alterado, tornando-os indisponíveis às plantas, o que pode favorecer as perdas por lixiviação, especialmente do nitrogênio”, alerta Echer.

 

O pesquisador acrescenta que o nitrogênio é o nutriente absorvido em maior quantidade pelo algodoeiro e, como função básica, compõe a molécula da clorofila, juntamente com o magnésio. São estes pigmentos, clorofilas e carotenoides, os responsáveis pela absorção de luz e transferência de energia durante a fotossíntese. “Sem isso, a planta não é capaz de produzir energia (carboidratos) para o seu crescimento (sistema radicular e parte aérea). Portanto, uma planta sob encharcamento terá baixo crescimento e apresentará coloração verde pálida e amarelada”, diz. Outra consequência do encharcamento, de acordo com Echer, é o aumento da síntese de etileno, hormônio responsável pela inibição do crescimento e pela abscisão de estruturas reprodutivas.

 

Perdas –  Estudos em ambiente controlado demonstraram que as fases iniciais do desenvolvimento da cultura são as mais críticas (plântula, botão floral e início do florescimento), onde podem haver perdas significativas do sistema radicular e da produtividade, caso a planta fique exposta ao encharcamento, e as perdas são proporcionais ao tempo de exposição.

“Calcula-se que a perda diária em produtividade devido ao alagamento chegue a 3,2@/ha de algodão em fibra, valor este definido para ambiente australiano de produção. Estima-se que, após quatro dias de encharcamento as perdas não se acumulem mais, o que pode prejudicar a produtividade em 12,8@/ha, ou aproximadamente 30@/ha de algodão em caroço, desde que as condições ambientais (chuvas e temperatura) após o período de alagamento sejam ideais para o cultivo, o que em condições tropicais pode agravar ainda mais o problema”, explica Echer.

 

Estratégias de manejo – O pesquisador tem apresentado em Mato Grosso algumas estratégias de manejo para reduzir os efeitos do encharcamento, entre elas, o aumento da capacidade de infiltração de água no solo através da eliminação de camadas compactadas no solo. Essa eliminação deve ser realizada antes do período de cultivo do algodoeiro através da subsolagem ou da escarificação, seguidas pela implantação de uma cultura de cobertura (milheto, crotalária, braquiárias, etc), para evitar que o solo se acomode novamente. Além disso, a eliminação do impedimento químico pela alta saturação por alumínio através da gessagem ou calagem em profundidade superior a 40 cm ajudará o aprofundamento das raízes, e, no caso das culturas de cobertura, deixará um canalículo que facilitará a infiltração de água, bem como o crescimento da raiz do algodoeiro.

 

Segundo Echer, a elevação das linhas de plantio é uma técnica bastante utilizada em países que utilizam irrigação por sulco, o que permite que pelo menos parte do sistema radicular respire adequadamente. Esta técnica, porém, parece não ser adequada às condições do cerrado brasileiro, pelo menos a curto e médio prazo, mas considerando que, nos últimos anos a frequência de situações de encharcamento tem aumentado, pode ser uma alternativa de manejo em áreas muito planas.

 

Outra alternativa sugerida para mitigar o problema é a adubação foliar, principalmente com nitrogênio, considerando que a absorção dos nutrientes via solo fica comprometida durante o encharcamento. Porém, é preciso que a adubação foliar seja realizada antes que o encharcamento seja agravado, pois pode comprometer a absorção, podendo causar toxidez. “O intuito dessa aplicação foliar é deixar o teor de N na parte aérea suficiente, o que possibilitará a retomada mais rápida do crescimento quando o estresse acabar”, diz Echer.

 

Quanto á adubação via solo, o pesquisador diz que é recomendado realizar a cobertura nitrogenada cerca de uma semana após o fim do encharcamento, pois se realizada antes disso, podem haver perdas do nutriente por lixiviação, uma vez que o solo ainda está sendo drenado. “Em alguns casos o aumento da dose de N em 20-30% pode melhorar a produtividade, pois uma parte do nitrogênio aplicado anteriormente provavelmente será perdida e essa dose extra compensará esta perda, sem que necessariamente, haja recuperação completa da produtividade”, conclui.

Fonte: Ampa

Texto originalmente publicado em:
Ampa
Autor: Assessoria de Comunicação Ampa
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