25 maio de 2021
Brasil – Avicultura – Em crise, indústria da carne reduz peso do abate de frangos e suínos para poupar ração

Medidas drásticas visam reduzir custos de produção, que afetam faturamento do setor e deixam o produto mais caro para o consumidor

Em meio a uma crise provocada pela forte alta nos custos de produção num cenário de dificuldade para repasse de preços ao consumidor final, a indústria de aves e suínos tem adotado medidas drásticas para manter suas margens, como reduzir a compra e o peso de abate dos animais.

“Isso é bastante contingencial, não é o melhor jeito de você conseguir contornar o problema, mas é uma tentativa de reduzir a perda com o custo que a ração representa hoje dentro do sistema de produção”, explica José Antônio Ribas Júnior, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado de Santa Catarina (Sindicarne-SC).

Em vez dos cerca de 3,3 quilos habituais, as aves tem sido abatidas com até 2,9 quilos, com reduções de 10% a 15% a depender da indústria. “Isso já vem acontecendo há uns 40 dias nessa lógica de reduzir o custo de produção e é a última cartada antes de uma empresa começar a efetivamente reduzir a produção”, explica Ribas Júnior ao lembrar que a medida também tem efeitos sobre o faturamento.

“Não é uma solução que resolva o problema porque, se de um lado você retira custos, de outro você tem menos receita. Então, é uma decisão muito dura para o empreendedor e, quando ele chega neste ponto, é a decisão imediatamente anterior a começar a reduzir, de fato, a produção”, ressalta.

De acordo com o analista da Safras & Mercado, Fernando Iglesias, a estratégia é um mal necessário diante de uma estrutura de custos “extremamente pressionada”.

“Os preços da avicultura estão evoluindo bem, mas não na mesma proporção da elevação dos custos. Então, mesmo com os preços em alta, a margem continua muito apertada”, explica o analista ao revelar preocupação com o futuro dessas empresas.

Segundo Ribas Júnior, a redução de peso tem sido mais agressiva justamente entre os frigoríficos de porte médio. “É aquele cara que não é o grande o suficiente para ter caixa e fôlego, mas também não é pequeno ao ponto de ter como otimizar os custos dele e ter outras alternativas. Então, o tamanho dele, neste momento, acaba sendo o desafio maior”, observa o presidente do Sindicarne-SC.

No caso dos pequenos produtores, a atuação em mercados locais garante também uma estrutura de custos naturalmente menor, sobretudo com logística e distribuição. “Os médios já não têm essa mesma flexibilidade”, pondera o produtor.

Economia de ração

O pesquisador da Embrapa Aves e Suínos, Everton Luís Krabbe, afirma que a redução no peso de abate dos animais não chega a causar alterações significativas na conformação da carne disponibilizada ao consumidor final.

“São reduções sutis na conformação do organismo dos animais, tanto de aves quanto de suínos, que dependendo da situação o consumidor nem percebe”, destaca Krabbe. Segundo ele, em média, a redução pode gerar uma economia de até um quilo de ração por animal abatido.

Na cadeia de suínos, o cenário é o mesmo após as vendas terem decepcionado o setor no final do ano passado e no início de maio – dois principais momentos de escoamento da produção devido ao período de festas e de Dia das Mães.

“Neste ano, realmente, as vendas não foram tão boas e, devido a maior oferta de animais no mercado, os produtores estão soltando o suíno mais leve, sim – o que deve continuar ocorrendo nos próximos meses”, conta o analista do Cepea, Thiago Bernardino.

O presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivânio Luiz de Lorenzi, reconhece que a redução do peso de abate tem ocorrido no mercado, mas ressalta que não são todos os produtores que têm condições de adotar a estratégia diante de um contexto de excesso de oferta.

“A indústria faz isso, ela tem um controle maior e consegue. Agora, o mercado interno, o produtor independente, ele não consegue ficar fazendo isso”, conta Lorenzi.

No caso da suinocultura, Lorenzi explica que o impacto maior tem sido a redução do volume de compras pelos grandes frigoríficos. “A situação está bem complicada porque isso faz com que o preço caia como tem caído semana a semana. Hoje, eles ainda estão exportando, mas se reduzir a exportação eles vão, com certeza, parar totalmente de comprar no mercado independente”, observa o produtor.

Fonte: Revista Globo Rural

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