Este trabalho teve como objetivo avaliar as alterações no balanço de reguladores vegetais em plantas de milho, cultivado em primeira safra, com a utilização do uso sequencial de regulador de crescimento trinexapac-ethyl associado a diferentes densidades populacionais
Autores: Gabrielli Poiatti Straub1, Claudemir Zucarelli, André Preclak Barbosa, Camila Nery Guidini, Fernanda Moreira Cardoso, Marcos Vinicius Feliciano, Luiz Abilio Ribeiro Alves
RESUMO
Por ser uma cultura de alta importância mundial tanto para a alimentação humana quanto animal, é necessário que o milho (Zea mays L.) expresse seu máximo potencial produtivo. Deste modo, a utilização de elevadas densidades populacionais e a aplicação de reguladores vegetais se adequam a essa nova realidade de manejo, as quais buscam o favorecimento da expressão do potencial genético das plantas. O objetivo foi avaliar as alterações nos teores de reguladores vegetais em plantas de milho, cultivado na primeira safra, com uso sequencial de trinexapac – ethyl associado a diferentes densidades populacionais. O experimento foi realizado na Fazenda Escola da Universidade Estadual de Londrina (UEL), e o delineamento experimental foi o de blocos inteiramente casualizados, em esquema fatorial (2 x 5) com 4 repetições, sendo os fatores: fator A – duas densidades de plantas (70.000 e 130.000 pl. ha-1) e fator B – cinco combinações sequenciais da aplicação do regulador vegetal trinexapac-ethyl ((1: 400 g i. a. ha-1 em V6); (2: 400 g i. a. ha-1 em V9); (3: 400 g i. a. ha-1 em V6 + 400 g i. a. ha-1 em V9); (4: 400 g i. a. ha-1 em V9 + 400 g i. a. ha-1 em V12) e (5: 400 g i. a. ha-1 em V6 + 400 g i. a. ha-1 em V9 + 400 g i. a. ha-1 em V12). Foram analisados os teores de auxina (AIA), giberelina (GA3), citocinina (BAP) e ácido abscísico (ABA). A aplicação sequencial do trinexapac-ethyl reduziu os teores de ABA e BAP quando realizada em V9+V12, sem a interferência das densidades populacionais.
Palavras chaves: Zea mays L, densidade populacional, regulador vegetal
Introdução
O milho (Zea mays L.) é considerado um dos principais e mais tradicionais cereais cultivados no mundo. Isso ocorre, devido ao seu elevado potencial produtivo, conteúdo nutricional e por ser utilizado tanto na alimentação humana quando na animal.
Atualmente, muito agricultores tem buscado atingir elevados potenciais produtivos para grãos, utilizando técnicas que buscam essa melhoria. Uma delas é o uso de densidades populacionais que variam de 50.000 a 80.000 plantas por hectare. No entanto, a obtenção de altos rendimentos só será possível quando se alcança o número adequado de plantas por unidade de área, o qual é dependente da disponibilidade hídrica da região, fertilidade do solo, cultivar escolhida, finalidade do cultivo, a latitude da área e a época de semeadura.
Deste modo, buscam-se alternativas que possam adequar os genótipos a essa nova realidade de manejo. Uma das possibilidades é a utilização de reguladores de crescimento, que são compostos sintéticos que atuam para reduzir o crescimento indesejado na planta, evitando assim, o acamamento e quebramento destas, bem como permitindo o adensamento da cultura. Essa redução de arquitetura ocorre devido a inibição da rota de biossíntese de giberelinas e sua utilização também torna as plantas mais tolerantes a fatores de estresse, deixando estas mais vigorosas e permitindo que seu potencial produtivo seja mantido individualmente.
Deste modo, o trinexapac-ethyl, regulador de crescimento que atua na rota de biossíntese do ácido giberélico (HECKMAN et al., 2002) é muito utilizado na cultura do trigo e em gramíneas devido a sua alta eficiência em reduzir a altura das plantas, evitar o seu acamamento e reduzir a elongação dos entre nós. Isso proporciona, além da diminuição de giberelina na planta, a alteração no balanço de outros reguladores vegetais.
Porém, são escassos os estudos que utilizem reguladores de crescimento na cultura do milho. Desta forma, este trabalho teve como objetivo avaliar as alterações no balanço de reguladores vegetais em plantas de milho, cultivado em primeira safra, com a utilização do uso sequencial de regulador de crescimento trinexapac-ethyl associado a diferentes densidades populacionais.
Material e Métodos
O experimento foi realizado na Fazenda Escola da Universidade Estadual de Londrina (UEL), localizada em 23º20’32” S e 51º12’32” W, numa altitude média de 550 metros. O solo do local é caracterizado como LATOSSOLO VERMELHO Eutroférrico (LVe) (EMBRAPA, 2013).
A semeadura foi realizada em sistema de plantio direto com adubação de base de 250 kg ha-1 de N-P-K, e com densidade de semeadura de 144.000 sementes viáveis ha-1, posteriormente realizou-se o desbaste manual das plântulas para as determinadas densidades de 70.000 e 130.000. Utilizou-se no experimento o híbrido Pioneer 30F53 PW.
O delineamento experimental foi o de blocos inteiramente casualizados, em esquema fatorial (2 x 5), com 4 repetições, sendo os fatores: fator A – duas densidades de plantas (70.000 e 130.000 pl. ha-1) e fator B – cinco combinações sequenciais da aplicação do regulador vegetal trinexapac-ethyl (1: 400 g i. a. ha-1em V6); (2: 400 g i. a. ha-1 em V9); (3: 400 g i. a. ha-1 em V6 + 400 g i. a. ha-1 em V9); (4: 400 g i. a. ha-1 em V9 + 400 g i. a. ha-1 em V12) e (5: 400 g i. a. ha-1 em V6 + 400 g i. a. ha-1 em V9 + 400 g i. a. ha-1 em V12).
No estádio VT/R1 foi realizada coleta de folhas bandeiras (última expandida) para serem utilizadas as análises bioquímicas, seguindo a escala fenológica de Ritchie et al. (1993). Foram avaliadas as características bioquímicas, conforme as metodologias a seguir:
Teor de auxina: o material vegetal foi coletado, higienizado e congelado. Preparou-se a solução Salkowsky (H2SO4 – 7,9 M, FeCl3 – 40 mM) e separou o tampão de extração (tetraborato de sódio:19 g L-1; dimercapto: 0,8 g L-1; pvpp: 20 g L-1, completando volume com água destilada). Em um almofariz colocou-se 0,2 g de material vegetal fresco, sendo adicionado 4,5 ml de tampão de extração, e então realizou a maceração. A amostra foi transferida para um ependorf e centrifugada por 10 min a 12.000 rpm a 4ºC. Coletaram-se 600 microlitros do sobrenadante e adicionou 0,2 microlitros de tampão, além de 1,2 ml do reagente Salkovski. Após foi realizada a agitação em vortex e as amostras mantidas no escuro por 30 minutos. Em seguida procedeu a leitura em espectrofotômetro a 540 nm, em que se determinou a absorbância da solução e então os valores foram convertidos por meio de fórmula adaptada de (LOPER e SCHROTH, 1986) em mg de auxina por g de material vegetal.
Teor de giberelina: Conforme anteriormente descrito nas análises bioquímicas, o material vegetal foi coletado, higienizado e congelado. Após, coloram-se em um almofariz 0,2 g de material vegetal fresco, e assim, adicionado 4,5 mL de tampão de extração (tampão fosfato 0,2 molar pH 7,5) e então realizou a maceração. A purificação da amostra foi conduzida com a utilização de acetato de zinco e ferrocianeto de potássio. O volume de 1 mL da amostra foi então transferido para recipiente contendo 1 mL de etanol (PA), para que haja a completa extração das giberelinas. Após 75 minutos no etanol, as amostras receberam 1 mL de uma solução com 30% de ácido clorídrico (3,75 M) e 70% de água destilada para a clarificação das amostras, em seguida foi realizado a agitação das amostras em vortex e após a clarificação, ocorrendo a leitura da absorbância, que foi realizada em espectrofotômetro a 254 nm. Os valores obtidos foram convertidos em mg por g de material vegetal, conforme metodologia adaptada por Bérrios et al. (2004).
Para a determinação de ABA e BAP, foi macerado 01 g de massa fresca das folhas em nitrogênio líquido, adiciona-se 20 mL de solução de extração (metanol e HCl, na proporção de 19,075 para 0,025 mL, respectivamente). As amostras foram mantidas em agitação constante por 60 minutos no escuro a 16°C e centrifugadas a 4°C por 10 min. a 10.000 rpm, foram transferidos 10 mL do sobrenadante passados para tubo de ensaio, submetidas a agitação em vortex por 5 segundos e a leitura da absorbância das amostras foi realizada em espectrofotômetro UV/Vis nos comprimentos de 270 e 285 nm para ABA e BAP, respectivamente.
Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística, pelo teste de Shapiro-Wilk e Bartlett, para determinação da normalidade e homogeneidade do resíduos. Após realizou-se a análise de variância e, os fatores aplicação sequencial do regulador de crescimento foi comparado pelo teste de Tukey e o fator densidade de plantas comparado pelo teste F, a 5% de probabilidade.
Resultados e discussão
Verificou-se resposta apenas para a aplicação sequencial do trinexapac-ethyl em relação a todas as variáveis analisadas, sendo que a variável ácido Abcísico (ABA) e a citocinina (BAP) apresentaram significância a 1% e Auxina (AIA) a 5%.
Tabela 1: Resumo da analise de variância para as características estudadas em função da época de aplicação do regulador de crescimento e densidades populacionais.
Conforme tabela 2, verificou-se que não houve diferença significativa entre as épocas de aplicação de trinexapac-ethyl para a concentração de giberelina (GA3) e auxina (AIA). Para o ácido abscísico (ABA), verificou-se maior concentração deste para a aplicação sequencial V9+V12, isso ocorre devido este regulador vegetal ser oposto a giberelina, modificando a relação entre ABA/GA (TAIZ; ZEIGER, 2014) e, portanto, gerando este aumento.
A maior concentração de BAP também foi verificada na aplicação sequencial V9+V12, demostrando então a efetividade da aplicação sequencial nessas duas épocas especificas em relação à concentração desses hormônios.
A giberelina caracteriza-se por estimular tanto a divisão celular quanto a elongação. Nas gramíneas, este hormônio atua principalmente no alongamento dos entrenós, agindo sob o meristema intercalar, localizado próximo a sua base (TAZ;ZEIGER, 2014). Deste modo, por se tratar de um hormônio responsável pelo crescimento longitudinal no colmo, quando são aplicados reguladores vegetais antagonistas a esta ação e que inibem a síntese de giberelina, ocorre a redução do porte das plantas pela modificação do seu metabolismo (Rajala; Peltronen-Sainio, 2001). Isso proporciona, além da diminuição de giberelina na planta, a alteração no balanço de outros hormônios, como ocorreu para o ABA e o BAP.
Confira nossa galeria de cursos TOTALMENTE ONLINE! Agregue conhecimento, faça já!
Essa resposta de aumento de um regulador vegetal e diminuição de outro, pode estar relacionada ao processo de auto regulação da planta. A percepção do hormônio, que se encontra em quantidades baixas, é feita por um receptor e resulta em eventos transcricionais ou pós-transcricionais, induzindo deste modo, uma reação que pode ser fisiologia ou morfológica, através do mecanismo de retroalimentação negativa (TAIZ; ZEIGER, 2014).
Tabela 2: Teores de reguladores vegetais de folhas de milho em relação a aplicação sequencial de trinexapac-ethyl, Londrina-PR.
Conclusões
Há alterações nos teores de reguladores vegetais em resposta a aplicação sequencial de trinexapac-ethyl.
As concentrações de ABA e BAP são reduzidas em resposta a aplicação sequencial do trinexapac-ethyl.
As densidades populacionais utilizadas não modificam as concentrações de reguladores vegetais.
Referências
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Sistema brasileiro de classificação de solos. 3.ed.Brasilia, DF, 2013. 353p.
HECKMAN, N. L.; ELTHON, T. E.; HORST, G. L. e GAUSSOIN, R. E. Influence of trinexapac-ethyl on respiration of isolated wheat mitochondria. Crop Science, Madison, v. 42, n. 2, p. 423-427, 2002.
LOPER, J. E., and M. N. SCHROTH. “Influence of bacterial sources of indole-3-acetic acid on root elongation of sugar beet.” Phytopathology 76.4 (1986): 386-389.
RAJALA, A.; PELTONEN-SAINIO, P. Plant growth regulator effects on spring cereal root and shoot growth. Agronomy Journal, Madison, v. 5, n. 93, p. 936-943, 2001.
RITCHIE, S. W. HANWAY, J. J.; BENSON, G. O.; HERMAN, J. C. How a corn plant develops: Iowa State University of Science and Technology, Cooperative Extension Service 1993.
Silva, R. A., Oliveira, L. S., Fogaça, J. J. N. L., & Faria, M. P. R. (2014). Alterações morfológicas na cultura do algodão em função da aplicação de paclobutrazol, 10, 1–9.
Informações dos autores:
1Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Ciências Agrarias/ CCA.
Disponível em: Anais do XXXII Congresso Nacional de Milho e Sorgo 2018. Lavras, MG.
Fonte: Mais Soja