Todo mundo já sabe que o cultivo de milho transgênico resistente a insetos reduziu drasticamente o uso de inseticidas nas lavouras dos Estados Unidos. A novidade é que um estudo da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, mostrou que agricultores de variedades convencionais, e até mesmo orgânicas, também se beneficiaram da adoção de organismos geneticamente modificados (OGM). Isso quer dizer transgênicos e orgânicos podem não só coexistir, mas favorecer uns aos outros?
É isso mesmo. O trabalho, publicado na revista científica Proceeding of the National Academy of Sciences (PNAS) vai de encontro a um argumento frequente de grupos anti-OGM: o que de que transgênicos e orgânicos não poderiam conviver em harmonia. Na verdade, o que os dados mostram é o contrário. Para chegar a essa conclusão os pesquisadores examinaram populações de duas pragas comuns tanto em lavouras de milho quanto em feijão e pimenta – a broca-do-milho e a lagarta-da-espiga. A análise foi feita antes e depois da adoção do milho resistente a insetos – conhecido como Bt – nos Estados Unidos (1996). A redução significativa desses insetos logo após a introdução desta tecnologia em grandes áreas sugere que regiões adjacentes também se beneficiam dos efeitos inseticidas das lavouras transgênicas.
A diminuição no número de insetos também permitiu aos agricultores convencionais de feijão e pimenta minimizar as aplicações de inseticidas. Antes disso, eles lançavam mão de defensivos agrícolas para evitar as perdas causadas por essas pragas. Culturas não transgênicas, a exemplo do milho doce e da pimenta, localizadas próximas a regiões onde variedades Bt foram cultivadas tiveram redução de 85% e 79%, respectivamente, no uso de inseticidas entre 1992 e 2016.
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De acordo com o autor do estudo, o professor emérito do departamento de entomologia da Universidade de Maryland, Galen Dively, esse é o primeiro trabalho que mostra que os transgênicos resistentes a insetos beneficiam outras plantas que também são hospedeiras das mesmas pragas. “Verificamos mais de 90% de supressão da broca-do-milho em culturas não geneticamente modificadas; isso é incrível!”.
Agricultores orgânicos, por não fazerem uso de determinados defensivos químicos sintéticos, são especialmente vulneráveis aos danos causados por insetos. Os pesquisadores de Maryland sugerem que esses produtores podem ter ainda mais vantagens. Eles contam com menos ferramentas para controlar pragas em suas lavouras e uma diminuição na ocorrência delas seria especialmente bem-vinda. Vale ressaltar que os benefícios da adoção de OGM para cultivos orgânicos adjacentes já haviam sido sugeridos antes. Porém, esta é a primeira vez em que a hipótese foi confirmada por uma extensa pesquisa de campo.
Da mesma maneira, as culturas Bt também podem ser benéficas ao meio ambiente por permitirem a sobrevivência de insetos não-alvo, a exemplo de joaninhas. O uso de inseticidas, ao contrário das culturas Bt, não é seletivo e o uso de predadores naturais de insetos é um componente importante do manejo integrado de pragas.
Fonte: PNAS, 15 de abril de 2018, disponível no Portal do CIB