18 abr de 2018
Brasil – Agropecuária – Período de transição: Saiba como identificar e previnir as 3 doenças que mais impactam a saúde da vaca

17/04/2018 | Autor: Marcelo Grossi Machado – Coordenador Técnico de Gado de Leite Sudeste

A pecuária leiteira convive há séculos com um setor de baixo desempenho e rentabilidade. Casos de sucesso são sempre levantados e elogiados, pois são, quase sempre, raros.

 

Os motivos técnicos para isso são diversos: falhas na ambiência, alimentação, reprodução, sanidade entre outros.

Um fato perceptível é que a lactação é a fase da vida do animal que o produtor normalmente é mais focado, dado aos resultados de curto prazo que isso gera (quem traz renda para a fazenda).

Outro fato importante é a massiva maioria de nossas propriedades tendo insucesso em resultados reprodutivos, que leva a um número de dias em lactação alto e assim baixa resposta nutricional e financeira.

 

O clima do País sem dúvida contribui, quando comparado a sistemas de clima temperado, porém existe um inimigo óbvio ainda invisível para a maioria dos produtores que precisa ser abordado: as falhas durante o período de transição, que engloba tradicionalmente 21 dias antes e 21 dias depois do parto.

Aqui vão algumas perguntas para repensarmos nosso sistema: por que nossas vacas são inseminadas com 120, 150, 180, 210… dias em lactação e não cedo como recomendado? Por que muitas fazendas têm taxa de concepção tão baixa? Por que mesmo onde a observação de cio (taxa de serviço) e a eficiência de inseminação (taxa concepção) são razoáveis estes animais só demonstram cios férteis bem tarde?

Após o parto surgem várias dores de cabeça ao produtor como: retenção de placenta, deslocamento de abomaso, hipocalcemia, metrite, mastite, cetose…

 

Praticamente todas as doenças de vacas em lactação poderiam ser reunidas nesta fase e o maior erro é não entender que o período que vem antes é muito mais importante do que a lactação em si.

Segundo (Godden, 2003), 25% dos descartes de vacas ocorrem até 62 dias de lactação, advindos especialmente de casos de retenção de placenta ou derivados dele.

Por ser um problema silencioso, ou muitas vezes que os produtores se acostumam a ter na fazenda, estes esquecem que nessa fase a vaca precisa de máximo cuidado.

 

De onde vêm esses problemas?

Nessa fase (simplificada entre 30 dias antes e 30 dias depois do parto), a ingestão de alimento é mínima e só retorna à normalidade 45 a 70 dias após o parto, sua produção de leite atinge o máximo muitas vezes antes da ingestão, seu sistema digestório não estava adaptado às dietas de lactação e seu metabolismo corre contra o tempo para dar conta de recuperar o status normal (involução uterina, produção de colostro etc.). Além disso, o metabolismo animal é máximo (radicais livres) e a quantidade de antioxidantes (que lutariam contra os radicais livres) é mínima, pois o colostro também é um grande dreno dos mesmos.

 

A realidade então é: uma série de enfermidades, que muitas vezes são precificadas apenas em termos de tratamento (veterinário, antibiótico, anti-inflamatório), mas que na prática representam apenas 15-20% do custo total (Liang, 2013). E é fato que essas são as doenças mais caras da atividade. Dependendo da fonte podemos ranquear: retenção de placenta (R$1000-3000/caso); cetose (R$1500-2000/caso) e metrite (R$ 600-1200/caso) fora outros problemas já citados como a mastite pós parto e o problema de cascos pós parto (Liang, 2013).

Identificando, medindo e prevenindo

 

Apesar de já estudada há décadas esta fase ainda continua sendo o maior erro na maioria das fazendas.

Os índices de prevalência variam muito entre sistemas de produção e nível de produtividade dos animais, porém valores ótimos praticados hoje em dia nas melhores fazendas são:

<8% de retenção de placenta real

<15% de retenção total

menos da metade de sua retenção em metrite com 30 dias

<10% de cetose clínica juntamente com <25% de cetose subclínica

Além delas preconiza-se

<1% de deslocamento de abomaso

<10% de vacas mancando em até 30 dias

<20% de casos de mastite clínica nos primeiros 30 dias de lactação.

Onde está sua fazenda? Você está medindo?

 

O motivo de cada uma delas é diverso bem como sua prevenção, porém os três pilares desses distúrbios se encontram nos seguintes pontos:

  1. Conforto ambiental e térmico;
  2. Escore de condição corporal;
  3. Uso de dietas bem balanceadas.

Como já falamos, existe uma variedade enorme de doenças que afetam a vaca neste período, por isso, selecionamos as 3 mais comuns para explicarmos como identifica-las e preveni-las.

 

Retenção de placenta

A RP pode ser dividida em total (total de retenções dividido pelo total de partos) e a real ou líquida (total de retenções – total de retenções derivadas de aborto, natimorto, parto ajudado, parto de gêmeos e parto adiantado por mais de 15 dias, dividido pelo total de partos).

É importante primeiramente anotar e avaliar os dois indicadores separadamente já que pode ser que os problemas sejam sanitários (exemplo: abortos em excesso podem ser IBR/BVD – rinotraqueite infecciosa bovina e diarreia viral bovina, brucelose etc.), de manejo (excesso de partos ajudados desnecessariamente ou muitos natimortos noturnos por falta de acompanhamento) ou mesmo aleatórios (falta de sorte…).

 

Feita a devida separação e ainda assim detectando que a retenção continua alta, sobram, por ordem de importância: alto escore corporal, falta de conforto e hipocalcemia subclínica. Para detectar a falta de Cálcio no organismo pode-se lançar mão de análises de sangue, mas ainda são lentas e caras.

Uma boa maneira indireta é medir o pH urinário dos animais no pré parto (excluindo-se vacas com menos de 7 dias de entrada no lote ou menos de 7 dias da data do parto). Bons pH para dietas não aniônicas devem ser entre 6,5 e 7 e para dietas aniônicas entre 5,5 e 6,5, dependendo da ração e nível de anionicidade da dieta.

Converse com seu nutricionista para obter DCAD de -15 a -50meq/100g MS nas dietas 30 dias antes do e valores de 0,8% de Cálcio e 0,35% de Magnésio na dieta. Garanta também no mínimo 80 cm de espaço de cocho nessa fase.

O uso de níveis corretos de vitamina A (OVN® DSM), Betacaroteno (Rovimix Betacarotene®) e Selênio de alta absorção (Minerais Tortuga®) também têm efeito comprovado na redução da enfermidade.

Cetose clínica e subclínica

A cetose quando clínica é de difícil diagnóstico, muitas vezes confundido com outras doenças do período, mas caracteriza-se por animais apáticos (movimento lento e fraqueza), hálito forte, pouca produção de leite ou pouco crescimento diário de produção e baixo consumo.

Já a cetose subclínica (real perigo já que é impossível de detectá-la apenas “no olho”) pode ser diagnosticada com kits próprios (semelhante aos testes de diabéticos com fitas teste diferentes; ou kits especializados para animais) e tem sido preconizado com vacas que apresentam níveis superiores a 1,2 mmol/L até 10 dias pós-parto e para cada nível há tratamentos diferentes.

 

Sua causa é diversa, entretantotem sido relacionada ou a animais gordos (escore acima de 3,25) no pré-parto ou a animais com baixo consumo de matéria seca no pós-parto.

A existência de lote pós-parto é tão importante quanto ao do lote pré-parto nas nossas fazendas, porém é raro por dificuldade de lotear, manejo e montagem de vagão. Normalmente estes animais são jogados nos lotes “hospital” e são ordenhadas com animais em tratamento ou mastite e não se respeita linha de ordenha contaminando animais com saúde já debilitada.

Outro manejo comum é colocar esses animais nos lotes de maior produção. O problema nesse sistema se dá devido à alta quantidade de concentrado consumida nesta fase que pode levar, dependendo do desafio do lote a casos de acidose. Porém, independente da produção, a presença de um animal debilitado em um lote já com dominância definida, mesmo com espaço de cocho adequado, não permite que o animal se alimente de maneira correta – impactando em consumo de matéria seca e perda de saúde.

 

Metrite

A metrite pós-parto possui grande variação na maneira de ser avaliada e calculada. Parece ser uma unanimidade respeitar ao menos 7 dias pós-parto para fazer qualquer avaliação.

Algumas fazendas usam o critério visual (corrimento fétido, purulento e turvo), outras usam equipamentos próprios (i.e. Metricheck®) e outras esperam a visita do veterinário para no toque poder avaliar.

 

Não discutiremos aqui se a metrite é tratada cedo ou mesmo se há protocolos padrões que possam mascarar o número, mas sabe-se que esse índice pode variar imensamente entre fazendas baseado nesses fatores.

Ela é caracterizada pela infecção/inflamação do útero – mesmo sem retenção de placenta – que leva a consequências secundárias (redução de consumo etc.) levando a outras doenças e consequências diretas como o atraso na aptidão do trato reprodutor para poder receber uma nova inseminação o mais cedo possível, respeitado o período de espera voluntária (PEV). Sua prevenção tem sido extensivamente estudada ao longo dos anos e, das três doenças, talvez seja a de mais complicada tomada de decisão. Todos fatores afetam direta ou indiretamente a capacidade de lutar contra infecção do animal.

 

Alguns fatores de risco são: a) as duas doenças anteriores. Vacas com retenção de placenta/hipocalcemia subclínica têm até 8 vezes mais chance de apresentarem metrite; vacas com cetose pós-parto têm até 4x mais chance de apresentar metrite pela queda de consumo e aumento de radicais livres no corpo; b) pouco conforto ambiental e térmico (camas, limpeza etc.) c) qualquer fator que deprima consumo na fase.

Assim garantir vacas livres das doenças citadas anteriormente, garantir conforto (mínimo de 14h/dia deitadas), e, se possível, controle de estresse térmico por ventilação/aspersão e proteção de radiação solar; fornecer dietas adequadas em fibra, energia e proteína; separação do lote pós-parto por ao menos 21 dias com espaço de cocho de 80 cm ou mais, fornecimento de altos níveis de antioxidantes (OVN®: Vitamina A, E e Betacaroteno; Selênio e Zinco Tortuga®) são pontos importantíssimos.

 

Conclusão

Lembre-se: as vacas secas de hoje serão suas vacas em lactação de amanhã! E o que você tem no curral hoje, não poderá ser alterado após os erros cometidos no passado.

Avalie sua ingestão de matéria seca no período. Vacas misturadas com novilhas no pré-parto devem comer >11 Kg matéria seca por dia e no pós parto >17 Kg.

A DSM oferece as melhores soluções para esta fase e é pioneira no desenvolvimento de tecnologias nutricionais específicas para a fase mais crítica da vida da vaca. Consulte um de nossos técnicos e aprenda a fazer a correta nutrição e monitoramento desses 60 dias.

Fonte: DSM

 

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