11 jan de 2018
Brasil – Agricultura – Temer sanciona com vetos o parcelamento de dívidas do Funrural

Desconto de 100% nas multas é um dos 24 dispositivos vetados pelo presidente; justificativa é de que mudanças do Congresso vão na contramão do ajuste fiscal

 

O presidente Michel Temer sancionou na noite desta terça-feira, 9, com vetos, o projeto que prevê o parcelamento das dívidas previdenciárias de produtores rurais com o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural). A contribuição paga pelos empregadores para ajudar a custear a aposentadoria dos trabalhadores incide sobre a receita bruta da comercialização da produção.

 

O presidente vetou 24 dispositivos do texto aprovado em dezembro pelo Congresso Nacional, seguindo recomendação dos ministérios da Fazenda e do Planejamento. Entre os pontos vetados estão os descontos de 100% de multas dados pelos parlamentares – a proposta original previa abatimento de 25% nas multas. Na justificativa para os vetos, o presidente argumentou que as mudanças propostas pelo Congresso vão na contramão do ajuste fiscal e “desrespeitam” os contribuintes que pagaram as contribuições em dia.

 

“Os dispositivos representam sobrelevação de custo fiscal imputado ao Tesouro Nacional, sem previsão na Lei Orçamentária para recepção do impacto, e indo de encontro ao esforço fiscal empreendido no país. Ademais, as alterações legislativas propostas, incluída a dispensa das exigências de regularidade fiscal, desrespeitam os mutuários do crédito rural adimplentes com a União e com os agentes financeiros, podendo representar estímulo indevido ao risco moral.”

O presidente também vetou a redução da alíquota de contribuição de 2,5% para 1,7% ao produtor rural pessoa jurídica a partir de fevereiro de 2018; a inclusão da renegociação de outras dívidas rurais com bancos públicos, em sua maioria por pequenos agricultores; e a limitação para utilização de créditos tributários sobre dívidas igual ou inferior a R$ 15 milhões.

 

Também foi vetada a isenção de contribuição na comercialização destinada ao plantio, reflorestamento, reprodução pecuária ou granjeira. O setor produtivo havia pleiteado uma única contribuição sobre o produto final e a retirada da cobrança escalonada, principalmente na pecuária. “O que há é uma múltipla cobrança desses produtores. Não é justo pagar a contribuição duas, três vezes, sobre, por exemplo, a semente de soja, o plantio e a colheita, assim como sobre a produção do boi magro e boi gordo”, explica a deputada Tereza Cristina (DEM-MS), da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

 

Em nota, o deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), presidente da FPA, disse que pontos importantes foram mantidos e que a entidade se esforçou para que o “o estrago ao setor fosse o menor possível. O que não conseguimos garantir agora, tentaremos recuperar na análise dos vetos pelo Congresso Nacional e derrubar”.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, os técnicos da equipe econômica defenderam um veto praticamente integral à proposta, deixando apenas a redução da alíquota do Funrural para pessoas físicas de 2% para 1,2% e a possibilidade de cobrança sobre a folha de pagamento, em vez de incidir sobre o faturamento da produção.

 

A justificativa usada foi que a proposta sofreu muitas alterações nas mãos dos parlamentares, elevando a renúncia fiscal de R$ 7,6 bilhões para R$ 15 bilhões em 15 anos. Mas a avaliação no Planalto foi que a equipe econômica “pesou a mão” na hora de recomendar os vetos. Por isso, o presidente acabou sancionando pontos que os técnicos tinham pedido veto – como a redução do porcentual da entrada de 4% para 2,5% da dívida.

Temer quis evitar um desgaste maior com a bancada ruralista, uma das mais influentes no Congresso Nacional, em meio às articulações para tentar aprovar a reforma da Previdência. Nesta terça-feira, ele se reuniu com a deputada Tereza Cristina, relatora do Refis do Funrural na Câmara.

 

O governo já enfrentou desgaste com a decisão do presidente Michel Temer de acatar posição da equipe econômica e vetar integralmente o Refis para micro e pequenas empresas. O veto foi feito porque não há previsão, no Orçamento, para a renúncia fiscal com o programa.

 

A lei que permite o parcelamento das dívidas com o Funrural prevê a quitação dos débitos vencidos até 30 de agosto de 2017. A adesão ao programa será aceita até 28 de fevereiro de 2018. O produtor rural que aderir ao programa terá de pagar 2,5% da dívida consolidada em até duas parcelas iguais, mensais e sucessivas. O restante poderá ser parcelada em até 176 prestações.

 

O texto sancionado pelo presidente pode ser conferido na íntegra em: http://bit.ly/2CKgioP. A FPA também preparou um documento de perguntas e respostas. Acesse aqui.

Fonte: ESTADÃO CONTEÚDO e FPA
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