17 ago de 2019
Brasil – Agropecuária – Quando o muito ainda é insuficiente

O Brasil tem o segundo maior rebando mundial e é líder em exportação de carne bovina, vendendo para mais de 150 países. Mas, precisa melhorar, pois está distante dos melhores índices de produtividade. Conheça um pouco da história, quadro atual e tendências do gado de corte no País

A criação de gado no Brasil tem praticamente a mesma idade da chegada das primeiras caravelas portuguesas. Registros mostram que um carregamento de bovinos proveniente das ilhas de Cabo Verde desembarcou na capitania de São Vicente (litoral do Estado de São Paulo) em 1534.

Apesar do pioneirismo paulista, a população bovina começou a crescer com maior intensidade pela Região Nordeste, a partir de 1550, quando Tomé de Sousa mandou uma caravela trazer novo carregamento, dessa vez para Salvador (BA). Da capital da colônia o gado dispersou-se em direção a Pernambuco e daí para outros estados nordestinos, acompanhando o ciclo da expansão da cana-de-açúcar.

 

Contudo, os primeiros proprietários de rebanhos não eram pecuaristas, mas donos de engenhos. Eles se serviam da carne e do leite, porém, os utilizavam com intensidade nos serviços de transportes de cargas (produção agrícola e canavieira) e de pessoas – geralmente familiares – em carroças puxadas por um ou mais animais (carro-de-bois).

Como atividade independente, a bovinocultura começou a se consolidar no Brasil por volta de 1615, depois do surgimento de feiras específicas, nas quais “qualquer um” poderia comprar as cabeças diretamente do importador e formar seu rebanho. Assim nasceram os primeiros criadores em fazendas pelo interior, explorando as áreas situadas nas proximidades de rios e colaborando no povoamento da recém-ocupada colônia portuguesa.

 

De lá para cá são quatro séculos de experiência e algumas evoluções. Na maior parte desse período o sistema de criação permaneceu tal como no princípio – animais soltos no campo – devido à abundância de terras, pasto e de água.

Com o passar dos anos, esse diferencial criou acomodação e deixou os criadores locais em desvantagem competitiva. As novas tecnologias e sistemas de produção utilizados em outros países tornaram os resultados muitos melhores em comparação aos índices obtidos em território brasileiro. É verdade que atualmente o Brasil é o campeão mundial de exportação de proteína bovina.

 

Esse posicionamento, porém, decorre do tamanho de seu rebando, com 212,3 milhões de cabeças. No quesito produtividade, o País está atrás de outras nações no ranking, tanto de carne quanto de leite.

Baixa produtividade | “Com um rebando inferior a 100 milhões de cabeças, os pecuaristas dos Estados Unidos produzem 20% mais carne bovina que o Brasil”, revela Cesário Ramalho, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB) e tradicional agropecuarista, com propriedades em Minas Gerais e Mato Grosso.

Um dos motivos desse diferencial é o sistema de criação. “Na última etapa do processo, antes da comercialização para o abate, o boi de lá é encaminhado para o confinamento, fase que acelera o ganho de peso”, explica. No Brasil, o confinamento atinge pouco mais de 10% dos 42 milhões de animais abatidos anualmente.

Cesario Ramalho,
agropecuarista, presidente da Câmara Setorial do Sorgo e do Milho do Ministério da Agricultura; integrante da diretoria da Abramilho.

Produtor com mais de 50 anos de experiência, ele defende o sistema como forma de melhorar a produtividade e reduzir o tamanho do rebando, diminuindo, também, a utilização de terras com pastagens. Atualmente a pecuária brasileira ocupa por volta de 180 milhões de hectares com os rebanhos. “Já pensou nos ganhos que isso proporciona?”, questiona Cesário Ramalho, para em seguida sugerir: “o próprio País será beneficiado por meio do aumento das divisas com exportações”.

Contudo, ao falar de investimentos na estrutura de confinamento, ele informa que os volume necessários serão muito elevados, e o produtor não tem esses recursos. E aponta a saída: “Isso se resolve com política pública. É preciso que o governo compreenda e crie linhas de financiamento. No final esse processo vai gerar ganhos econômicos e ambientais. Além do setor liberar mais terra para a prática da agricultura, poderá alcançar maior volume de proteína bovina com a metade do rebanho atual”, garante.

 

Produtor de milho e diretor da associação que congrega os agricultores desse grão no País, o líder setorial fala das estimativas do setor de dobrar a produção para garantir o abastecimento (veja mais no box “suprimento de ração”). Embora destacando as limitações financeiras dos produtores, Cesário acredita que o confinamento é uma tendência irreversível, gerando oportunidades de negócios para empresas de todos os tipos de produtos e serviços destinados à finalidade.

Aftosa e pasto degradado | Questão também delicada que, na opinião do líder merece mais atenção do poder público é o combate à febre aftosa. “O Brasil controlou, mas não erradicou a doença. Os produtores brasileiros despendem muito tempo e milhões de reais todos os anos com o processo de vacinação, incluindo os custos dos medicamentos, deslocamentos e concentração da boiada e outros procedimentos. Além disso, perdem mercado consumidor. O Japão, por exemplo, não compra do Brasil porque não aceita carne de gado vacinado”, alerta.

 

Segundo Cesário, a aftosa é um problema solúvel. No continente, americano, Estados Unidos e México estão livres de doença. No Brasil a enfermidade é controlada por meio de vacinação. “O problema pode e deve ser resolvido. E pelo tamanho do rebanho, representação e conceito internacional, nosso País tem de liderar o processo de eliminação da febre aftosa sem vacinação”, apela.

Ele também recomenda maior rigor na fiscalização das fronteiras com Bolívia, Paraguai e Venezuela para evitar entrada de animais sem vacinação.

 

Outro item que tira o sono do produtor é a condição do pasto. “Infelizmente, cerca de 120 milhões de hectares de pastagens ou estão com baixa qualidade ou em estado de degradação”, alerta Cesário. Mas, ele lembra que o cenário começou a mudar quando o governo brasileiro assumiu na ONU o compromisso reduzir os índices de emissão de gases de efeito estufa e criou o plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), com destinação de verbas para renovação dos pastos.

Enquanto mantém o ritmo lento no processo de renovação, o produtor adota a prática da integração da pecuária com a lavoura, procedimento que colabora no processo de recuperação e proporciona melhores resultados financeiros, além de ser ambientalmente mais correto. Muitos pecuaristas incluem também a silvicultura na integração.

 

Para Cesário, no futuro próximo o criador de gado brasileiro passará a ter nova visão e conceito de suas pastagens, passando a considerá-las como lavouras de pasto. E passa a dispor de novas fontes de renda com a comercialização de grãos ou de madeira – geralmente eucalipto.

Entusiasta, porém, sem perder o senso e crítico do setor em que atua, o pecuarista diz que o segmento precisa evoluir, e que muitos de seus pares têm de mudar a mentalidade. Mas, reconhece os avanços e enumera as conquistas.

“Para ter seu produto presente em mais de 150 países o criador brasileiro progrediu e se especializou; forçada ou espontaneamente teve de melhorar a qualidade da proteína, aprimorar práticas, métodos de trabalho e investir em tecnologia para provar a procedência e sanidade do animal. Afinal, são muitas as exigências ambientais e de tratamento do animal. O pecuarista foi submetido a diversas provas de fogo; teve de atender especificações de culturas diversificadas, inclusive até mesmo nas formas peculiares de abater o boi. Se chegou até aqui pode avançar mais”, garante o líder Cesário Ramalho.

 

Fonte: agroplanning

 

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