Como o valor pago ao produtor é formado depois das negociações quinzenais do leite spot (comercialização de leite cru entre indústrias) e das vendas de derivados lácteos, as cotações no campo de abril refletem o cenário de março e, por isso, ainda não foram fortemente influenciadas pela crise do coronavírus – que, vale lembrar, começou a ganhar força na segunda quinzena de março no Brasil.
Quanto ao consumo de lácteos, os impactos do coronavírus começaram a ser observados a partir de 17 de março, quando a pesquisa diária do Cepea, realizada com o apoio financeiro da OCB, registrou choque de demanda para o leite UHT. Redes atacadistas e varejistas intensificaram a procura pelo derivado, diante da forte demanda de clientes, que queriam fazer estoques por conta das recomendações de isolamento, em decorrência da pandemia de coronavírus. Com a menor disponibilidade do produto, o preço médio do UHT registrou forte alta acumulada de 24,8% no mês. A média mensal de março, de R$ 2,66/litro, ficou 11,4% acima da registrada em fevereiro, em termos reais (deflacionado pelo Ipca de março/20).
MAIO
As dificuldades no escoamento de queijos levaram ao aumento do volume de leite disponível no mercado spot em abril. Em Minas Gerais, o preço médio do leite spot caiu 7,3% na primeira e 11,7% na segunda quinzenas deste mês, respectivamente.
Ao mesmo tempo, a diminuição da frequência das compras por parte dos consumidores e a redução da renda de muitas famílias impactaram negativamente o consumo de diversos derivados em abril.
A pesquisa diária do Cepea mostrou que, de 1º a 29 de abril, os preços médios do UHT e da muçarela registraram quedas acumuladas de 15,8% e de 8,5%, respectivamente. A elevada incerteza da atual conjuntura tem impactado a decisão dos agentes em recompor estoques, dado o contexto em que não há boas perspectivas para o consumo de longo prazo, devido à diminuição da renda da população.
As negociações em queda dos derivados e do spot no correr de abril, por sua vez, indicam um cenário ruim para o preço do leite que foi captado neste mês e que será pago em maio. É preciso considerar, contudo, que a queda na receita dos produtores num momento de alta nos custos de produção e próximo ao período típico de entressafra pode refletir em aumento do abate de fêmeas e na saída de produtores da atividade leiteira. Assim, o momento é delicado, pois privilegia decisões focadas no curto prazo, o que pode trazer consequências negativas para a oferta nos médio e longo prazos – ainda mais para uma atividade tão complexa quanto a produção de leite.
Fonte: Cepea