19 abr de 2018
Brasil – Agricultura – Transgênicos orgulhosamente brasileiros

Não é fácil desenvolver um novo transgênico. De acordo com um estudo inglês, de autoria de Phillips McDougall, para um produto chegar ao mercado são necessários, em média, 12 anos de estudos. Esse é o período entre a descoberta do gene e a liberação comercial de uma cultivar na qual há um trecho de DNA de outro organismo ou na qual o genoma da própria variedade está editado.

 

Em outras palavras, isso significa que, se o Brasil comemora 20 anos de transgênicos em 2018 (o primeiro OGM do País foi aprovado em 1998), podemos calcular, para além desse tempo, pelo menos mais 10 anos de pesquisa e desenvolvimento. Isso representa 30 anos de transgênicos sem nenhum registro de malefício à saúde humana, animal ou ao meio ambiente. É bastante coisa. No mínimo, isso confirma a segurança desses produtos, desde o princípio atestada por inúmeros pesquisadores e agências reguladoras.

Mas o tempo não é a única variável que deve ser levada em conta. A biotecnologia é uma atividade que demanda também muito investimento. Ainda segundo McDougall, um novo transgênico custa em média US$ 136 milhões, aproximadamente R$ 400 milhões. Desse total, cerca de 50% são usados para o desenvolvimento do produto, 23% na descoberta do gene e os 26% restantes investidos em testes de biossegurança e no processo de aprovação. O rigor das avaliações palas quais passam esses produtos torna o trabalho com biotecnologia agrícola uma atividade de alto risco e custo, afinal poucas empresas têm capital suficiente para investir quantias dessa grandeza e esperar mais de 10 anos para ter algum retorno, se tudo der certo. Esse cenário é especialmente restritivo para pequenas e médias empresas.

É por essas e outras que é fundamental valorizar a pesquisa brasileira nessa área. Em nosso País, apesar de todas as dificuldades pelas quais a ciência nacional passa, fomos capazes de desenvolver produtos inovadores e que têm potencial não só de facilitar a vida dos agricultores, mas de fazer o Brasil chegar mais perto dos líderes globais desse mercado. A Embrapa, por exemplo, foi a primeira empresa pública do mundo a aprovar um OGM. Em 2011, ela conseguiu na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) a autorização para a comercialização do feijão GM resistente ao vírus do mosaico dourado, uma doença que devasta as lavouras dessa leguminosa. A empresa também está em fases avançadas do desenvolvimento de uma soja e uma cana-de-açúcar transgênica tolerantes à seca, esperança para muitos agricultores de regiões com pouca disponibilidade de água.

 

Mas não é só a Embrapa que conseguiu superar as dificuldades, pesquisar e desenvolver biotecnologia agrícola no Brasil. A FuturaGene, empresa que foi adquirida pela brasileira Suzano Papel e Celulose S.A., em 2010, obteve a aprovação de um eucalipto transgênico com maior produtividade florestal em 2015. O primeiro eucalipto GM do mundo tem potencial, por exemplo, de diminuir a área plantada com a cultura, reduzindo a pressão sobre as florestas naturais e disponibilizando essas áreas para outros fins, como produção de alimentos e preservação. O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), outra empresa nacional, também está na vanguarda da biotecnologia vegetal. Em 2017, a CTNBio aprovou a cana-de-açúcar GM da empresa, uma variedade inovadora que apresenta resistência à broca da cana, inseto que causa prejuízos milionários à indústria sucroenergética, fundamental para o Brasil.

 

Esses exemplos mostram que o Brasil pode se tornar um importante player no setor de biotecnologia. Para isso, entretanto, é essencial que o esforço dos cientistas brasileiros seja reconhecido, tanto nos serviços prestados à CTNBio, por meio de criteriosas análises de biossegurança, quanto nas empresas, liderando pesquisas de ponta que levam a produtos que podem revolucionar a agricultura. A valorização do conhecimento científico é um dos alicerces de uma economia robusta, diversa e, sobretudo, sustentável.

Artigo originalmente publicado na edição de fevereiro de 2018 da revista AgroAnalysis


*Por Hugo Molinari – Engenheiro Agrônomo, Pós-doutor em Genética Vegetal e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)

Fonte: Disponível no Portal do CIB

Texto originalmente publicado em:
Não é fácil desenvolver um novo transgênico. De acordo com um estudo inglês, de autoria de Phillips McDougall, para um produto chegar ao mercado são necessários, em média, 12 anos de estudos. Esse é o período entre a descoberta do gene e a liberação comercial de uma cultivar na qual há um trecho de DNA de outro organismo ou na qual o genoma da própria variedade está editado. Em outras palavras, isso significa que, se o Brasil comemora 20 anos de transgênicos em 2018 (o primeiro OGM do País foi aprovado em 1998), podemos calcular, para além desse tempo, pelo menos mais 10 anos de pesquisa e desenvolvimento. Isso representa 30 anos de transgênicos sem nenhum registro de malefício à saúde humana, animal ou ao meio ambiente. É bastante coisa. No mínimo, isso confirma a segurança desses produtos, desde o princípio atestada por inúmeros pesquisadores e agências reguladoras. Mas o tempo não é a única variável que deve ser levada em conta. A biotecnologia é uma atividade que demanda também muito investimento. Ainda segundo McDougall, um novo transgênico custa em média US$ 136 milhões, aproximadamente R$ 400 milhões. Desse total, cerca de 50% são usados para o desenvolvimento do produto, 23% na descoberta do gene e os 26% restantes investidos em testes de biossegurança e no processo de aprovação. O rigor das avaliações palas quais passam esses produtos torna o trabalho com biotecnologia agrícola uma atividade de alto risco e custo, afinal poucas empresas têm capital suficiente para investir quantias dessa grandeza e esperar mais de 10 anos para ter algum retorno, se tudo der certo. Esse cenário é especialmente restritivo para pequenas e médias empresas. É por essas e outras que é fundamental valorizar a pesquisa brasileira nessa área. Em nosso País, apesar de todas as dificuldades pelas quais a ciência nacional passa, fomos capazes de desenvolver produtos inovadores e que têm potencial não só de facilitar a vida dos agricultores, mas de fazer o Brasil chegar mais perto dos líderes globais desse mercado. A Embrapa, por exemplo, foi a primeira empresa pública do mundo a aprovar um OGM. Em 2011, ela conseguiu na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) a autorização para a comercialização do feijão GM resistente ao vírus do mosaico dourado, uma doença que devasta as lavouras dessa leguminosa. A empresa também está em fases avançadas do desenvolvimento de uma soja e uma cana-de-açúcar transgênica tolerantes à seca, esperança para muitos agricultores de regiões com pouca disponibilidade de água. Mas não é só a Embrapa que conseguiu superar as dificuldades, pesquisar e desenvolver biotecnologia agrícola no Brasil. A FuturaGene, empresa que foi adquirida pela brasileira Suzano Papel e Celulose S.A., em 2010, obteve a aprovação de um eucalipto transgênico com maior produtividade florestal em 2015. O primeiro eucalipto GM do mundo tem potencial, por exemplo, de diminuir a área plantada com a cultura, reduzindo a pressão sobre as florestas naturais e disponibilizando essas áreas para outros fins, como produção de alimentos e preservação. O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), outra empresa nacional, também está na vanguarda da biotecnologia vegetal. Em 2017, a CTNBio aprovou a cana-de-açúcar GM da empresa, uma variedade inovadora que apresenta resistência à broca da cana, inseto que causa prejuízos milionários à indústria sucroenergética, fundamental para o Brasil. Esses exemplos mostram que o Brasil pode se tornar um importante player no setor de biotecnologia. Para isso, entretanto, é essencial que o esforço dos cientistas brasileiros seja reconhecido, tanto nos serviços prestados à CTNBio, por meio de criteriosas análises de biossegurança, quanto nas empresas, liderando pesquisas de ponta que levam a produtos que podem revolucionar a agricultura. A valorização do conhecimento científico é um dos alicerces de uma economia robusta, diversa e, sobretudo, sustentável. Artigo originalmente publicado na edição de fevereiro de 2018 da revista AgroAnalysis *Por Hugo Molinari – Engenheiro Agrônomo, Pós-doutor em Genética Vegetal e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
Autor: Por Hugo Molinari
Fonte: Mais Soja
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